Capítulo Um - O Pomar.

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"Eu espero que você esteja se preparando para suas obrigações."

Frase dita quase que frequentemente por seu padrasto, de forma tão ríspida e autoritária quanto sua postura. O coronel era um homem amargurado, acreditava cegamente que o mundo se tornaria melhor sem as chamadas minorias.

Ah, as minorias! Que segundo o homem mais velho eram: "Um povo que não merece nada além de desprezo."

Kibum não acreditava nisso, mesmo que o instruíssem sobre o assunto desde que perdia seus últimos dentes de leite, época de seus onze aos doze anos. Neste mesmo período, as fábulas contadas antes de dormir cessaram, dando lugar ao trabalho, que antes não era tão cobrado por sua família.

Ele trabalhou como podia, trazendo o pouco dinheiro que tirava vendendo condimentos com um conhecido de sua mãe.
Durante seus seis anos de idade não haviam tantas dificuldades em casa, ou talvez ainda fosse muito pequeno para recordar.

Hoje, sua realidade era diferente, com seus 19 anos havia adquirido uma vida mais confortável financeiramente.

Ele havia se tornado um morador fixo na casa do coronel Seo, seguidamente da união deste com sua mãe.

A Sra.Kim estava acamada devido náuseas causadas por conta de uma gravidez de risco. Key não a alertava sobre o comportamento do padrasto devido seu estado debilitado, achava que estava livrando-a de um enorme problema.
Kibum aproveitava quando restava algum tempo em seu dia, pois frequentemente tinha o dever de cobrir algum soldado na tropa de Seo.

O garoto tinha total certeza que substituir soldados era uma punição, pois era forçado a ver execuções em massa.

Roubar alimentos não deveria causar execuções de famílias, eram quantias pequenas como pedaços de pão ou a caça de lebres, e ele sabia que os pequenos furtos não fariam diferença para os pelejadores e nem mesmo ao coronel.

Estes últimos eram homens de caráter podre, que o enojava.

O pavor se instalava em sua mente a cada homicídio que presenciava, sua aversão com aqueles homens bárbaros só crescia a cada dia.

~

Durante o vespertino, por vezes o sobrava um tempo livre, que usava para adentrar o enorme pomar que situava-se próximo de sua moradia. Mesmo que não conseguisse ir no espaço de árvores frutíferas com frequência, sentia um conforto imensurável estando ali, e por volta dos últimos meses passou mais tempo no pomar, retornando para casa antes do pôr sol.

"Eu detesto esse homem."

Pensou em voz alta, ajustando o corpo repousado sobre a laranjeira.

Seus dedos tocavam a grama, buscando algum aconchego.

Navegava em sua mente, remoendo as cenas hediondas que presenciava.

"Matar não é de meu feitio..."

Suspirou com uma expressão desapontada, enquanto sussurrava a frase para si mesmo.

Sua vida estava tão descontente.

Dava atenção aos tons e colorações enérgicas dos frutos pendurados nas estruturas ramificadas, amoras de tom purpúreo, maçãs vermelhas e pêssegos maduros.

Estava tão cansado, precisava dormir algumas horas a mais por dia, algo que estava longe de conseguir.

Os cabelos caíam-lhe sobre a testa com o soprar sútil do vento, fazendo o garoto deslizar os dedos nas madeixas escuras emaranhadas. Não era costumeiro estar ali depois que a noite caía, mas ficou ausente do tempo devido seus inúmeros pensamentos reflexivos.

Levantou apressado, não deveria estar ali após o poente, mesmo que ninguém- além de sua mãe, sentisse sua falta.

A noite despencou sobre toda área, dificultando a visão de Key para achar o caminho de casa - que não era tão distante, mas gastava no mínimo uns 15 minutos andando.

O pomar parecia maior neste momento, um fato que passou despercebido antes, mas que agora era notavelmente um labirinto.

"Estaria me perdendo? "

Começou a se questionar, e de fato estava.

Sua vista era escura, um breu continuava preenchendo o local, só seus próprios passos quebrando galhos e destruindo folhas secas eram audíveis.

Tateando as árvores e chegando até as rochas que formavam a parede do território onde estava, encontrou a saída, ainda se culpando pelo deslize que cometeu.

Enquanto apalpava coisas ao seu redor para tentar se localizar, uma luz surge poucos metros da saída do labirinto, pegando-o de surpresa; o assustando.

Levou as orbes castanhas em direção ao clarão esbranquiçado, sentindo palpitações fortes em seu peito, vendo que a luz revelava uma criatura bastante.... Anormal.

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