Capítulo Quatro: Memórias de Dean

398 54 154
                                    


Ainda não acredito que estou aqui, parado no meio da sala de estar dele. Tudo parece um sonho, eu sempre imaginei um possível reencontro, mas nunca tive coragem de procurar o Castiel; nem mesmo quando voltei para cá. E quando ele disse seu nome na ligação, foi inevitável não chamar ele de Cassie e lembrar dos sorrisos que ele dava quando o chamava assim.

Quando a ligação acabou, fiquei uns segundos processando, peguei as chaves do carro e o ursinho da Meg e vim para cá, apesar da chuva ter me atrapalhado um pouco, a hora tardia, estava ao meu favor, porque não tinha trânsito. E assim que eu o olhei na entrada da porta, senti uma vontade súbita de abraçá-lo e não soltá-lo nunca mais. Entretanto, eu não tinha esse direito, não mais.

Ele volta minutos depois e me entrega as roupas secas fazendo nossas mãos se tocarem, respiro fundo e o encaro, aquele silêncio, os olhares significativos... É, realmente, às vezes, palavras não precisam ser ditas.

— Papai, papai, você veio! — somos interrompidos por uma Megan, toda agitada, que passa pelo Castiel, voando em meus braços sem notar que eu estava encharcado, sorriu negando com a cabeça e a afaguei em meu peito por alguns segundos.

— Desculpa ter esquecido de colocar ele na sua mochila, meu amor, o papai anda com a cabeça longe. — falei, abraçando ela e entregando o ursinho. — Mas agora eu preciso ir, tenho muito trabalho ainda pra fazer. Estava tirando um cochilo e já ia voltar a escrever as minhas músicas quando o Castiel me ligou, você sabe né, o papai tem um prazo pra entregar.

— Você não pode ficar, nem um pouquinho? - ela pede fazendo beicinho.

— Sinto muito, amor... Eu queria... Mas não posso, nós já conversamos sobre isso. - ele abaixa o olhar e concorda.

— Você não pode ficar? - pergunta Castiel, e eu me assusto levantando o rosto pra encará-lo mas ele desvia os olhos dos meus. — Quero dizer... pela Megan.

— Você quer que eu fique? - pergunto receoso; ele tinha mesmo me perguntado aquilo?

Ele permaneceu em silêncio e então eu continuo.

— Eu bem que gostaria... Mas tenho um prazo.

— Você gostaria? - ele pergunta ignorando o "prazo" e dessa vez ele me olha de uma forma curiosa, ou talvez, esperançosa?

— Tio Cas, pede para o papai ficar um pouquinho só!

— Meu anjo, vem cá. - ele se abaixa encarando-a. — Seu papai está ocupado e já está muito tarde, vá dormir com a Charlie, que eu prometo tentar fazer ele vir aqui domingo. Agora suba e troque de roupa porque você abraçou seu pai e ele tá todo encharcado.

Minha filha sorri assentindo, e depois de se despedir ela para em meio aos degraus.

— Tio Cas, eu prometo ser a melhor criança do mundo, se você fizer o papai largar o trabalho e ficar com a gente!

— Tudo bem, agora vá com a Charlie e tire essa roupa molhada.

Ele então me encara e eu dou um sorriso sem jeito. Eu sempre me desmonto. Esse é o efeito que Castiel Novak tem sobre mim.

— Meu Deus, e você aí também continua com a mesma roupa. - diz num sobressalto me encarando de forma aflita. — Por favor, vai se trocar antes de ir embora. O banheiro fica no final do corredor, à esquerda. - continua e se vira pra ir a cozinha. — Vou preparar uma xícara de café enquanto isso.

Concordei em silêncio e fui me trocar, o banheiro tinha o cheiro dele em todos os objetos e toalhas e quase me perdi em meio às lembranças, balanço a cabeça terminando de trocar a roupa rapidamente antes de finalmente sair.

Fui até a cozinha e ele estava sentado em uma cadeira bebendo um café e a outra xícara, na sua frente. Ele faz sinal com a mão em direção a cadeira vazia e me sento de frente pra ele. Senti meu coração acelerar agora que estávamos sozinhos de novo, mas ainda não sei como começar uma conversa. Foquei nas suas mãos e não vi aliança... Isso é um bom sinal? Eu devia perguntar? Qual é, Dean, você não é mais aquele adolescente cheio de dúvidas e medo; é só perguntar!

Fecho os olhos por alguns segundos e respiro fundo antes de falar.

— Você é casado? -ele que até então, parecia tranquilo bebendo café, se engasga e começa a tossir. Bom trabalho, Dean, você quase o matou.

— Di-vorciado... — responde ele se recuperando.

— O mesmo. - concordei e ele me encara parecendo surpreso, ele não tinha perguntado nada, mas fiz questão de deixar claro.

Não que eu tivesse alguma intenção com aquilo...

Ele limpa a garganta, olhando para todos os lugares, menos para mim.

— Acho que a Megan ficaria feliz se você viesse aqui domingo... Digo, amanhã, já que são 02:40 da manhã. - ele diz com a voz baixa. — Sei que está muito ocupado, mas você tem que aproveitar todas as oportunidades, ao lado de quem você gosta.

Eu senti essas últimas palavras queimarem na minha pele. Ele ainda está machucado e com razão, eu também estou. Naquela época, nós deveríamos ter aguentado, deveríamos ter enfrentado todos os problemas pra ficarmos juntos. Eu coço a nuca e tento mudar de assunto, falar do passado agora, só vai nos machucar ainda mais.

— Só a Megan que vai ficar feliz? - disparo a pergunta sem perceber o que tinha acabado de dizer.

Ele não diz nada e tenta permanecer sério enquanto toma o restinho do seu café, mas percebo um pequeno sorriso no canto dos seus lábios...

— Bom, está na minha hora. - digo levantando da cadeira. —Obrigado pelo café e pelas roupas... Acho que agora tenho três motivos para voltar amanhã. - continuo enquanto caminho até a porta sendo acompanhado por ele.

— Você vem mesmo?! A Megan vai amar a surpresa, mas... Quais são os dois motivos, além dela? - Castiel pergunta receoso quando paramos na porta.

— Bom, o motivo número um, a minha filha, é claro. O segundo é devolver suas roupas e o terceiro... é você. - digo rápido e antes que ele pense em fazer algo, o puxei para um abraço. Eu sabia que não ia resistir por muito tempo.

E ao contrário do que pensei, ele não me afastou, me bateu, ou disse nada, apenas me abraçou de volta e bem apertado.

— Droga! - diz ele baixinho.

— Cassie? — pergunto.

— Você ainda tem o mesmo cheiro... - fala e suspira.

— Digo o mesmo. - disse sorrindo passando meu nariz pelo seu pescoço. — É inebriante.

Estava, mais do que claro, que ninguém queria sair dali, e se pudéssemos, eu com certeza, iria parar o tempo, só para ficar ali, nos braços do Castiel e ele nos meus.

Mas infelizmente as responsabilidades nos chamam para a realidade e depois de vários minutos nos afastamos, com os rostos vermelhos.

— Até amanhã, Deanno. — diz envergonhado.

— Até, Cassie. — respondi de volta, no mesmo estado. Já tínhamos trinta e um, mas ainda não conseguíamos controlar os nossos corações em momentos assim.

D̳e̳s̳t̳i̳n̳a̳d̳o̳ ̳a̳ ̳T̳e̳ ̳A̳m̳a̳r̳ ̳-̳ ̳D̳e̳s̳t̳i̳e̳l̳ ̳V̳e̳r̳s̳i̳o̳n̳ ̳-̳Onde histórias criam vida. Descubra agora