Dois meses depois de entrar na academia eu deixo a ideia de virar stripper pra lá e aceito o emprego na construção. Sou inclinado a ter essas fantasias. Além do mais, nunca consegui ficar bombado. 

Eu desço na Estación de Atocha e pego o trem com meus colegas para uma cidade satélite de Madri. O lugar chama-se Leganês. 

Faz frio. Estou falando de quatro, três graus celsius.

Caminhamos dez minutos e chegamos ao nosso lugar de trabalho. No pé de um edifício há um buraco de dois metros de diâmetro cavado na terra.

- Amigo, te prepare... – me diz um dos meus colegas, um imigrante maranhense – Tú vai entrar no buraco do inferno!

Eu lembro quando tenho dezessete anos e meu pai me consegue um trabalho em um supermercado nas férias, pra saber o que é trabalhar. Coisas de pai. 

São as oito da manhã e eu começo. Encero o chão com uma enceradeira gigante. Reponho produtos nas prateleiras. Guardo as compras dos clientes nas sacolas. Volto pra casa, como, volto uma hora depois. 

O tempo para. A hora de ir embora não chega nunca. Tudo é feio, as pessoas são feias. O tédio impera. Meus pés doem, as pantorrilhas doem, as costas doem. 

Eu saio às oito da noite, apesar de ter combinado sair às seis. Doze horas de trabalho. 

É simplesmente insano

Eu duro uma semana.





MADRID ERA UMA FESTA!Onde histórias criam vida. Descubra agora