Creative from Dusk to Dawn

Soluço - Português

  Talvez voltar para casa a pé não tenha sido a minha melhor ideia. Bem, que seja. Eu preciso dessa caminhada. Ponho meus fones de ouvido e dou play na playlist favorita dele.
  Pela primeira vez, não tenho medo de andar sozinha na rua tarde da noite. Na verdade, não sinto nada além de saudade, e da dolorida nostalgia e sensação de vazio que vêm com ela. Milhares de lembranças inundam minha cabeça ao mesmo tempo em que lágrimas escorrem pelo meu rosto.
  Mesmo agora, depois de alguns meses, sinto a falta dele como nunca senti antes. Droga.
  Vestida como a fada mais deprimida do mundo, faço meu caminho até minha casa. Pelo menos as ruas estão vazias. Quanto menos gente para encarar minhas asas tortas e minha maquiagem borrada, melhor. Eu já não gostava de festas à fantasia antes, agora então...
  Ver ele dançando no meio de toda aquela gente, como se nós nunca tivéssemos existido, foi, no mínimo, torturante. Se eu pudesse ser qualquer pessoa, eu seria ele. Talvez assim eu entendesse as coisas que ele faz. Me colocaria nos sapatos dele e aprenderia a trancar minhas emoções numa caixa, do jeito que ele sempre fez.
  Mas agora eu tenho esse sentimento horrível no meu peito. Meu coração pesa como se cimento tivesse sido derramado em mim, com todas essas memórias que eu simplesmente não consigo conter, e ele não está mais aqui para compensar tudo isso. Porque ele não é mais parte da minha vida e nós dois agimos como se nunca tivesse sido. Como se todos aqueles meses nunca tivessem acontecido.
  Só que eles foram reais.
  Eu me lembro de quando andamos pela cidade e ele me puxou até o telhado de um arranha-céu. Nós passamos a tarde inteira lá em cima. Conversando, rindo e brincando. Fingindo que éramos deuses controlando as vidas das pessoas, que lá de baixo, pareciam formigas.
  Estaria mentindo se, é claro, eu já não estivesse antes. Dessa vez nós realmente ferramos com tudo.
  Eu me pergunto o que ele vai fazer hoje á noite. Se vai sair daquela festa com outra garota, se vai voltar para casa sozinho, ou se nem vai dormir em casa. Será que ele pensa em voltar e me beijar? Eu sei que tenho saudade do gosto de seus lábios e de como eles eram macios nos meus.
  Quem sabe? Pode ser que tenha sido ele esse tempo todo. Pode ser que ele seja o amor da minha vida, minha alma gêmea, o único para mim. Me apavora que, se for ele mesmo, eu o tenha perdido de vez. Nós tínhamos algo. Algo muito bom. E agora não temos nada. E não tem nada que doa mais do que o vazio que ele deixou em mim. Apenas, talvez, saber que me perder não tenha deixado nenhum pedaço faltando dentro dele.
  Acho que o que mais sinto falta é da sensação quentinha de ter alguém comigo, independentemente do que acontecesse. Aparentemente, não tão independente quanto eu costumava pensar. Mas acredito que ser parte de algo, e melhor ainda, ser a metade de algo, era o que fazia as coisas ainda mais incríveis. Era sobre o sentimento de ser importante para ele, que significava tanto para mim. Sobre ter alguém que precisava de mim por perto, tanto quanto eu precisava dele.
  Por que, logo agora que tudo acabou, logo agora que ele está fora da minha vida, eu sinto saudade dele, desse jeito absurdo e avassalador que sinto? Deve ser por isso mesmo. “Porque damos mais valor às coisas depois que as perdemos”. Pelo menos é isso que minha mãe sempre disse.
  Tento pensar nas coisas que nos trouxeram até aqui. Até nossos corações quebrados. Quem sabe, assim, minha alma e meu coração voltem a se tranquilizar. Mas nós batemos em um obstáculo, em uma discussão final. E por orgulho não conseguimos superá-lo. E agora, em um soluço, ele seguiu em frente. Da mesma forma que ele faz desde sempre, sem nem parar para me escutar.
  Só que se eu pudesse ter qualquer um, seria ele. Sempre foi ele. Agora eu consigo ver apesar de ser tarde demais. Porque eu o deixei ir. E daqui em diante, não será ele nunca mais.

-nina :)

a/n:
🇺🇸: story inspired in the song Hiccup, by Valley.
🇧🇷: história inspirada na música Hiccup, da banda Valley.
🇪🇦: história inspirada en la música Hiccup, de Valley.