"I fancied you'd return the way you said,
But I grow old and I forget your name.
(I think I made you up inside my head.)"Sylvia Plath
Temo ter esquecido seu nome na minha última overdose. Minha última overdose que eu achei que durou uma noite mas foram dez anos, ou vinte, ou mais. Aos poucos, dentro de cada hora seu rosto vai se perdendo, se esvaindo de mim. Eu, no meio de uma madrugada dessas, penso que na manhã seguinte você vai voltar. E vai ficar tudo bem. E me lembro que desisti de morrer por sua causa e me arrependo por ter desistido.
Não penso mais no meu filho. Não converso mais sobre ele. Não faço mais terapia porque o médico se cansou de olhar pra minha cara enquanto eu olho pra dele com os lábios colados um no outro com o mesmo desespero que os botões de suas camisas de agarram às casas. Antes de parar de falar, eu não parava de tagarelar a respeito de um menino. Um menino. Todo mundo achou que fosse meu filho. Mas eu ria por dentro toda vez que alguém dizia isso. Ria por dentro e por fora e ninguém gostava e faziam cara feia.
O menino. O menino. Me perguntaram o nome do menino. Não falei. Escrevi. Na minha parede. Seu nome. Que loucura é essa, me perguntaram. E foi a partir daí que comecei a esquecer seu nome. Ou a sigla que inventei pra você. Ou a morte que você carrega bordada na sua pele de cordeiro imolado.
Amanhã talvez seja o fim. Amanhã talvez tenha sido o fim.
Ninguém se importa.
Eu estou sozinha.
Você está?
Parece que não tomo banho há alguns dias e a enfermeira desistiu de vir me lavar depois que tentei arrancar o olho dela a dentadas. É que o olho dela me lembrou seu mamilo. É que o olho dela me lembrou o seu olho e talvez eu queira te perfurar com meus dentes e sugá-lo inteirinho para dentro de mim a partir de seu globo ocular. Eu agora escrevo nuns cadernos. Comecei a escrever depois que não fui mais capaz de lembrar seu nome e você se foi. Comecei a escrever por mais que eles temam que eu enfie o lápis dentro do olho ou o atravesse em minha garganta, ou o penetre em minhas partes íntimas. Minhas "partes femininas", como chamam. Todas as minhas partes são femininas, contra-argumento. Não não, me dizem. As partes que você não pode mostrar. Todas as minhas partes eu não posso mostrar, digo. E eles riem. Eles riem mas é com tristeza.
Tem um tempo que não me olho no espelho. Aqui onde me puseram não tem espelho, pois pode ser que eu o quebre e decida atentar contra a vida de alguém ou contra a minha própria. Quando você vinha, seus olhos eram meu espelho. Se você me via, eu existia. Se você dizia que os azulejos encardidos da minha parede brilhavam como estrelas, eu olhava pro céu. Eu abria meus braços e voava.
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Mad girl's love song
FanfictionUm conto sacro-erótico sobre a relação entre loucura e desejo, baseado no poema Mad girl's love song, de Sylvia Plath. Misturando mitologia cristã e remédios para dormir, é o relato confessional da paixão química entre uma mulher cuja própria mente...