𝘕𝘰𝘯𝘢 𝘱á𝘨𝘪𝘯𝘢

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Dia dois de Maio de dois mil e dezessete.

Eu estava apresentando uma certa melhora no meu quadro clínico. No dia anterior eu não senti uma dorzinha na unha, mas a fraqueza ainda me consumia um pouco.

Hoje, um novo dia, sem enjoos e a tontura diminuiu.

-Bom dia, flor do dia- meu pai falou ao abrir a porta do quarto -O que vai comer?- continuou ao dar um gole no seu café. -Acho que já colocaram meu café da manhã cedinho- apontei para o soro que pingava lentamente.

-Sua mãe disse que vai chegar só á tarde. Até lá eu ficarei te fazendo companhia- ele se sentou na poltrona a qual havia dormido. -Gosto da sua companhia, pai- sorri para o mesmo, assim demonstrava sinceridade.

-E como estamos hoje?- o enfermeiro invadiu meu quarto, já vindo em minha direção. -Me diz você- o encarei para que fosse claro nas palavras. -Bom, ainda não temos um diagnóstico completo. Estou aguardando o médico dizer algo- ele falou enquanto puxava um banquinho de ferro. -

-Já vai começar o dia assim?- falei ao notar que ele estava escolhendo uma agulha. -Eu já volto, filha- meu pai levantou, colocou seu café em cima de uma mesinha e saiu do quarto. -Nem aquele macho aguenta ver sangue e agulhas, por que eu sou obrigada a passar por isso?- colei o papel de dramática e dengosa.

-Precisamos fazer esse exame de rotina para ter mais clareza sobre o se quadro clínico, Bellatrix- ele insistiu ao selecionar uma agulha. -Ah ótimo!- fiquei nervosa ao avistar os tubos que seriam usados na coleta. -São quantos?- arregalei os olhos ao dizer. -São só três, não se preocupe- ele ajeitou suas luvas de látex enquanto eu fiquei ansiosa com aquilo.

-Nem vai doer. É só uma picadinha e pronto- ele enfatizou ao puxar meu braço que estava sem o  acesso do soro e tentou localizar a veia. -Ah vai, vai doer sim!- avistei o tamanho da agulha. -Se você focar na agulha ou no sangue, seu nervosismo vai tomar conta de você e suas veias vão sumir.- ele me deu uma regulagem. -Então tenta focar em outra coisa e respira fundo. Ou fecha os olhos, isso resolve- .

Eu fechei os olhos com força e comecei a respirar fundo, e assim esperando a furada.

-Pronto, não falei que seria apenas uma picadinha?- ele falou ao começar puxar o sangue pela seringa. -Eu não senti nada, mas deixa um pouco de sangue no meu corpo, por favor.- abri os olhos devagarinho.

Quando me dei conta, ele já tinha terminado. -Prontinho, um adesivo das winxs para você ficar mais feliz.- sorriu levemente. -Isso é bullying, viu?!Me dá adesivo mas não me dá um pirulito?- brinquei com o mesmo e ele deu risada enquanto juntava as coisas. -Você é uma graça-

-Voltei, e com uma comidinha para voce- meu pai entrou pela porta e me entregou um misto quente e um suco de laranja. -Come e bebe tudinho porque vai ajudar a recuperar um pouco da força.-. -Concordo com ele- disse o enfermeiro -Ainda mais agora que você tirou sangue de novo-.

-Tá vendo? Escuta o papai e o bom moço ai- tentou me incentivar a comer. -Aonde é essa lanchonete?- falei abrindo a caixinha de acrílico que estava o misto. -Acredita que é na frente do seu quarto?- sorriu ao se sentar na poltrona. -Meu Deus- eu falei ao sentir o cheiro do misto quente -parece estar gostoso. Quer um pedaço, pai?- ofereci mas o mesmo balançou a cabeça de forma negativa -Eu já comi. Vou só terminar o meu café.- ele catou o copo de café e voltou a beber.

-Eu vou indo, tenho que levar isso para o laboratório. Até mais tarde, senhorita e senhor- ele jogou as luvas fora e recolheu os equipamentos.

-O misto está gostoso- falei ao dar a primeira mordida. -Fazia tanto tempo que eu não ingeria alimentos que não lembrava como era bom comer- dei outra mordida no misto e abri o canudo para implantar no copo de suco.

-Continua comendo, mas só coma até onde der- ele reforçou ao me ver fazer uma cara de enjoadinha. -Não posso pensar no mal estar, tenho que comer porque preciso comer- respirei fundo e continuei comendo mas desacelerei o processo.

-Só não come o guardanapo junto- ele falou ao me ver mordendo o papel e soltando de imediato. -Me empolguei- ri da situação e dei uma golada no suco.

-Obrigada por estar aqui, pai- eu falei ao terminar de comer o misto. -Eu sempre estarei, filha- ele me olhou e soltou um sorrisinho de alívio ao me ver melhorando. -Você e a mamãe tem me ajudado muito. Eu realmente não sei o que seria de mim sem a presença de vocês aqui- suspirei ao lembrar do sufoco.

-Nem pense em algo assim. Nós sempre estaremos cuidando de você e segurando sua mão nos piores ou melhores momentos- ele encheu os olhos de lágrimas mas se conteu para que elas não caíssem. -Eu amo você- falei com o peito cheio de amor. -Eu também amo você, minha querida- ele encheu a boca para falar aquela frase de tom fofo.

-Olha eu de novo- o enfermeiro invadiu o meu quarto novamente e já veio colocando as mãos no meu soro para regular ele. -Você gosta muito de mim, né? Não tem outros pacientes para furar?- falei ao ver ele sorrir sobre o início da frase. -É que eu passo o dia inteiro pensando em você- ele riu, pois não conseguiu sustentar o personagem. -Besta- eu acabei rindo junto.

-Se você sentir sonolência é por causa da medicação. Ela está caindo um pouco mais rápido então provavelmente vai te fazer dormir.- ele desviou o olhar para o meu pai assim que completou sua fala -O senhor me acompanha para conversarmos?-

Meu pai levantou, mas senti o seu brilho indo embora ao sair do quarto com o enfermeiro. Era um certo "desânimo" em seus rostos, ou eu só podia estar enganada.

Você tá batendo mais rápido do que eu pensava. O soro estava caindo e me levando a cochilar acordada, então coloquei o lixo da comida em cima da mesinha ao meu lado esquerdo e me ajeitei para aceitar que eu ia dormir a qualquer momento.

Dito e feito, apaguei.

𝘊𝘢𝘱í𝘵𝘶𝘭𝘰 12

𝘥𝘶𝘱𝘭𝘰 𝘪𝘯𝘧𝘪𝘯𝘪𝘵𝘰Onde histórias criam vida. Descubra agora