Prólogo.

408 52 45
                                    

Vastas florestas cobriam os quilômetros que preenchiam Lima. A pacata cidade abrigava um arsenal de seres humanos de boa e má índole. É com tristeza que informo que a magia surgiu através de um infortúnio do passado.

Uma notinha inicial:

Uma coisa boa nasceu de uma coisa ruim, quão irônico isso pode ser?

Ironia ou não, assim foi o princípio.

Flocos de neve caiam sobre as vidraças da janela fria. O pequeno menino de 9 anos, pele clara e olhos cor de mel chamuscados de dourado olhava atento e sorria à medida que os flocos iam se juntando ao imenso véu branco que cobria o horizonte.

— Já disse para deixar a comida pronta quando eu chegar!

A voz do seu pai ecoou no andar de baixo e cavalgou até seus ouvidos. Todos os dias eram assim, uma guerra. Mãe e pai em desacordo constante. Adivinha pra quem sobrava?

Uma verdade difícil:

É exatamente quem você está pensando.

Leo Summer era apenas uma criança que já vira o suficiente para a sua idade. Vivia à mercê de uma mãe alcoólatra e um pai com o talento de alcançar notas altas em ameaças e sorrisos sinistros em pancadas. Não é o que se pode chamar de sorte.

— MOLEQUE!

O cinto entrou no quarto e estalou entre os dedos imundos do homem, foi uma surra memorável e sem razão. Não, perdão. Tinha uma razão sim, pura diversão. O pior é que ele deveria ser seu pai. O pior é que ele era só uma criança.

Ninguém consegue viver no inferno por muito tempo, não quando há uma saída alternativa. O pobre menino, ainda dolorido e sangrando, se embrenhou pela janela somente de pijama e fugiu.

Andou a passos trôpegos e rápidos pela mata e se aprofundou cada vez mais ao fundo da vastidão verde de sombras negras. A lua estava atenta ao céu, iluminando o seu caminho e o frio vinha ao seu encontro abraçando-lhe e provocando-lhe calafrios. Depois de muitos suspiros, árvores, rios e neve, ele parou. E agora, para onde iria?

Não tinha o que comer e com certeza a fome logo lhe faria uma visita, não tinha onde dormir e o frio logo estilhaçaria seus pulmões, não tinha ninguém e logo a solidão o esmagaria.

O que fazer? A resposta veio de uma forma assustadora.

Um uivo o fez virar e seu coração dar cambalhotas. O menino se viu frente a frente com a morte de pelo branco e olhos azuis. Um lobo solitário olhava-o de uma maneira curiosa, ultrajante. O que estaria pensando? Provavelmente, estava aguardando sua vítima cair morta no chão de medo para simplesmente devorá-lo sem trabalho, ou deveria estar esperando para ter certeza que o menino não guardava nenhuma arma para atacá-lo e também devorá-lo.

Estranho ele pensar no que o lobo estaria pensando, já que os animais são seres irracionais. Irracionais?

Uma pequena observação:

Os animais matam para se alimentar e se proteger. Os seres humanos
são capazes de matar por prazer. Quem é o irracional agora?

Uma vida se passou e os dois continuaram aquela briga de olhares. O lobo se aproximou sorrateiro, o garoto deu um passo para trás, então o animal parou. Curvou a cabeça e se apoiou em suas patas dianteiras, fazendo uma reverência. O menino de coração avoado imitou o gesto. Depois de alguns minutos o animal se aproximou e roçou o nariz gelado na mão estendida do menino.

Jᴏᴀʟɪɴᴀ - ՁߗOnde histórias criam vida. Descubra agora