O som da sua voz ecoou pela sala, tentando chamar mais uma vez a atenção de todos. Grace que também havia se distraído por alguns instantes, buscava anotar ideias que brotavam em sua mente, nas folhas em branco que se encontravam diante de si, na carteira miúda. Sonhadora, Grace gostava de colocar no papel tudo que vinha a mente para que depois pudesse organizar seus paragrafos em seu tempo livre. Ela sabia que isso era errado. Distrair-se das aulas, principalmente se tratando do professor Dylan Gavin.Dylan, ou Sr. Gavin como gostava de ser chamado pela classe, era um dos mais respeitados docentes da Universidade de Oxford, apesar de sua pouca idade. Deveria ter uns trinta anos, não mais que isso. Tinha o cabelo penteado de forma jovial de maneira que poderia mostrar que além de jovem, também sabia ser atraente. Usava um óculos retangular preto que realçava seu rosto marcado pela mandíbula quadrada e barba por fazer. Quando sorria, o Sr. Gavin emanava uma claridade impecável, vinda de seus belos dentes alinhados. Ele realmente era um homem que gostava de cuidar de sua aparência, e o jeito como empurrava seus óculos para cima após baixar a cabeça, fazia com que seu charme se acentuasse ainda mais.
Grace sempre olhou a grande aliança que levara em sua mão esquerda, ao fazer esse gesto. Dessa forma, Sr. Gavin seria um homem totalmente indisponível a flertes, ou qualquer pensamento impuro que possa surgir na mente dela ou de qualquer outra aluna da Universidade. E a propósito, nunca interesse algum em agir de tal forma. Apesar de sua postura firme, Sr. Gavin tinha um coração cheio de bondade e gentileza. Procurava além de docente, ser amigo de seus alunos pois gostava de entender sobre as atitudes e pensamentos de quem o rodeava, tornando-o assim, um professor completamente diferente dos demais.
Suas aulas eram descontraídas deixando de ser algo maçante, fazendo-nos aguardar por seus ensinamentos com grande expectativa. Mesmo assim, alguns alunos ainda não se davam conta da grandiosidade que era seu conhecimento, e acabavam distraindo-se com questões quaisquer.
Naquele momento, Sr. Gavin fazer menção a algum autor de obra literária que por consequência de sua distração, não saberia dizer. Grace assustou-se com o repreendimento. Não costumava ser aluna a ser advertida como os demais. Encolhendo-se em sua carteira, soltou a caneta que segurava com afinco e corou. Sua respiração estava irregular, com receio de que o Sr. Gavin podia lhe perguntar algo sobre a aula a qual não prestou atenção.
Para sua sorte, o Sr. Gavin apenas solicitou encarecidamente que todos voltassem as suas atenções para sua aula. E assim por mais quarenta e cinco minutos, a aula transcorreu sem interrupções. Ao soar o sinal de saída, todos começaram a guardar seus pertences e a se dirigir pela grande porta, qual havia um aviso de saída em vermelho.
- Pessoal, antes que saiam, gostaria que para a próxima aula, trouxessem uma espécie de redação, mas uma redação diferente. Falem sobre vocês. Suas expectativas, necessidades, sonhos, desilusões. Quero também que escrevam o que os intrigam, enfim, o que realmente enxergam ao olharem se no espelho. Tenham todos, uma boa noite.
Dessa forma, todos anotaram rapidamente o que Sr. Gavin solicitou e guardando seus materiais dirigiram-se a saída.
Grace, como era de costume, não tinha pressa em se arrumar. Era uma garota intrigante, que apesar de seus vinte e dois anos, ainda levara consigo o aspecto de uma menina tímida e inocente. Graciosidade e doçura a definiam, o que fazia com que no mundo adulto, não repercutisse tão bem. As moças de sua idade eram espontâneas, ousadas, cheias de si. Suas personalidades eram marcantes. Grace não se encaixava nos padrões de suas colegas de classe. A única pessoa que a fazia se sentir menos assustada, era seu amigo Ethan, o qual compartilhava algumas matérias e também o caminho de volta para casa.
Moravam no mesmo prédio, e desde que mudou para a cidade, foi quem a acolheu. Desde então a amizade deles era o que a sustentava, num mundo tão distante do seu. Era filha de agricultores, nascida no interior da Geórgia nos EUA, mais precisamente em Savannah.
A ousadia que brotou de seu coração, a fez querer uma vida diferente de sua família, e para isso, necessita de coragem para atravessar o Oceano Atlântico Norte e alcançar seus objetivos.
Grace chegou ao Reino Unido, logo após seu aniversário de vinte e um anos, completamente sozinha e um pouco desorientada. Carregava em seu bolso, apenas um bilhete, cujo endereço era do restaurante de um conhecido de sua gestora, já que Grace sempre trabalhou muito bem atendendo seus clientes no pequeno restaurante da Geórgia. Foi lá que ela encontrou um emprego e abrigo.
Ethan entrou na sua vida, quando passou a frequentar o restaurante Café, o qual Grace era garçonete. Os dois passaram a conversar sobre as coisas triviais, e passaram a gostar da companhia um do outro. Ethan ofereceu o apartamento que estava vazio à algum tempo, depois que seu vizinho havia se mudado para outra cidade, e Grace por sua vez, também precisaria de um lugar para morar, já que o pequeno quarto onde estava instalada, agora serviria de almoxarifado para os utensílios do restaurante que expandia cada dia mais.
Juntos, Ethan e Grace prestaram vestibular para a renomada Universidade de Oxford, a qual oferecia bolsas de estudos para alunos estrangeiros, que apresentassem notas exemplares de suas Universidades atuais. E assim iniciaram suas vidas acadêmicas juntos. O companheirismo que os mantinha, para muitos surtia suspeitas de um namoro escondido, mas não para Grace e Ethan, até mesmo porque Ethan era homossexual, e somente sua melhor amiga Grace tinha conhecimento de suas preferências sexuais.
Grace terminou de recolher seus pertences e de vez em quando olhava furtivamente para a mesa do Sr. Gavin, que também guardava seu Notebook em sua pasta de couro preta e, insistia em fazer aquele movimento com o dedo indicar para levantar os óculos acima do nariz, o que a deixava envergonhada por achá-lo tão bonito. Sorriu e sentiu suas bochechas corarem, quando ouviu seu nome da porta da sala de aula.
- Estou te esperando Grace! - Ethan, surgiu com um sorriso amigável na porta de saída.
Grace acenou com a mão, num gesto de aguarde, enquanto fechava o zíper de sua bolsa e voltou seu olhar para o Sr. Gavin, que agora também olhava para ela. Um pequeno sorriso surgiu dos lábios dele, dizendo boa noite a única aluna que restara em sua sala.
- Boa noite Senhorita O'Connor, até a próxima semana.
- Boa noite Sr. Gavin, obrigada pela aula de hoje.
O Sr. Gavin assentiu com a cabeça e mais uma vez levou os óculos acima do nariz e com sua pequena bolsa de couro, dirigiu-se pela porta, cumprimentando Ethan que ali permanecia. Grace soltou o suspiro que nem sabia que estava segurando, colocando sua bolsa em seu ombro e descendo a escadaria, encontrou Ethan escorado ao lado de fora da porta.
- Menina! Esse seu professor ainda vai matar alguém do coração com essa beleza estonteante. - Falou baixinho.
Sorriu ao lembrar o gesto que o Sr. Gavin sempre fazia com seus óculos, e também a maneira como passava a mão pelos seus cabelos perfeitos, que logo ficavam um pouco desgrenhados, mas de uma maneira muito atraente. Então cutuquei Ethan para que não pensasse coisas obscenas sobre o professor. Não podia evitar corar ao fazer isso.
- Ethan, fico constrangida por você, falando assim. O Sr. Gavin é um homem muito correto, e claro muito bonito ..., Quero dizer, muito inteligente e casado, isso mesmo, casado.
Grace baixou a cabeça, tentando esconder suas bochechas rosadas ao pronunciar aquelas palavras.
- Grace, sua bobinha! Achar seu professor bonito, não é pecado. Você não está fazendo nada errado ao elogiá-lo. Até mesmo porque é a verdade e você acabou de confirmar.
Ethan deu um empurrãozinho no braço de Grace, sorriu e assim os dois dirigiram-se rumo a suas casas. Pelo caminho, Ethan contava sobre como achava um garoto de sua sala de aula, o sonho de qualquer um e o quanto desejava poder tocá-lo. Grace permanecia em silêncio durante o trajeto, ouvindo seu amigo e tentando não pensar no Sr. Gavin.
À um ano que estava na Universidade de Oxford e de todas as matérias, a de literatura Inglesa, do Sr. Gavin era a que mais lhe chamava a atenção. Talvez pelo romantismo que nele havia. Nele, na maneira como se expressava, e em sua matéria. Muitas noites, Grace saia da biblioteca com dificuldades para caminhar pela quantidade de livros que carregava. Livros esses recomendados pelo próprio Sr. Gavin.
- Grace, você precisa maneirar um pouco na quantidade de livros que pega emprestado na biblioteca menina! Desse jeito, o que vai conseguir é uma dor nas costas. Além de deixar todos sem livros.
Ethan, sendo o cavalheiro de sempre, retirou alguns livros de sua mão e assim seguiram o caminho entre sorrisos e segredos.
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Farol de Vênus
Romance**ATENÇÃO** Contém tema adulto e linguagem imprópria. Recomendável para maiores de 18 anos. Quando uma revelação muda o rumo das coisas, irá Dylan conseguir conciliar sua vida pessoal e profissional? E depois daquele pedido? A inocência de Vênus irá...