Capítulo 8

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Quase chega a ser engraçado a curiosidade do Marcos em relação a bíblia, e a Deus, e a igreja, são tantas perguntas...

_ Então me deixa ver se eu entendi. Eu posso continuar ouvindo minhas músicas? Tudo bem esse monte de tatuagem? O que mudou então!? - ele se quer tocou na comida.

_Eu te pergunto, o que mudou? Seja sincero o que mudou? - devolvo a pergunta porque quero muito que ele pense a respeito.

_Me sinto mais leve, mais feliz talvez? Não consigo explicar, é algo que vem de dentro. - ele diz finalmente colocando um pouco de comida na boca.

_Exatamente! É no seu interior que Deus está interessado Marcos, no amor que carrega aqui. - aponto para seu peito. Um sorriso lindo se abre nos lábios dele, é perfeito. Ele é realmente muito bonito apesar de ser muito diferente das pessoas que fazem parte do meu ciclo de amizade.

Ele se inclina e me beija, sempre doce e suave. Marcos é carinhoso e tão cuidadoso comigo me sinto cada dia mais apegada a ele e sua companhia... Não acho que sejamos um casal algum dia, mas aprecio cada momento que passamos juntos.

Sei que nunca vamos passar de amigos coloridos.

_Você é muito inteligente e é linda! - ele sorri - um pacote completo.

Nego com a cabeça e encho a boca de comida. Ele me deixa sem graça com esse comentário e parece gostar disso.

_Como seus pais estão? - pergunto mudando completamente de assunto.

_Bem... - ele mastiga devagar enquanto me observa. - minha mãe perguntou quando vou levar você para um almoço de domingo. - ele dá ombros.

Isso parece algum tipo de programa para namorados. Será que a mãe dele pensa...

_Não precisa ir se não quiser... Você sabe, ela só está querendo conhecer melhor minha... Meus Amigos. - Ele se corrige e eu fico na dúvida do porque isso me deixou com um sentimento estranhamente ruim. Marcos fica em silêncio e o clima fica bem estranho, talvez ele espere uma reação minha.

_Podemos ir na próximo domingo se quiser...

Sabe quando você fala algo e no minuto seguinte se arrepende?

_Acho que seria muito bom! Quem sabe sua mãe não vai?

_Ela... - respiro fundo, desde que meu pai morreu ela anda triste, deprimida e parece que nos últimos dias, depois que soube que o rapaz que matou seu marido morreu... Ela tem estado ainda mais triste. - ela não vai. Eu já te falei... Ela está... Doente.

_Sim você falou. Posso convidá-la eu mesmo, se você não se importar...

_Eu não me importo. - dou de ombros.

Na verdade eu me preocupo um pouco. Minha mãe teve um mini surto quando viu Marcos. Ela considera ele um tipo de presidiário, fugitivo, assassino ou coisas do tipo, alguém que está se escondendo na igreja e que nunca teve intenção de mudar. Não que haja pessoas assim.

Voltamos a comer em silêncio, minha mente trabalha o tempo todo penso se quero mesmo continuar com isso, se ele pensa que somos namorados, se ele quer ser meu namorado, acho que não estou pronta para um novo relacionamento, tem um mês que terminei com Pablo. Olho para ele e suas tatuagens... Uma delas me chama atenção, uma cruz que parece sangrar um garotinho de joelhos e o que parece ser uma mulher e uma menina de costas para o gatinho e a cruz. Marcos passa a mão sobre a tatuagem provavelmente me pegou olhando e eu levanto meus olhos para ele.

_Eu me sinto como um garotinho, como esse desenho, cada vez que me lembro do meu passado, tirei a vida de homem, ele tinha família, tinha filhos, esposa. - seguro a mão dele para mostrar meu apoio. - eu não queria ter feito o que fiz. Foi sem querer, eu era uma garoto, estava nervoso, disparei por reflexo. Penso nos filhos desse homem, eu tenho meus pais e eles cresceram sem o deles. Nunca vou me esquecer. Se pudesse pedir perdão, se pudesse voltar e consertar o que eu fiz.

_Marcos... Não tem como voltar, você se arrependeu, ponto. Talvez a criança já tenha te perdoado, eu perdoei o assassino do meu pai, de todo o meu coração. Acabou. Eu queria que ele estivesse aqui? Sim, queria muito, porque meu pai me faz uma falta imensurável sabe, acho que ele gostaria de você. - dou um sorriso meigo e acolhedor, meu pai adoraria conhecer Marcos, seriam amigos. - Você tem que se perdoar, pode ser que nunca tenha chance de pedir perdão, então se perdoa e siga em frente.

_Não sei se consigo fazer isso. - ele sorri com os olhos cheios de lágrimas e empurra o prato. - Ele não vai comer mais e eu também não.

_Conheço alguém que teria prazer em te ajudar...

_Quem?

_Jesus.

_Tem certeza? Porque as vezes acho que nem ele me quer...

...

Estava sentada no sofá ao lado de Marcos víamos um filme na TV, enquanto ele fazia um carinho na minha mão direta. Dona Amanda faz alguma coisa na cozinha e o cheiro gostoso chega na sala, é um clima descontraído, me sinto em um lar se verdade. Seu Afonso faz um comentário ou outro do lado do sofá, o homem ao meu lado sorri, ri, parece uma pessoa normal.

Eu tenho vindo muito aqui nos fins de semana, seja para almoçar ou passar alguns minutos na parte da tarde, para minha mãe estou na casa da Carol, por algum motivo ela não gosta do Marcos.

O almoço é posto na mesa, eles conversam, falam da faculdade que o filho está se formando e eu nem sabia que ele estudava. Ele fala sobre o futuro, sobre sua vida profissional. As poucas perguntas que me fazem eu respondo educadamente.

Um momento constrangedor chega, não sou eu ou ele o assunto, mas nós, nós dois juntos. Nem se quer falamos em ter um relacionamento e senhor Afonso já fala sobre o tamanho do apartamento do filho e todo espaço que nossos futuros filhos vão precisar ter.

É meio bizarro e constrangedor. Não sei de onde eles tiraram essa ideia porque nós nem nos beijamos quando estamos aqui.

Acho graça do casal que aparentemente me querem como nora, eu até tentei negar mas fui ignorada pelos três, o pior é que toda vez que me nomearam como sendo namorada, Marcos não os corrigiu.

O almoço termina eu ajudo a lavar louça a sobremesa é servida começamos a falar sobre minha infância, a ausência de irmãos, como foi difícil para aquela família superar o vício do filho, Marcos conta sobre as overdoses. O tempo que foi usuário.

Ouço os pais dele falando de uma namorada que ele teve na época e eu sinto o bichinho feio do ciúmes me apertar o peito.

Quando entro em casa estou me sentindo tão bem. Consigo me ver num futuro como sendo parte daquela família ainda que não sendo namorada do Marcos.

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