Capítulo Dois: Dean e Megan

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Eu, Dean, me mudei há um mês para cá imaginando que essa cidade tivesse mudado, mas me enganei. Tudo continuava do mesmo jeitinho, e só agora parei para analisar tudo. Sorrio olhando o bairro onde cresci, andei de bicicleta pela primeira vez, brinquei de pique esconde, corri atrasado para a escola, passei a primeira vez com meu namorado e... Não, de novo não.

Lembranças me invadem e eu paro o carro no mesmo instante; eu precisava respirar... Isso ainda me afeta muito.

— Pai, você tá bem? — pergunta minha filha, tocando meu braço. — É aquela coisa de novo? Ligo para o papai Miguel?

— Não... Está tudo bem, Megan eu só esqueci meu inalador de novo. — minto. — Não precisa ligar para o seu pai.

— Tá bom, pai... Obrigada por deixar eu ir na casa da Char semana que vem. — diz sorrindo e isso me traz de volta ao lugar.

— Eu disse que deixaria, só que antes não dava mesmo. - explico de novo e ela sorri concordando. — Não precisa agradecer, meu amor, mas por que semana que vem ainda?

— A Char e eu queremos preparar uma coisa bem legal! — fala, rindo agora, de orelha a orelha. — Você vai também, né?

— Papai tá ocupado filha... Você sabe.

— Ah é, tudo bem. - fala, e percebo que seu tom de voz mudou, de um extremamente feliz, para um totalmente desanimada. E aquilo acabava comigo.

— Meg...

— Tudo bem, papai. - sorri sem mostrar os dentes. — Falta muito para chegar em casa? - pergunta, tentando mudar de assunto e eu sei que ela está triste, mas não insisto.

O caminho até em casa foi num completo silêncio, ela acabou dormindo e eu a carreguei até a cama. Ao voltar para a sala, vejo Sam sentado no meu sofá favorito, jogando videogame.

— Explique-se. — falo, de cara feia.

— A Ruby! — diz, sem soltar o console e me encarar.

— Desenvolva. — continuo, com raiva.

— Ela está irritante cara, disse que tem algum trabalho muito importante, que precisa de espaço... essas coisas de mulher. — bufa.

— Certo... Mas por que você tá no meu sofá mesmo?! — Reclamei.

— Ela precisava de espaço. - repetiu dando ênfase na frase. —Então, vim para a casa do meu amigo favorito.

Reviro os olhos e desisto. É impossível às vezes argumentar com ele, pelo menos ele tinha feito o almoço, então não vou reclamar tanto. Demorei mais uns trinta minutos e então chamei a Meg pra comer. Ela toma banho, se arruma e desce correndo quando percebe que o Sam está aqui. Às vezes, eu acho que tenho dois filhos.

— Brigou com a tia Ruby de novo, tio? - pergunta ela, curiosa e ri. — Parece até meus pais...

— Na verdade é o seu pai Miguel que brig... — o cortei, antes de terminar.

— O que o tio Sam quis dizer é que às vezes, os adultos precisam conversar sério para resolver as coisas. — explico. — Por que você não conta ao seu tio as novidades?

Ela esquece esse assunto e começa a contar, animada, ao Sam, sobre ir à casa da amiga, e ele dá ideias de como elas podem se divertir e de verdade, e então me pergunto se o Sam não é uma criança em corpo de adulto.

Por isso que a Megan e ele se dão tão bem, minha filha ama conversar, e inventar coisas para se divertir e o Sam é exatamente assim.

Eu gosto de vê-la feliz. Quando a gente se mudou aqui, ela ficou triste por deixar seus amiguinhos e seu outro pai, meu "querido" ex-marido, o Miguel. Mas nós dois sentamos e conversamos com ela pra explicar, da melhor forma possível, o porquê de eu estar voltando para minha cidade natal. E que ela ainda veria o pai, sempre.

Foi inevitável e claro, difícil, porque isso tudo ainda é recente. Agradeço imensamente por essa nova amiga ter criado uma relação rápida com ela e por estarmos mais próximos de Sam, que antes vinha aqui uma vez por mês, mas agora aparecia dia sim, e dia não.

E a Megan adora isso.

Enquanto eles estão conversando, eu aproveito pra ir até a cozinha organizar o almoço, ouço as risadas da minha filha e esticando o pescoço para o lado, vejo ela fazendo massagens nos pés de Sam, por cima das meias.

Eu conheço minha filha o suficiente pra saber que todo aquele tratamento vip teria uma consequência, assim como eu também sabia exatamente o que ela ia pedir.

— Você bem podia ir comigo na festa, já que o papai Dean não pode...não é, tio?.. - ela pede fazendo bico e eu caio na risada dentro da cozinha; eu sabia que ela pediria algo. — Por favorzinho. -  continuou juntando as mãozinhas e não pude deixar de achar aquilo fofo.

— Você sabe que eu não posso dizer não a você, né? — diz e aperta as bochechas dela, de leve vendo ela concordar. — Mas infelizmente nesse dia o tio não vai poder, tenho um trabalho importante da faculdade pra fazer.

— Você ainda estuda, tio? — pergunta confusa e olha pra cozinha gritando. — Papai, por que o tio Sam ainda estuda e você, não? - sorriu saindo com um pano de prato nas mãos e encaro meu amigo de forma debochada.

— Porque seu papai é super inteligente e o seu tio Sam... Bom, é o seu tio Sam, por isso não acabou.

— Depois eu que sou o imaturo. - ele revira os olhos.

— Bem, chega de conversa e vamos pra cozinha almoçar.

D̳e̳s̳t̳i̳n̳a̳d̳o̳ ̳a̳ ̳T̳e̳ ̳A̳m̳a̳r̳ ̳-̳ ̳D̳e̳s̳t̳i̳e̳l̳ ̳V̳e̳r̳s̳i̳o̳n̳ ̳-̳Onde histórias criam vida. Descubra agora