Capítulo 6

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Me sinto sujo. É estranho dizer isso, mas é exatamente como me sinto. Sujo, indigno, incapaz... Estou tentando fazer uma oração a algum tempo e tudo que consigo pensar é em como eu fiz escolhas erradas no meu caminho. Eu quebrei um dos mandamentos! Cometi um crime! Matei uma pessoa.

Se eu pudesse voltar atrás e fazer as coisas direito, fazer as escolhas certas, deixar as más companhias, obedecer aos meus pais...

Respiro fundo repetidas vezes. Por que é tão difícil falar com Deus? Aliás, Deus realmente existe? Será que Ele se aborreceria com o que tenho a dizer? Será que me perdoaria? Eu mesmo não me perdoo por que Ele faria isso?

Desisto de tentar, melhor deitar e dormir!

"Deus se você realmente existe e se pode me perdoar gostaria que me avisasse de alguma forma, porque é complicado acreditar na existência de algo que nem posso ver..."

Acordo com César na minha cabeça. Ele está preso há alguns anos, um dos crimes pelo qual foi acusado é justamente o que nunca cometeu. A morte do homem com a menina. A menininha que viu o pai morrer na sua frente, deve ter sido bizarro, marcante, chocante de mais para uma criança. Se eu pudesse mudar o que eu fiz, pedir perdão.

Decido ir visitá-lo, algo que eu nunca fiz, depois de passar algum tempo trancado na reabilitação eu não quis rever os velhos amigos. Porém de alguma forma a notícia da prisão de César chegou aos meus ouvidos.

Ele assumiu a culpa por seus crimes e pelo que não cometeu, meu ex-amigo não abriu a boca e não agiu como x9. Assumiu a culpa e somando seus crimes terá que cumprir trinta anos, quando sair da cadeia já estará velho de mais para viver qualquer coisa.

Entrar num presídio é a pior sensação que já vivi. Se eu achava a clínica ruim com certeza não tinha ideia o que era um presídio. Sentado nos fundos de um lugar que parece um refeitório está César, muito mais magro do que consigo me lembrar.

_Oi cara. - ele diz primeiro, antes que eu me sente. Sorri como nunca tinha visto. Sua expressão serena contrasta com sua aparência debilitada.

_Oi. Eu... Como você está? - o que você diz a alguém que não vê há quase dez anos?

_Veio me ver... - ele desvia da minha pergunta - Nunca pensei que te veria novamente. Você é a pessoa que faltava, teria te procurado se não estivesse trancado aqui dentro. Tenho que te pedir perdão por tudo que fiz, me perdoe por te dar drogas e incentivar a usá-las, me perdoe por ter te carregado para a vida loca. Eu não sabia o que estava fazendo. - César tem os olhos cheios de lágrimas e isso me emociona porque mesmo que esteja falando rápido eu sei que está sendo sincero.

_ Você não tem que se desculpar César, eu aceitei, em todas as vezes que usei ou te acompanhei foi por escolha. Não tenho do que te perdoar. Tenho que pedir perdão por te deixar aqui respondendo por um crime que você não cometeu.

_Eu levei você brother, eu te dei uma arma mesmo sabendo do risco, eu mandei que apontasse o ferro na direção do homem. Você pode ter puxado o gatilho mas fui eu quem matou o homem... - ele faz silêncio durante algum tempo, não sei o que dizer por isso fico em silêncio, toda essa situação é nova. - A filha dele esteve aqui tem alguns anos, - César volta a falar cortando o silêncio, tem um sorriso simples nós lábios secos - ela disse que me perdoava e eu acreditei nela, a garota orou por mim! Acredita nisso? Ela pediu a Deus outra oportunidade, pra mim. Mas, eu sei que não vou sair daqui, já me conformei com isso cara, eu só queria pedir perdão a todas as pessoas que eu ferrei nessa vida. Você é o último.

_Eu te disse que não tem o que perdoar, se te faz feliz, eu te perdoo por tudo que acha que devo te perdoar, não tenho nenhum rancor. - César sorri em resposta. - A comida daqui é tão ruim quanto dizem? - Tento mudar de assunto.

_Não, não, é boa. Saudável. Sempre tem uma sobremesa, eu gosto dos dias em que vem pudim Rômulo me dá o dele quase sempre. - o homem vestido de laranja sorri - Ele tem sido meu conselheiro depois que me converti.

_Converteu? Virou crente? Por isso estava pedindo perdão? - minhas perguntas soam como deboche, não era essa a minha intenção.

_Sim, exatamente isso. Conheci a Cristo aqui na prisão, fui salvo, fiz a melhor escolha de toda a minha vida. - César tem os olhos brilhando e cheios de um sentimento que não consigo compreender.

_Eu tô indo na igreja... - solto sem nem mesmo entender o porquê.

_Isso é muito bom... - ele responde e me analisa um longo tempo.

_Não sei bem se é, não acho que Deus possa me perdoar. Eu matei alguém, você sabe. - olho para minhas mãos sobre a mesa incapaz de olhar nos olhos do homem a minha frente.

_Sei que você estava nervoso, foi um acidente, quase se matou logo depois de tanto pó que cheirou. Se arrependeu. Deus já perdoou você, agora é você que precisa se perdoar, você é um cara bom Marcos.

_Eu queria poder pedir perdão a garota, ferrei com a vida dela. Imagino como deve ter sido crescer sem o pai.

_ Ela me disse que sente falta do velho, o cara era um bom pai... Sabe o que ele disse a garota antes de morrer? - nego com um balanço de cabeça ainda sem olha-lo - Não se esqueça de perdoar e nunca deixe a Cristo.

_Uau! Eu mato o cara e ele diz a sua filha para me perdoar? - estou realmente impressionado.

_Exatamente. É a famosa frase: "perdoando que se é perdoado", como no pai nosso cara; "perdoa as nossas dívidas como temos perdoado aos nossos devedores." Perdão. Você tem que perdoar, é importante. - César olha para trás, o relógio branco preso a parede. - Já está na minha hora, não esqueça de se perdoar amigo. - ele diz e se levanta.

_Espere! - peço enquanto seguro sua mão - Porque assumiu a culpa?

_Porque achei que seria o certo, porque decidi mudar, porque achei que você tivesse uma chance maior se não estivesse aqui... Não sei, talvez Deus tenha um propósito. - César dá ombros e sai caminhando tranquilamente.

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Me contem o que estão achando.

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