Capítulo 4

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Dylan permaneceu por mais alguns minutos em sua mesa, com seu notebook fechado. Em sua mente pairavam assuntos relacionados às suas aulas, mas, principalmente sobre seu casamento. Não sentia mais conexão entre eles, e como Ana permanecia longe durante toda a semana, Dylan podia refletir sobre sua vida. Precisava tomar uma decisão importante. Talvez nesse final de semana pudessem conversar. Balançou a cabeça tentando voltar ao mundo atual, colocando as redações de seus alunos dentro de sua pasta de couro e dirigiu-se ao carro.

Chegando em casa, como era de costume, tomou sua dose de uísque e foi de encontro ao chuveiro para um banho reparador. Após alguns minutos, colocando um moleton confortável, Dylan resolveu olhar as redações de seus alunos como forma de distração, já que o sono era algo que não o perseguia.

Já sentado de forma confortável na sua poltrona, em seu escritório, passou redação por redação até chegar na de Grace. Seu escritório estava escuro e o que iluminava a folha escrita em sua frente era a luz do abajur que estava instalado em sua mesa.

"Uma pessoa que nunca assumiu as rédeas de sua própria vida, essa sou eu. Alguém que precisa da porcaria de uma palavra chamada coragem. Olho no espelho e vejo alguém fraco demais para lutar por ele. Ou lutar por mim mesma, que seja. Quem sou eu? Permaneço na frente desse maldito espelho que continua jogando na minha cara que eu não tenho coragem! Ele diz, você é fraca demais para ele. E eu tento de forma inútil, convencer esse mesmo espelho, de que eu posso amá-lo da forma como merece ser amado. Tento convencê-lo de que sou a pessoa certa, de que tenho sentimentos e de que posso ser forte por nós dois, mas o espelho ri. Ele sabe que minha capacidade de amar está resumida em me esconder e parecer o mais invisível possível. Será que ele tem razão? Eu posso amar, eu quero ser amada. Eu quero que ele me proteja, que ele me queira, todas as noites, todos os dias. Quero acordar ao seu lado. Quero seus braços protetores. O fato de ser virgem impede que eu possa conquista-lo? O espelho não me responde, apenas reflete um corpo sem graça e olheiras profundas pelo cansaço de um dia difícil. Suspiro desesperançosa. Oque eu posso esperar de mais um dia? Apenas que ele me olhe e talvez me note. Viro de costas e o espelho me chama de volta: Você não está a altura dele. Talvez eu concorde com você. Mas você não vai me impedir de sonhar."

Grace O'Connor

Dylan retirou seus óculos e esfregou a curva do nariz, passando após, a mão pela boca, em sinal de surpresa. Como pode a menina Grace, tão doce sentir-se desesperançosa? Fraca? Se ela soubesse a força que tem não escreveria essas palavras. Dylan passou a mão pelo pescoço, desconfortável com o que acabara de ler. Decidiu ler mais uma vez, e outra. Havia algo nas palavras de Grace que o perturbava. Levantou-se e dirigiu-se ao bar para buscar mais uma dose de seu uísque. Lá permaneceu por alguns instantes, bebendo e pensando na redação de sua aluna. O que estava acontecendo com ela? Dylan sentia afeição por Grace, talvez uma afeição diferente do que sentia pelos demais.

- Caramba Grace, o que está acontecendo com você?

Dylan perguntava em voz alta enquanto subia as escadas dirigindo-se ao seu escritório para terminar de ler outras redações que ainda restavam. Mas Dylan não conseguia se concentrar nas demais redações. Seu olhar voltava para o lado onde se encontrava a folha que chamou sua atenção. Então, recostou-se em sua poltrona e pegou novamente em suas mãos a redação da pequena Grace.

- Você é realmente diferente das demais garotas de sua idade senhorita Grace O'Connor.

Dylan suspirou com os cotovelos encostados em sua mesa de escritório. Um turbilhão de pensamentos e sentimentos estavam na mente de Dylan.

- Virgem? Virgem...virgem!

Com as mãos na cabeça, Dylan repetia insistentemente a palavra virgem, como se não fosse possível, com vinte e dois anos em pleno século 21. Gostaria de conhecer melhor a garota que agora, despertou interesse em seu interior. Tão doce, tão meiga. Tão enigmática. Dylan sentiu uma vontade descabida em ajudá-la a se enturmar, talvez conhecer pessoas novas, fazer amizade com as garotas de sua idade, já que ela sempre era muito sozinha.

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