2. Verônica

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Se minha avó é minha prima,
e minha mãe é sobrinha-neta
do meu pai, quantas melancias
João comprou na feira?


Vovó costumava dizer que parentes divino são como monstros, você não gosta, apenas se acostuma. Eu geralmente concordo com a imensa maioria das coisas que a velha diz, e dessa vez não seria diferente.

Falando em família, devo dizer que demorei bons tempos para me acostumar com a árvore genealógica da minha. Veja bem, Ares, que é meu pai divino, é irmão de Atena, a bendita deusa que por acaso é mãe da minha avó e avó da minha mãe. Sei, sei, isso parece uma coisa bem estranha e, sinceramente, realmente é. Minha avó é minha prima, e minha mãe trepou com o próprio tio-avô.

Ah, as belezas de fazer parte da árvore genealógica dos olimpianos.

Mas, vamos lá! É dos deuses gregos que estamos falando. Incesto? Puft! Fazemos isso toda hora. Meu adorável vovô que o diga ── já diria o Ladrãozinho de Merda: Zeus, come muié e mete o pé.

Enfim, melhor mudar de assunto antes que o Poste Elétrico Ambulante resolva me fulminar.

Onde eu estava mesmo? Ah, sim! Falava que família é um troço complicado.

O maior exemplo disso são os neandertais que denomino como irmãos ── Menos Frank e Cassian, os dois são bolinhos fofos que quero colocar num potinho e proteger de todo os males do mundo. Iti nenê. ──. Aquelas criaturas são barulhentas como uma torcida de futebol brasileira e discretas como elefantes de tutus. Além de, claro, terem certos probleminhas para controlar a raiva.

O pior de tudo, é que por mais que fale mal deles, não consigo deixar de gostar dessas criaturas intelectualmente desfavorecidas.

O que nos leva ao momento atual, onde estou ocupada pulando sobre minha enorme mala, tentando afofar dois pares de saltos extras dentro dela e usando cada pedacinho da minha concentração para empurrar o zíper metálico e fazer essa porcaria fechar. Talvez devesse pensar na possibilidade de pegar outra bolsa, embora ache que Festus já vai estar sobrecarregado com as outras três malas, uma necessaire, as duas mochilas de suprimentos, a mochila do meu namoradinho e, bom, meu peso somado ao de Leo.

Será que Ferreiro Mirim realmente precisa da bolsa dele? Ou quem sabe não tenha um espacinho sobrando nela...

Falando nele, o maldito Garoto em Chamas estava a meia hora sentado na poltrona sob a janela ── Os raios de sol no cabelo dele o deixam com uma aparência muito, muito fofa, e sim, estou completamente ciente de que sou uma idiota apaixonada. Estamos falando de Leo Valdez! É impossível não agir feito uma idiota apaixonada perto dele ──, rindo do esforço hercúleo que estou passando. Ele segurava sobre o colo o aquário onde nossos pequenos filhos estavam calmamente mastigando pedaços de alface. Papai ── o mortal ── havia nos dado no natal passado, com a leve ameaça de: esses são os únicos netos que eu quero ter nos próximos dez anos, Roniquinha. Então foi assim que Leonardo, a tartaruga, entrou na nossa vida.

Ocasionalmente decidimos adotar Michelangelo, Donnatelo e Raphael. Para completar a família, sabe?

── São só três meses, você tem roupas o suficiente nessas malas pra vestir o chalé de Ares inteiro. ── Ele disse, antes de rir sozinho e completar: ── Você já imaginou seus irmãos tentando lutar de saltos e saia?

Parei um segundo para visualizar, agradecendo pela minha imaginação bizarra conseguir formar perfeitamente as imagens. Na verdade, a grande maioria das minhas irmãs conseguiriam fazer isso caso quisessem ── Aposto que Clarisse, aquela maluca, enfiaria o salto na garganta de alguém com facilidade. Não vou nem citar onde Octávia, outra maluca, espetaria o sapato ──. Agora, meus irmãos... É, eles não tem a classe necessária para andar numa dessas belezinhas.

𝕱𝖆𝖙𝖊 • 𝐩𝐣𝐨 𝐞 𝐡𝐝𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora