11- Seguindo em frente

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O quarto de Anastásia era ao lado de Ella, com isso a menina podia muito bem escutar o choro que vinha do outro lado da parede, tão bem que parecia que Ella estava chorando no mesmo quarto. Mas mesmo que naquele momento estivesse fora de seu quarto ou até mesmo no andar de baixo, Anastásia achava que seria possível escutar o choro de Ella.

Ninguém concluiu o dia bem na casa, não era possível tendo uma notícia daquela. Ella, como já era de se esperar, ficou em seu quarto pelo resto do dia, não saindo nem ao menos para jantar, a garota ficou todo o dia chorando em seu quarto, inconsolável. Bem, não que alguém tenha ido até ela para fazer isso. Anastásia tinha quase certeza que não saberia consolar alguém com a perda de um ente querido, a menina com certeza não saberia o que fazer se tivesse uma pessoa se derramando em lágrimas na sua frente.

Anastásia se perguntava como Ella estaria naquele momento depois de ter chorado por tanto tempo, tantas horas. Será possível que ela estivesse bem? Tantas horas chorando, isso era possível? Anastásia se lembrava do dia que seu pai morreu, ela também, chorou, mas não era nada comparado como quanto Ella estava chorando e mesmo assim seus olhos ficaram ardendo. Será que os olhos de Ella estavam ardendo? Talvez eles estivessem ao ponto de cair de tanto chorar a aquela altura, isso seria possível?

Anastásia se perguntou se era aquela maneira que deveria ter se portado com a morte de seu próprio pai. É claro que ela tinha chorado, mas nada comparado com o quanto Ella estava chorando. O que aquilo queria dizer? Será que isso significava que ela era insensível? Ou que talvez não gostasse de seu pai? Ou quem sabe fosse pelo fato da relação dos dois ser bem diferente da relação de Gustaf com Ella? Anastásia não era nem um pouco próxima de seu pai, raramente eles conversavam, na verdade, Anastásia tinha quase certeza que nunca chegou a ter uma conversa mais longa que apenas algumas poucas troca de palavras. Mas Ella e Gustaf eram próximos e sempre conversavam e riam. Anastásia teve inveja disso. Talvez por isso que Anastásia não tinha chorado tanto, seu pai era tão distante que a dor da perda não era tanta, mas o pai de Ella era muito próximo, por isso a dor da perda devia ter sido bem maior. Mas agora ambas estavam sem seu pai, em um situação parecida, mas ao mesmo tempo bem diferente.

Anastásia não tinha chorado tanto com a notícia, mas sentiu seus olhos ficarem marejados e sentiu a tristeza por saber que Gustaf jamais voltaria para casa. Sim, Anastásia não era tão próxima de Gustaf e muito menos da mesma maneira que Ella. Mas mesmo assim a menina sentiu tristeza por saber que ele tinha morrido. Gustaf não era seu verdadeiro pai, mas foi muito mais carinhoso do que seu próprio pai tinha sido. Eles não eram tão próximos, mas ela sentiria falta dele.

Gustaf era o segundo pai que Anastásia tinha perdido em tão pouco tempo. Ela não queria perder mais ninguém.

***

Drisella não estava triste como sua irmã, mas mais uma perda não era nada agradável. Conhecer uma pessoa e depois receber a notícia de que você nunca mais poderia ve-la era algo meio assustador. Ela não tinha muito vinculó com Gustaf, mas uma morte de uma pessoa conhecida ainda era uma morte dolorosa, mesmo que não fosse tão dolorosa quanto de uma pessoa próxima.

Drisella ainda não tinha chorado pela morte de Gustaf, as vezes ela se perguntava se tinha algum problema com ela. As pessoas normalmente choravam quando uma pessoa conhecida morria, mas até o momento ela não sentiu essa vontade. É claro que ela não era completamente insensível, ela tinha ficado triste com a morte de Gustaf, ele a tratava muito bem, não tanto quando Ella,mas a tratava bem. Mas parecia que isso não era o suficiente para a fazer chorar por sua morte.

Ela tinha chorado com a morte de seu pai, mas ele era tão distante quanto Gustaf, na verdade, muito mais distante. Drisella só lembrava uma única vez que seu falecido pai foi carinhoso, mas ela era muito pequena, Anastásia mal sabia andar quando essa lembrança foi feita. Ela estava correndo um pouco pela casa, naquela época sua mãe não ficava exigindo as regras de comportamento, então ela caiu no chão e seu pai a pegou no colo e limpou suas lágrimas. O contado durou muito pouco, ele logo a entregou para a babá, mas o gesto foi tão raro que Drisella jamais esqueceu.

Será Ella?Onde histórias criam vida. Descubra agora