Uma semana depois, Carlos encontra Petra no metrô. É uma dessas coincidências inacreditáveis. Ele a convida para tomar um café e os dois ficam juntos. Carlos me liga para contar na primeira oportunidade. É como levar um soco no estômago.

Sei que Carlos tem uma câmara de vídeo. Eu proponho que ele a leve para Los Jardines del Retiro, um parque gigantesco que era fechado para deleite exclusivo da corte do rei Felipe IV. Digo que gravemos alguma cena. É uma desculpa, claro.

Eu só quero ver a Petra. Eu nem penso nas minhas chances, os dois estão juntos e Carlos parece um cantor de rock. Mas eu simplesmente não consigo parar de pensar nela.

Petra.

Eu pego o metrô e desço na parada que tem uma saída dentro do parque. É triste comparar Madrid com meu país. Aqui tudo é perfeito.

Vejo o Carlos desde longe.

Do lado dele, a garota baixinha com seu longo cabelo encaracolado preso na nuca, a postura nobre e ereta. A luz solar dourada e radiante parece concentrar-se nela.

O tempo se detém. Tudo é silêncio. Nada dos motores dos carros nas ruas adjacentes, nada do canto dos pássaros, nada das conversas banais.

Minha visão é um túnel e eu só vejo a Petra. Segura, Exibida, Maravilhosa. Seus pés pequenos apontam para frente, desafiando o globo terrestre.

Petra está imóvel, é o planeta que gira para que ela possa caminhar.

MADRID ERA UMA FESTA!Onde histórias criam vida. Descubra agora