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D - E - M - I - T - I - D - A
Sentada sobre o balcão do seu pequeno apartamento, Julie Molina devorava um sanduíche de manteiga de amendoim e geleia, parando algumas vezes apenas pra deixar as lágrimas escorrerem em paz.

Demitida, do única emprego que ela conseguiu no último ano, sem emprego corria o risco de perder seu apartamento, o lugar era minúsculo, mas era tudo que ela podia pagar, pelos menos tinha uma cama pra pousar sua cabeça no fim do dia.

Ela não consegue acreditar, perdeu o emprego por culpa de uma riquinha mesquinha, claro ela sabe que tinha sua parcela de culpa, mas se tem uma coisa que Julie aprendeu com a mãe; foi nunca deixar ninguém a humilhar. Mas ela só conseguia se arrepender, custava ser menos Julie uma vez na vida e manter a boca calada, era seu próprio questionamento.

Se não conseguisse o emprego na próxima semana ficaria sem ter o que comer, não que ela tivesse muito por agora, mas chegar a ter zero de suprimento é desesperador. Todas a suas economias eram contadas, luz, água (que não era nem quente), o básico de comida. Como pode uma jovem de 23 anos chegar a falência sem ter ao menos se arriscado em algo na vida. Sabe, uma aposta bêbada em Vegas a ponto de perder tudo? Ou talvez gastar todo seu dinheiro em festa durante a semana?
Mas não, ela tinha que pagar o tratamento do pai, tudo que ela tinha era pra o pai.

Fisioterapias e tratamentos psicólogicos eram caros demais, Molina fazia tudo que podia pelo pai, até sair da sua cidadezinha atrás de emprego pra ver se de alguma forma podia ajudar. E já fazia um ano que sua vida era assim, ela não tinha muito, na verdade ela não tinha nada, mas tinha o pai e ela faria tudo pra que ele melhorasse.

Antes que saísse da lanchonete, Sr. Lee pediu desculpas, ele não queria a demitir, conhecia Julie e sabia da sua situação, mas também não podia perder a lanchonete que era seu único sustento. E Julie entendia, se ao menos ela tivesse pensando um pouquinho antes de se meter com a vaca mesquinha.

Julie leva as mãos ao cabelo e os joga pra trás, deixando o rosto livre para que as lágrimas escorram cada vez mais, ela não vai conseguir ficar assim por muito tempo. O relógio sobre a mesinha da sala marcava oito da noite, se ela se esforçasse um pouquinho conseguiria dormir cedo, e por algumas horas fingir que aquele dia não aconteceu.

Ela se levanta do balcão e vai até o banheiro tomar um banho, a procura de se livrar de todo peso do dia, mas água gelada não ajuda nada. Depois de relutar um pouco, ela entra e deixa que a água escorra pelo seu corpo, apoiando a cabeça sobre os azulejos da parede.

Ela se lembra dos Cem dólares de gorjeta e deixa escapar um risadinha, talvez seja um pedido de desculpa, um pedido de desculpa ridículo, mas ela precisava daquilo. O Sr. Mal Humorado parecia tentar se desculpa dela noiva mal educada, a questão que Julie não conseguia esquecer, era: como um homem daquelas estava com uma mulher tão ruim?

Quer dizer, ela não sabia nada dele, mas ele não parecia ser uma pessoa ruim também. Parecia só um cara normal, que ia ser casar com a pior vaca do mundo, mas merda, o que o coitado tinha na cabeça? Aquela mulher parecia... parecia, Argh... Quem sabe, talvez ela sacrificasse bebês para satanás nos tempos livres ou ela fosse o próprio satanás. Não tem como saber, mas Julie a odiava, odiava a forma que ela a olhou com deboche assim que chegou na mesa, odiou tudo sobre ela.

Antes de ao menos terminar seu banho ela escuta as batidas frenéticas na porta,  correndo ao quarto para vestir uma roupa na maior velocidade possível ela pega a primeira peça de roupa que encontra e veste.
Sobre a cama seu celular não para de piscar indicando novas mensagens, mas ela prefere ignorar para atender a porta.

Abrindo a porta, ela da de cara com seu melhor amigos, Willie.
Alto demais, cabeludo demais, forte demais, gostoso demais. Era definição de Julie para William Clearwater.

Play Pretend | JukeOnde histórias criam vida. Descubra agora