Nosso chefe contrata a um conhecido nosso, um brasileiro do maranhão. Seu nome é Wagner. É magrinho, um pouco afeminado. Seus hobbies preferidos são cortar cabelos e costurar.

Abrem-se as apostas.

No começo, Wagner não consegue nem levantar a pá do chão. Depois ele até consegue, mas ele demora três vezes mais do que eu e cinco mais do que um companheiro nosso. A gente pede paciência ao Infinito.

Uma tarde, logo depois de almoçar, estou enchendo aquela esteira de terra a um bom ritmo quando olho pro Wagner. Ele está completamente imóvil, apoiado em sua pá, os olhos vidrosos, perdidos no movimento ascendente da esteira.

—Wagner! Quê pôrra é essa?

—Tô cansado. Minhas coxtas tão doendo! — ele responde.

Os minutos passam e Wagner continua descansando. Seus olhos, fixos praticamente no mesmo ponto.

—Wagner! – eu digo.

— Quê que foi?

— Como assim? Você resolveu não ajudar mais?

Wagner suspira. Ele me olha por um momento e seus olhos voltam a adquirir aquela expressão.

— Praaaa qué? — responde— ¿Pra quê eu vou me acabar por éxta terra?

Eu não respondo, incrédulo. Wagner pega sua pá e a deixa encostada contra a parede de tijolos. Caminha até a caseta onde a gente deixa as roupas e ferramentas, pega suas tralhas e vai embora.

Alguns meses depois, tenho noticias de Wagner. Ganha o dobro que a gente costurando e cortando cabelos a domicílio.

MADRID ERA UMA FESTA!Onde histórias criam vida. Descubra agora