Uma semana depois...

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Depois de dias longe da escola, na espera que eu ficasse bem pela perda, não foram suficientes. Era como ter sido atropelada por um carro e continuar seguindo a vida como um zumbi ambulante. Eu não estava feliz e nada ao meu redor fazia algum sentido. Alexia e Tony estavam indiferentes, apenas se lembrava de Violet e que sua morte fora um animal feroz enquanto ela corria pela trilha.

Uma mentira descarada que eu tinha que engolir. Toby algumas vezes vinha me fazer companhia, ele ainda não tinha tocado no assunto. Mas aquela tarde quando voltei do colégio ele me ligou, queria conversar. Meus pais não se lembravam de nada. Meu pai depois de implorar perdão a minha mãe eles reataram o casamento. Holly a mulher de papai terminou tudo ao saber que ele estava por aqui esse tempo todo, mais uma pagina virada. Juntos eles compraram uma casa na cidade. A polícia alegou que a antiga casa em que estávamos estava com uma infestação de cupins e bichos da floresta.

Petros nunca mais foi lembrado.

Papai comprou uma casa bem no centro da cidade, perto da escola, lojas e óbvio próximo à delegacia. O que de certa forma nos dava uma segurança.

Estava nos degraus da varanda quando a viatura parou no meio fio, Toby desceu segurando um lanche do McDonalds, a embalagem marrom era barulhenta. Ele sorriu ao me ver, tirou os óculos escuros e se aproximou.

— Olá moça foi aqui que pediram um conselheiro? –ele me estendeu o lanche.

— Oi Toby. –minha voz parecia preguiçosa para sair.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Então... Como você esta? –ele falou enquanto estendia o banquete no degrau, dispôs uma toalha sobre o piso e aos poucos foi distribuindo o lanche.

— Acho que bem, ainda não superei tanto trauma... –suspirei.

— E os seus amigos? –Toby me entregou a batata crocante, os olhos folha seca estavam curiosos. O olhei rapidamente enchendo minha boca.

— Eles não se lembram de nada, acham que a morte da Violet foi um ataque de animal, Adam apagou a memória deles para evitar tanta tristeza entre a gente. -Ele desviou os olhos.

— Eu sinto muito Hanna.

—Tudo bem, eu supero. A vantagem disso foi que meus pais reataram depois de tanto tempo. –sorri.

— Isso é ótimo. –ele sorriu.

— Vi nos jornais que vocês prenderam aquele cara que Petros atropelou na estrada, o que ele fez? –quis saber.

— Ele estava violando a fita na floresta, disse que precisava tacar fogo no Petros. –ele riu.

— Nem imagino por que. –sorri.

— Isso querendo ou não é um descumprimento de ética e ameaça, além dele desacatar o delegado, por isso está preso. –ele deu de ombros.

— Eu só preciso me recompor, Mike me quebrou por dentro... –mordi o sanduíche.

— Não foi culpa sua, ele enganou todo mundo! –Toby franziu o cenho.

— Eu pensei que tinha muitos amigos, mas na verdade só conhecia muita gente... –suspirei. A lembrança amarga me deixava incomodada. Toby tocou minha mão esquerda.

— Precisa fazer amigos reais em que possa confiar de verdade, eu quero que seja feliz Hanna. Isso já aconteceu muito comigo e meio que eu não ligo mais. Eu preciso que seja feliz, só assim eu vou me perdoar por ter sido um babaca com você. –seus olhos marejaram.

— Não precisa se culpar por isso. Você é um ótimo amigo, eu sei que não era isso que você queria, mas, algumas coisas precisam ser assim. –o encarei. Ele riu.

—Beleza, acabou de terminar comigo de novo.

Nós rimos, dois idiotas tentando não desabar.

Toby se despediu depois que o lanche acabou, estaria de plantão aquela noite.

— Se precisar estarei à disposição. –ele acenou. Sorri em resposta.

O sol estava se pondo, a lembrança de dias ruins sempre vinha no fim da tarde. Suspirei alto para mais um dia se insônia. Os medicamentos para me acalmar nem sempre faziam efeito, mas eu insistia em tomá-los e me enganar de que servirão para tratar meus traumas.
Samantha não me perturbou mais, na verdade todos me evitavam. Meus dias seguiam solitários e muito pensativos, queria que Adam estivesse aqui.

Seu plano saiu como ele planejou. Ele reagiu à abordagem da polícia e um tiro acertou seu peito, Toby tentou salvá-lo, mas quando chegou a tempo de segurar sua mão...
Adam sorriu se despedindo.
As chamas eram quentes e seu corpo se desfez em segundos conforme ele havia me falado. Toby me avisou pelo telefone completamente em choque. Ele ficou sem reação durante uma semana, estava extasiado e talvez se sentindo culpado por não ter conseguido falar com ele antes que Samuel atirasse. Um tiro certeiro que o derrubou de imediato. Passei uma noite em claro chorando. Mas, eu sabia que ele estava livre.

Foram dias de muita chuva e medo. A faculdade em que me ingressaria ano seguinte ficava em outra cidade, me passou pela cabeça que talvez eu tivesse a paz de espírito. Decidi ir de ônibus durante essa fase da minha vida, assim eu teria mais tempo para pensar, para suspirar fundo. Um carro naquele momento seria uma prisão.

Desde que Mike foi preso naquele hospital, sinto que todo mundo no ônibus me observa, algumas pessoas por simpatia claro, prontas para me entregar um lenço a qualquer momento, mas outras como se eu tivesse me tornado perigosa.
Como se eu tivesse o gene ruim no sangue, como se minha vida triste pudesse ser transmitida por contato visual. Como uma doença.

É... que se danem!

Não faz sentido eu ficar brava. É improdutivo. Eles ainda não entendem. Explicar não era o meu forte, eu seguiria o caminho, afinal a vida continua.


                                                Fim.

Lado Sombrio {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora