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"Somos todos amadores. A vida é tão curta que não dá tempo."

- Charles Chaplin (tradução livre)



Aterrizo em Madri, Espanha. Imigração não me faz perguntas. Um equatoriano-com-cara-de-índio-pobre não tem a mesma sorte.

Tenho vinte e três anos. Meu contato alí é uma família de brasileiros.

Eu me hospedo em um quartinho e considero as primeiras semanas como umas férias curtas. Faço uma gira por algumas discotecas do centro da cidade.

Uma noite, eu vejo os letreiros de neón de um club de strip-tease. Chama-se Chelsea's. Não é o nome de uma cidade ou um bairro da Inglaterra? Lembro daqueles filmes com as mulheres rodando nas barras... Pole Dance...?

 Eu tenho que entrar.

 Tiro 2500 pesetas da carteira e um gorila de terno abre a porta para mim.

De cara, um balcão com uns dois ou três homens sentados. Um deles está acompanhado por uma loira magrela, mas bonita. Acho que estão negociando. Mas eu sigo andando, o show é lá embaixo, tenho que descer umas escadas.

Eu me sento em uma mesa com uma copa (um drink). Uma mulher se oferece para sentar comigo e o meu cartão de crédito que meu pai me havia dado, com pouquíssimo dinheiro.

Ambos respondemos que não.

O show começa. Todas, todas as dançarinas são bonitas. Uma delas é brasileira, um Monumento.

Um show cômico no intervalo. No palco, uma coroa. Ela é esguia, mas tem o rosto envelhecido e a pele flácida. Não são só os anos. Essa mulher é rodada.

O Sketch são piadas sacanas e um strip no final. Para ser simpático, caio na besteira de aceitar seu convite para subir.

Ela tira a minha roupa e dança em cima de mim. Tenta tirar minha cueca também, mas eu não deixo. Ela me agradece com sinceridade, como se eu tivesse salvado o momento. Nenhum outro homem tinha querido subir. Eles devem conhecer o lugar.

Então, eu me encontro alí, recolhendo minha roupa e vestindo-me na frente de todo mundo. Deveria vir alguém com um roupão pra me tirar do palco e pedir aplausos de cortesia. Mas não.

Um mico desnecessário.

Eu me sento e peço uma cerveja, para não gastar muito. Uma dançarina se aproxima e se oferece para sentar-se comigo. Eu digo delicadamente que não. Vem outra. Não. Vem a brasileira-nossa-virgem-que-linda, Não. Vem a espanhola. Ela é a mais linda de todas, uma escultura viva, olhar bandido, dessas que você tiraria da mala vida e daria casa, comida e roupa lavada.

Eu respiro fundo, bem, bem fundo, e digo que... Não.

E vou embora, com o coração minúsculo...

MADRID ERA UMA FESTA!Onde histórias criam vida. Descubra agora