XVI

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    O sol já estava a pino. Você virou-se de lado, vizualizando a tela do celular que marcava meio dia. Não fôra para a escola, alegando uma enxaqueca aguda que ameaçava desmaia-la. Talvez houvesse exagerado um pouco, mas a dor nas têmporas continuava presente alí. Ultimamente tú tinhas sonhos estranhos, na maioria das vezes um homem aparecia neles, entretanto, nunca conseguia vizualizar seu rosto. Você sabia que conhecia-o. A figura indistinta adquirira hipnotizantes olhos azuis glaciais, tão frios quando o gelo, embora sedutores demais para ignora-los. Você bateu na própria testa ao dar-se conta de que seus pensamentos levavam-na para outro lado, o de seus desejos sombrios.

—S/N querida, estou indo. - Sua tia invadiu o quarto, assustando-a.

—Tia, bata na porta por favor! - Você respondeu, repousando a mão sobre o peito. O corpo continuava quente, não sabendo dizer se tratava-se do calor de meio dia ou daqueles misteriosos olhos.

—Desculpe. Enfim, tome cuidado. Verificou a janela? E as portas?

—Cinco vezes.

A mulher acenou positivamente, aproximando-se. Ela depositou um rápido selar em sua testa, marcando-a com o batom vermelho.

—Tem certeza que ficará bem sozinha?

—Tia, eu sei me cuidar. Relaxa.

—Tudo bem, até mais querida. Não abra a porta para ninguém.

—Até. - Você despediu-se, esfregando a mancha do cosmético escarlate.

    Você observou-a ir-se, deixando a porta entreaberta. Sua tia ocuparia-se o dia todo, isso significava que estava livre por pelo menos algumas horas. Uma idéia insana surgiu em sua mente. Você correu para a janela, procurando através do vidro o carro estacionado na garagem aberta. Ela não levara-o, na realidade, sua tia mal o usava, apenas para acompanha-la a escola. O bairro que viviam era simples e prático, andar a pé tornara-se comum naquele ambiente. Vez ou outra alguém se metia a ciclista, mas não passava disso. No fim, sua tia sempre preferia fazer caminhadas até o trabalho que não era longe.

    Você hesitou por alguns instantes, nunca havia desobedecido ordens antes. Entretanto, contrariou seus temores. Você retirou a camisola que usava, enfiando-se numa jeans skinny azul e uma regata básica branca, amarrou os cabelos que não viam um pente a um tempo e retirou-se do quarto calçando, desengonçadamente, os vans nos pés. Ignorara o banho, de qualquer maneira se sujaria.

    Todas as portas e janelas foram devidamente trancadas. Para tua sorte, as chaves jaziam sobre o balcão, então não viu problema em furta-las. Após aguardar alguns minutos para que sua tia estivesse longe, você saiu de casa, fechando o cadeado atrás de sí. Estacionado na garagem o Renault Clio, de cor prata, reluzia contra o sol do meio dia. O automóvel era de segunda mão, embora ainda aparentasse um bom estado. Ademais, seguiu até o mesmo, praticamente jogando-se dentro. A algum tempo, desde que retornara a vida comum, observava sua tia manuseando o carro e no verão passado aprendera um pouco com seu primo. A maneira dela não parecia ser difícil, assim esperava. Você agarrou o volante, aspirando pesadamente o ar. Sofrer um acidente poderia ser menos perigoso do quê a loucura que faria, tinha apenas que torcer para que a fiscalização não parasse-a por aí, ou isso lhe custaria uns bons anos de castigo.

{ ... }

    Com dificuldade, você vagou pelas estradas quase desérticas. Vez ou outra, sua falta de experiência no volante fazia-a derrapar bruscamente. O carro movia-se tão lentamente que chegava a causar-lhe tédio. Procurando na mente, lembrou-se vagamente das informações dadas por sua tia sobre o lugar no qual fôra deixada. Tratava-se de uma via, próximo a um bosque. Seria uma localização literal demais, entretanto, para o seu alívio, havia apenas um único bosque naquela cidade e você sabia bem onde encontra-lo.

Kill Me, Jeff The KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora