Novas Amizades

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Harmony

Na manhã do dia seguinte não fiz muita questão de sair muito do quarto, não queria encontrar ninguém dentro da casa por não estar afim de ter outra crise só de ouvir o nome do Grão-Senhor da Primaveril. Me levantei e parei de frente ao espelho ficando de lado e levantando parte do cabelo olhando as falhas causadas pelos tufos arrancados por Tamlin em momentos de raiva do mesmo, mesmo sabendo que provavelmente estava a salvo, minha cabeça ainda rodeava pela voz de Tamlin... pela voz, pelos toques e por tudo que ele já havia feito sem minha permissão.
Eu me odiava profundamente, mas jamais desistiria sabendo que meus pais estavam vivos e bem! Prometi a eles que jamais me entregaria assim para a morte e irei cumprir! Arrumei meu cabelo de uma forma que as falhas não fossem visíveis e abri a porta do quarto olhando em volta, como eu já havia imaginado o corredor está vazio, caminhei em passos silenciosos até a cozinha que havia apenas as gêmeas espectro que apenas me deram um pequeno aceno de cabeça antes de voltar as suas tarefas, peguei algumas coisas e voltei para meu quarto para tomar café, eu realmente não estava muito afim de companhia. Lembrei da noite passada que acordei no meio da madrugada coberta na sala com o livro jogado sob mim, eu havia me levantado reunindo a maior força que tinha pra me arrastar pra dentro do quarto e novamente pegar no sono.
Enquanto comia, voltei a ler o livro normalmente, era um livro sobre as plantas e ervas da Corte Noturna ou seja... um assunto que muito me interessava! Voltei a realidade ao escutar batidas na porta, dei uma mordiscada no pão deixando o mesmo sob a bandeja e fui até a porta dando de cara com uma das irmãs de Feyre.

- Oh, aconteceu alguma coisa? Precisam de mim? – Perguntei a fêmea de olhos castanhos e vestido Roxo pastel a minha frente que abriu um sorriso tímido antes de falar.
- Não, ninguém está te chamando! Apenas passei para perguntar se não quer companhia... você parece solitária! – A mesma disse um tanto quanto envergonhada, não sabia explicar mas a vontade que eu tive de sorrir da forma mais sincera possível pra ela me atingiu. Nunca alguém havia se oferecido pra me fazer companhia, me senti especial! Era até estranho pra mim saber que alguém estava preocupado com o fato de eu estar preferindo me isolar.
- Okay, você me pegou desprevenida! Jamais imaginei que alguém iria querer minha companhia. – Confessei olhando Elain, lembro de ter visto ela saindo do jardim no dia em que cheguei. A mesma me olhou um tanto  quanto preocupada
- Se não quiser eu vou entender perfeitamente! Jamais quero incomodar alguém! – Sorri de forma simpática para a mesma e dei espaço para a mesma entrar, seria bom para conhecer mais sobre ela já que não conhecia muito sobre outras pessoas que não fossem da Primaveril...
- Sente-se e me diga! Por que veio me procurar? Não querendo ser grossa, apenas curiosidade mesmo! – Disse olhando a mesma que agora parecia mais animada.
- Ah, eu senti que você precisava de alguém pra desabafar, uma pessoa em quem pudesse confiar sabe? Você parece ser uma pessoa legal! Não vejo maldade em você. – Elain começou a dizer e não podia negar que meu coração havia se aquecido com a maneira que ela disse. Ela nem me conhecia direito e por algum motivo ela já me considerava como um tipo de... amiga? Não sei, apenas sabia que dessa conversa sairia coisas muito boas.
- Obrigada pela confiança, de verdade! Geralmente as pessoas tem pena de mim por ter sido tratada como o brinquedo sexual do Grão-Senhor da Primaveril, não vou negar que só de pensar nele, meu coração acelera de uma maneira que eu não gosto por que só eu sei o que ele fez comigo. – Confessei a ela que de algum modo parecia entender como era sofrer por alguém que você amava mas o sentimento jamais fora recíproco.
- Se quiser pode me contar o que ele fez... mas claro! Se você se sentir bem pra isso! Entendo que é uma situação difícil, o que você sofreu provavelmente jamais vai ter comparação mas antes de me tornar feérica eu tinha um amor... mas por conta do pai dele, o mesmo me humilhou na frente de uma das minhas irmãs e disse que jamais se casaria comigo por ter me transformado como se a culpa fosse minha sabe? – A culpa na voz de Elain era nítida, só de pensar que alguém tinha feito mal a uma pessoa tão boa como ela já era demais. Não sabia se podia confiar, mas me senti aberta a contar a ela o que havia acontecido.
- Bom, no inicio sempre são flores, Tamlin me tratava bem, era gentil e cavalheiro comigo. Me encheu de mimos literalmente, me levava pra caminhar com ele e até mesmo me deixava brincando com as crianças da vila já que eu era uma camponesa antes de ir pra mansão dele. – Disse antes de continuar a minha história pois mesmo longa, ninguém acreditaria que eu havia sobrevivido a diversos ataques de Tamlin. – Ele me tratava super bem até eu começar a sentir que gostava dele de outra forma... aquilo foi literalmente o início do meu pesadelo, mas eu infelizmente não acreditava que ele fazia por querer e sim por ser um pouco superprotetor demais.. Começamos a ficar juntos porém ele não me tocava já que eu jamais permiti isso. Mas aí o tempo passou e ele começou a querer me trancar não só dentro da mansão como no meu próprio quarto! Ele disse que era pro meu próprio bem mas eu não conseguia acreditar nisso... – Lembrar de tudo que Tamlin havia feito me trazia péssimas recordações mas eu precisava contar, respirei fundo e continuei observando uma Elain extremamente atenta a cada palavra. – Ele começou a ser abusivo comigo, me tratava bem e do nada brigava comigo quando eu o questionava até o dia do Calanmai que ele tentou duas vezes me seduzir... a primeira eu rejeitei e ele saiu simplesmente furioso do meu quarto e na hora eu fiquei sem entender. Ele me deu um colar pra usar a noite no Calanmai, eu usei ele porém não fiquei muito tempo nem no Calanmai e muito menos fiquei muito tempo lá. Mal eu sabia que ele iria me seguir, assim que eu entrei no quarto, minutos depois ele entrou e trancou a porta e ali começou meu pesadelo... – Respirei fundo tentando manter a calma, mas lembrar daquela maldita noite era o motivo de muita das minhas crises... senti um nó em minha garganta mas prossegui. – Tamlin me prendeu contra a parede e começou a me beijar a força, eu tentei me soltar mas ele era muito mais forte que eu e começou a rasgar a camisola que eu havia colocado por que até ali eu ainda me sentia confortável com meu corpo. Mas ele rasgou tudo, me jogou contra a cama, eu bati a cabeça e ele se forçou a entrar em mim... Tamlin pela primeira vez havia me estuprado... eu tinha gritado, implorado pra que ele parasse, mas ele pegou meu pescoço na tentativa de me enforcar e começou a falar que se eu gritasse mais uma vez, ele faria questão de me matar. Eu só sabia chorar enquanto ele estava dentro de mim me machucando, mas depois disso as coisas foram piorando cada vez mais... – Já não tinha mais motivo pra mim continuar segurando as lágrimas comecei a chorar e tentar de alguma forma continuar a falar com Elain, mas era quase impossível. Tudo que eu conseguia fazer era tremer e chorar, saber que minha vida havia sido arrancada daquela forma de mim era horrível! Jamais imaginaria que seria enganada daquela forma, era algo realmente impossível pensar no que eu passei e ficar bem com tal coisa. Era simplesmente ridículo imaginar que entreguei minha vida daquela forma... Elain percebendo que se eu continuasse iria piorar a situação, acabou por pedir desculpas e me abraçou, um abraço que eu não recusei e retribui.
- Não precisa pedir desculpas, eu apenas não consigo pensar em Tamlin sem querer chorar de ódio por ter acreditado nele, sabe? É difícil pra mim saber que eu o amei incondicionalmente e jamais fora recíproco. – Elain ficou mais um tempo comigo conversando sobre outros assuntos até que eu me acalmasse, logo após o bate papo a mesma me arrastou pra fora do quarto me levando até o jardim da Casa. Eu não havia reparado que era tão grande e não havia entendido o motivo pra que Elain me levasse até lá, a mesma se sentou comigo na grama embaixo de uma árvore antes de começar a falar.
- Te trouxe até aqui pra espairecer um pouco e por que eu sei que você sabe mexer com espada e afins. Feyre pensa que eu me machucaram feio usando elas por isso nunca me deixou nem sequer pegar em uma e eu já cansei disso... eu quero te pedir algo mas não conte a Rhysand ou minha irmã. Quero que me ensine ao menos manusear uma espada! Cansei de ser o “rostinho bonito” da Noturna! Quero saber me defender quando preciso, quero saber qual é a sensação de estar segurando uma espada! – Não iria negar que o pedido de Elain havia sido um pouco... peculiar na minha visão, mas já que ela queria não teria problema em mostrar a ela.
- Seguinte, vem pro meu quarto hoje a noite que eu te explico como vamos fazer okay? Não sou uma expert do assunto como seus amigos, mas posso te ensinar o que eu sei e o que eu aprendi na Primaveril sem que Tamlin soubesse! – A mesma sorriu contente e novamente me abraçou, acredito que eu e ela seríamos ótimas amigas com toda certeza. Jamais imaginei uma amizade como a de Elain! A única pessoa que eu confiava estava na Primaveril agora correndo risco de morte... respirei fundo e a mesma pediu minha companhia pra andar por Velaris, olhei a mesma com certa confusão, ela sabia que eu era mestiça de illyriano? Mas como?
- Eu te faço companhia sim! Mas como você sabe que eu posso levar nós duas até lá? Não me lembro de ter contato a ninguém sobre mim... – Elain riu e olhou pra mim como se estudasse minha alma.
- Reconheço um illyriano de longe! Convivo com 2 illyrianos puros e 2 meio illyrianos que são minha irmã e meu cunhado! E sua tatuagem no pulso denuncia também. – A mesma disse apontando para meu pulso que quando olhei novamente a voz de Tamlin veio em minha cabeça quando ele amarrava minhas mãos pra conseguir ter mais acesso ao meu corpo, os roxos em ambos pulsos eram visíveis. Era como se olhar essas marcas me levasse novamente as noites em que Tamlin virava o cão literalmente e descontava a raiva de seus problemas com a Corte em mim.
Como você nunca me obedece, hoje vou fazer diferente docinho. Pode gritar, espernear, tentar me afastar de você mas não vai conseguir... até por que vai estar presa por essas cordas até que eu me canse. Então pra que eu a solte mais rápido, sugiro que fique bem quietinha e faça o que eu mandar, docinho... ou eu faço questão de te deixar trancada em uma sala menor que esse quarto sem iluminação e sem luz.
Tamlin amava me ver mal as vezes, o mesmo dizia que era drama e só estava chorando por ser rebelde demais, o mesmo chegava a me trancar em um tipo de salinha minúscula sem janelas e iluminação, eu desenvolvi as crises de pânico por causa disso. Eu começava a tremer, chorar e dependendo de como procedia perdia o ar e entrava em um estado onde eu hiperventilava por me sentir sufocada. Eu apagava e acordava horas ou dias depois com Leonor me ajudando, a mesma me ajudava com as crises de pânico quando estava por perto. Sempre seria grata por toda ajuda de Leonor.
Mais tarde naquele mesmo dia, Elain foi ao meu quarto para combinarmos o que poderíamos fazer pra ajudar a mesma com o fato de que ela queria saber se defender. Falei que eu primeiro precisava saber quais locais da casa poderíamos usar para isso sem que ninguém desconfiasse coisa que parecia impossível, por isso resolvi que faríamos isso perto da casa mas fora dela, e eu daria um jeito de levar as armas.
Elain saiu e eu fiquei sozinha em meu quarto apenas escutando a doce melodia que Feyre cantarolava para a pequena Kira ali perto, sorri escutando aquela melodia prestando atenção na voz de Feyre e em como a mesma tinha uma voz bonita pra esse tipo de coisa, e foi questão de segundos pra que Kira parasse de resmungar porém mesmo assim a mesma continuou cantando baixinho até escutar a voz de Rhysand no corredor. Como não era do meu interesse, resolvi levantar e ir até a sacada do quarto olhar o céu, porém ao escutar meu nome fiquei alerta... haviam encontrado uma Sentinela da Primaveril nas redondezas da Corte e que agora mais do que nunca precisavam ficar em alerta sob o que poderia acontecer, pelo visto fariam algo pra me manter escondida de Tamlin coisa que eu não iria reclamar porém não queria parecer fraca. Suspirei olhando a vista que tinha enquanto desenhava com a unha desenhos invisíveis no parapeito da varanda, voltei para dentro do quarto e parei em frente ao espelho olhando meu reflexo e imaginando tudo que eu ainda iria passar se aceitasse conviver com Tamlin, respirei fundo e afastei os pensamentos ruins da cabeça indo deitar, não demorou muito pra que eu acabasse pegando no sono e tendo finalmente uma boa noite de sono a ponto de não escutar ou sentir necessidade de acordar de madrugada com medo de Tamlin.
Na manhã seguinte assim que acordei, me deparei com uma caixa em cima da penteadeira, bocejei e levantei indo ver o que era, estava endereçada a mim e havia uma cartinha dizendo que seria um presente inesquecível para mim! Mesmo estranhando desfiz o laço da caixa e abri a mesma me deparando com a pior cena que eu poderia ver... lá estava a cabeça de Leonor, recém decapitada com os olhos arregalados. Soltei a tampa no chão me afastando devagar da caixa sentindo os tremores começarem a me atingir, comecei a chorar sem parar. Não havia mais motivos pra ter controle a essa altura do campeonato, não cheguei a apagar mas como eu não consigo pensar quando entro em crise de pânico, a última coisa que eu me lembro antes de me tirarem do quarto foi a voz de Feyre pedindo pra que alguém me tirasse dali. Agora eu não tinha mais em quem confiar, a única pessoa que me trazia a sensação de bem estar é conforto naquela Corte Primaveril estava morta... Tamlin matou Leonor.

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