XVII

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    Você saiu do banheiro cambaleando. Seus olhos ainda estavam vermelhos e inchados pelas horas de lágrimas derramadas. Não tinha idéia de quanto tempo ficou alí, mas analisando através da janela aberta, notou que o sol já havia sumido a muito tempo. Um barulho vindo do primeiro andar tirou-a dos pensamentos. Descendo as escadas, o aroma inconfundível de biscoitos recém assados invadiu suas narinas. Adiante, sua tia aguardava-a na sala com uma bandeja repleta por deles.

—Pensei que estivesse dormindo. - Ela comentou esboçando um sorriso.

—Bem, quase isso. - Você disse sem muito ânimo.

    Jogando a toalha, que pendia em seu ombro, sobre o cabideiro, catou um biscoito e mordeu-o.

—S/N, você está bem? - Sua tia questionou, nitidamente preocupada.

—Estou.

—Você parece tão diferente. Você perdeu até o brilho no olhar.

—Eu estou normal. - Você respondeu, ignorando totalmente as questões de sua tia.

   Deixara seu celular carregando sobre o criado. A bateria não estava 100%, porém o suficiente para usá-lo. Você enviou uma mensagem para (N/A) que prontamente respondeu:

Vamos sair?

Claro, passo aí já já.

Blz, esperando. ( Figurinha aleatória )

    Sua tia tagalerava do quanto você havia mudado neste meio tempo. Não queria falar sobre isso, sentia que choraria a qualquer momento. Você suspirou impaciente, virando-se para ela.

—Vou sair com N/A. - Você soltou de repente.

—Mas agora? Está tarde.

—Não são nem 19:00 ainda.

—É perigoso. Ainda mais para você que perdeu a memória. - Percebendo o peso das palavras, sua tia retratou. Embora agora já não ouvesse retratação. —O seu sequestrador poder estar por aí, esperando a pequena oportunidade de toma-la novamente.

    Era sempre assim. Ela sempre lembrava-a do seu acidente, usando-o como desculpa para tudo o que desejasse fazer. Embora amasse sua tia, odiava o fato de ela estar prendendo-a a maior parte do tempo. Você sentia-se sufocada com toda aquela pressão e falar sobre a perda de memória piorava tudo.

—Eu sei. Eu perdi a memória, não precisa me martirizar com isso. - Você irritou-se. —Eu não lembro o que vivi nesses meses e até me assusta pensar, mas minha vida não pode parar. Mesmo que eu continue vagando no escuro, não deixarei de viver. Eu quero mais é que esse sequestrador se foda!

—S/N, querida...

—Não tia, já chega de me esconder embaixo das cobertas com medo do mundo lá fora. Estou indo.

    Você pegou seu celular e saiu porta a fora, deixando-a sozinha. (N/A) esperava-a do outro lado da calçada, ela alarmou-se preocupada ao ver-te furiosa. Não estranhou sua chegada repentina, já que moravam no mesmo bairro.

—S/N, o que aconteceu? - Ela questionou, notando seus olhos vermelhos. As lágrimas ameaçando rolar.

—Só vamos sair daqui logo, tá? - Você pediu com a voz por um fio.

    (N/A) não insistiu, ela te conhecia o suficiente para saber que não era um bom momento para fazer perguntas. A amiga limitou-se a acenar positivamente e entrelaçou o braço ao seu. Vocês seguiram pelas ruas, diretamente para uma sorveteria não tão próxima.

Kill Me, Jeff The KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora