XI

8.5K 785 764
                                    

   


    Raios de sol invadiam a saleta por entre as frestas no telhado. Você permaneceu sentada a noite inteira, sem sequer mover um músculo. Jeff também não saira do quarto, o que preocupou-a.

    Você arrastou-se, repousando a cabeça no sofá. Estava deprimida e sequer sabia o motivo, ou talvez sim, apenas recusava-se a aceitar. Ademais, viu-se interrompida por ruídos ao longe, entretanto, não moveu um músculo para averiguar. Passos ecoaram no corredor, tornando-se mais nítidos a cada segundo. Você sentiu uma presença de pé atrás de si, embora já soubesse de quem se tratava.

—Jeff... - Você murmurou olhando-o de soslaio.

    O Killer sentou-se sobre o estofado, encarando-a. Suas olheiras ainda mais profundas e demarcadas.

—Por que não foi embora? - Ele questionou, sua voz ainda mais rouca que o habitual.

—Não sei... - Você balbuciou com a voz também por um fio.

     Jeff suspirou pesadamente. Ele ergueu-se novamente. Você limitou-se a observa-lo fazer sabe-se lá o que. E para sua surpresa, o garoto agarrou-a pela cintura, erguendo-a. Nos braços do Killer, você mais parecia uma boneca de pano.

—Sua idiota. - Ele xingou. —Nunca mais faça isso.

—Você não vai me bater? Me jogar no porão? Ou sei lá, me chamar de inseta? - Você estranhou, enquanto ele sentava-a completamente sobre o sofá.

—Eu prometi, não foi? Diferente de você, eu cumpro com a minha palavra.

    A indireta, direta, atingiu-a em cheio, mas não tinha ânimo para discutir sobre. Ele sentou-se ao seu lado, seriamente reteso.

—O que pretende fazer agora? - Você questionou.

—Eu deixei-a ir, e mesmo assim você ficou. - Ele comentou. —Responda-me você.

—Ontem, você não me feriu. Eu não sei o que pensar, talvez eu esteja ficando louca ou algo do tipo. Mano, nem sei o que eu tô falando. - Você riu desconcertada.

   Jeff não sorriu como de costume. Suas orbes azuis celeste estavam vermelhas e vazias, semelhante a quando conheceram-se. O Killer observou-a silenciosamente, fazendo-a questionar-se de sua atitude na noite passada. Em outra ocasião, ele a teria jogado no porão e arrancado suas pernas com um machado. Ademais, o contrário do que esperava, superando as expectativas, concedeu-lhe a liberdade sem nem exitar.

    Ele reclinou-se quebrando a distância e invadindo seu espaço pessoal. Seu cerne era uma máscara indistinguível. O mancebo ergueu o braço repousando-o no encosto do sofá, ao lado do teu rosto. Sua sombra cobriu-a. Ele baixou o olhar, encarando-a, os longos fios de cabelo negro bagunçados pendiam sobre a testa do mesmo.  Você tinha medo do que poderia acontecer, Jeff perdera o apreço que sequer começara a ter por ti. No entanto, após o breve silêncio incômodo, ele falou:

—S/N. - Jeff chamou-a. Não havia vestígio algum de carinho em sua voz. —Diga logo de uma vez.

—Veja bem. Depois de tudo o que você me fez é difícil engolir toda essa história. Eu não consigo esquecer, ainda sinto a dor me ferindo... - Você falou tocando a mandíbula. —Por favor, não me machuca mais.

—Eu não vou. - Jeff murmurou aproximando-se. —Eu quero mudar.

    Você recuou, sentindo as costas contra o estofado do braço do sofá.

—Não sei... - Você rebateu desviando o olhar. —Palavras são fáceis de serem mudadas.

    Você ouviu-o suspirar pesadamente. Jeff não insistiu mais. Ele ergueu-se deploravelmente, arrastando os pés no assoalho enquanto afastava-se. Em seu íntimo sentia a necessidade de revidar, não poderia deixar as coisas como estavam. Não queria mais fugir, desta vez enfrentaria o problema de frente.

—Espera. - Você retrucou, agarrando a barra da blusa negra.

    Jeff entreparou em remanso. Tomando coragem, você finalmente falou:

—Eu quero ficar... - Você confessou. —Mas tenho condições a impor.

    Repentinamente, o único som na sala era a respiração ruidosa de ambos. Jeff girou nos calcanhares, voltando a sentar-se.

—Sou todo ouvidos.

—Se você quer mudar, comece fazendo as coisas direto. Sem sequestros repentinos, sem torturas e ameaças. - Você estabulou cautelosamente, estava pisando num campo minado. —Eu voltarei para minha casa, ao lado de minha tia. Estar aqui faz-me ter ânsia. Me sinto presa.

—E em quê isso me beneficia? - Ele contestou.

—Chegamos ao nosso ponto principal. Vamos agir como pessoas normais em um relacionamento normal. Mas não podemos viver assim, quando estou aqui após ser sequestrada.

    Ele virou-se para ti e delicadamente tocou tua mão.

—Tudo bem. - Jeff balbuciou.

—Como?

—Eu prometo. - Ele disse-lhe literalmente implorando. —Se um dia eu machuca-la novamente, eu me mato!

—ÊH... Espera aí, não é pra tanto cara. - Você cortou-o. —Eu mesma mato você

    Jeff não pôde ocultar um sorriso. Embora impassível, ele concordou. O cerne frívolo de outrora suavizara.

—Tudo bem, você pode me matar, mas... - O Killer puxou-a contra si, envolvendo-a num abraço. —Não me abandone outra vez.

—Prometo. Mas se você tentar alguma gracinha...

    Não pôde terminar a frase. Jeff ergueu seu queixo. Ele olhou-a por uma fração de segundos, selando seus lábios aos dele. Era um beijo calmo, o suficiente para provocar-lhe arrepios na pele.

—Por favor... Tenha paciência comigo... - Ele falava entre os beijos. —Eu prometo cuidar de você... - Ele disse dando-lhe um último selinho, finalizando o beijo.

    Ambos estavam corados. Você não sabia o que responder, não imaginou que chegasse a este ponto. De todas as possibilidades que fantasiara, está havia superado todas as expectativas.

—Jeff... Eu não posso te dar tudo... - Você falou repentinamente enfiando o rosto no peitoral do Killer.

—Shhh... - Ele balbuciou acariciando suas costas. Jeff repousou o queixo sobre sua cabeça, deitando-se junto a ti no sofá estreito. —Você já é meu tudo. - Ele sorriu fechando os olhos.

    Quando menos esperou, Jeff resonava pacificamente. Ouvindo as batidas compassadas de seu coração, sentiu as pálpebras pesarem, finalmente dando vasão ao sono.

Kill Me, Jeff The KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora