Shi QingXuan abriu os olhos com dificuldade. A claridade que adentrava pela janela e inundava sua cabana machucava, ele levou as mãos fechadas em punhos em direção aos olhos e os esfregou levemente. Conforme sua visão ia, aos poucos, se acostumando com a iluminação do lugar, ele começou a observar ao redor. Ele sabia que estava procurando algo, mas não lembrava o que era. Ou seria alguém? No momento não saberia dizer.
O cheiro de bebida estava impregnado no ar e em suas roupas esverdeadas. Seus sentidos ainda estavam entorpecidos, então seus movimentos eram lentos. Ele sentou-se e percebeu, finalmente, que dormira debruçado sobre a mesinha de madeira. Em um canto os pergaminhos antes lacrados estavam abertos e desenrolados sobre o chão. Levantou-se do chão com a intenção de ir pegar os pergaminhos, mas antes que sequer pudesse dar um passo, uma dor lacinante o atingiu.
Um grunhido abafado soou pela cabana silenciosa, QingXuan segurou fortemente a cabeça com as mãos. "Ah... eu acho que bebi demais e... espera! He-xiong?" Lembrando finalmente de quem sentia falta, o desespero o atingiu. Um pensamento ressoava em sua mente, He-xiong poderia ter... ido embora?
Cambaleou um pouco ao começar a andar pela cabana, seus passos não tinham ritmo e ele tropeçava em si mesmo. A dor de cabeça que sentia era intensa e o atrapalhava, ele sentia o ombro levemente dolorido, como se tivesse o torcido, naõ conseguia lembrar como o machucou, parte de suas memórias continham uma densa névoa que o impedia de distinguir as coisas, e outras partes eram compostas somentes pelos sons abafados de risadas e falas grogues.
Caminhando pela cabana na procura de He Xuan, ele começou a reparar na bagunça do lugar. Garrafas vazias e taças estavam espalhadas pelos balcões, cascas de amendoins sujavam alguns potes, até mesmo roupas estavam espalhadas pelos cantos. Alguns fragmentos de memórias percorreram sua mente, esclarecendo alguns pontos. Risos dos fanstasmas da noite passada podiam ser ouvidos, a lembrança ainda era vívida, seus indícios estavam espalhados pela cabana.
Lentamente seus passos iam diminuido ao chegar em um canto mais escpondido da cabana, e um sorriso surgiu em seus lábios quando encontrou aquele que procurava. He Xuan estava deitado enrolado em sua túnica externa em um canto perto do fogão, sua expressão era serena enquanto dormia. Shi QingXuan não pôde deixar de ficar admirando aquela cena por um tempo.
Tantas manhãs acordando sozinho naquela fria cabana, com somente os fantasmas que uma garrafa de vinho podiam lhe oferecer por curto período de tempo, um sonho bêbado de uma vida jamais vivida e de lembranças jamais compartilhadas entre pessoas sóbrias. Acordar e ver que a pessoa ali não era uma brincadeira de sua mente perturbada e sim seu amigo, era realmente uma dádiva dos Deuses.
He-xiong não partiu... isso retirou o peso em seu coração, não estava sozinho.
Recompondo-se, ele silenciosamente limpou e organizou a cabana, com o devido cuidado de não acordar seu amigo, e, após vestir-se adequadamente, pegou uma grande cesta de bambu e foi para o vasto quintal decorado com as begônias cor de rosa.
O sol havia nascido fazia pouco tempo, seu brilho alaranjado iluminava o topo esverdeado das árvores e reluzia com as gotas de orvalho nas pétalas das flores. O ar frio da manhã acariciou seu rosto, ele deu um sorriso ao testemunhar tamanha beleza. Esses pequenos momentos eram os que levavam embora a escuridão que rodeava seus dias.
Caminhando com cuidado dobrado para não escorregar nas pedras lodosas, ele foi em direção de seu bem cuidado canteiro. Ajoelhando-se diante das flores chamativas, ele começou o 'ritual' de todas as suas manhãs.
O silêncio do jardim era repelido aos poucos com o cantarolar harmoniozo dos pássaros e com as falas de Shi QingXuan. "Bom dia para vocês minhas caras amiguinhas, está na hora de colher algumas de vocês! Todas tiveram um ótimo desempenho esse ano, suportaram bem o frio."
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Entre Glória e Miséria - Shortfic
FanfictionHá quem acredite que o destino seja escrito pelos Deuses, como se eles tivessem em sua posse um pincel mágico que traçasse em algum pergaminho as palavras que definem a vida de algum indivíduo. Mas o destino pode ser mais perigoso sozinho do que s...