Capítulo 18

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Atlanta, Estados Unidos - 7 de julho de 2007

     Os resultados haviam saído há bastante tempo, na verdade. Fiquei com média 89. Foram disponibilizados num mural pendurado bem na frente da Academia. Não fui lá olhar. Helen trouxe uma foto do meu nome em segundo lugar. Abaixo apenas de Victoria, em terceiro lugar estava Isaac. Porém não me inscrevi para nenhuma Universidade. Não queria ir para muito longe do meu quarto. O desânimo tomou conta de mim durante todo esse mês. 

     Acho que só levanto da cama para ir ao banheiro. Helen deixa a comida na porta do quarto, mas eu quase nunca estou com fome. Só tomo café da manhã e as vezes tento mandar para dentro o almoço. Mas ele nunca permanece ali. O repugno que sinto ainda faz com que qualquer coisa que eu coloque pra dentro volte dentro de 10 a 20 minutos. Tem sido assim já faz um tempo, imaginei que superaria, mas não foi o caso. Ainda me sinto suja.

     Não me olho no espelho mais com frequência, virei o único que tinha no meu quarto para a parede. Ainda assim, sei que estou com uma aparência um tanto cadavérica. Só percebi isso porque Lila se assustou da última vez que me viu, sua pele ruborizada entregou tudo: eu estava horrível. Ela pareceu traumatizada. Mas é compreensível, tem apenas sete anos. Não está pronta para ver ninguém definhar. Por mais dramático e melancólico que isso pareça, não estou tentando me fazer de vítima - apesar de Helen mandar bilhetinhos por baixo da porta falando que não há problema em me sentir uma, dadas as circunstâncias. Parando para pensar, eu fui uma vítima.

     Naquela manhã de sábado eu acordei menos disposta que o normal. O relógio marcava 4:53. Levantei e lavei meu rosto no banheiro. Minha imagem estava completamente distorcida. Quebrei o espelho há 10 dias e alguns dos cacos que não caíram estavam grudados na parede. Catei o restante e tive a péssima ideia de deixar no canto do banheiro. Escorreguei no tapete e caí bem em cima dos estilhaços pontiagudos. Resumindo, cortei meu braço e meu rosto e nem me pergunte como isso aconteceu. Só aconteceu. Não deixei que Helen me levasse ao hospital. O ferimento era leve demais para tanto desespero. Me contentei com um curativo que ela colocou depois de limpar a ferida. Não estava tão ruim. 

     Desci as escadas para ir à cozinha. Era esse o horário que normalmente ia até lá para pegar alguma coisa e sair do quarto de vez em quando. Queria evitar ao máximo o contato com os outros que lançavam olhares misericordiosos ou culpa. Não preciso de sua piedade, preciso de uma lavagem cerebral. Mas ainda assim, não o digo a ninguém. Muita gente foi super atenciosa comigo nesse tempo, por mais que eu só quisesse estar sozinha. Preciso ser compreensiva, me sinto um pouco mal por não ter dado a devida atenção àqueles que realmente se fizeram presentes. Papai e Helen principalmente. Ethan de vez em quando trazia doces, mas eu os entregava para Lila - sem ele saber, claro - pois sei que ela apreciaria o presente mais que eu.

     "Eu te liguei umas vinte vezes" ouço uma voz ressoar pela cozinha como num sussurro. 

     Encaro-o por alguns instantes, mas logo desvio o olhar para a geladeira novamente. Não sei por que ele ainda insiste tanto em vir me ver. Embora tenha tido um papel muito importante nas últimas semanas, não consigo esconder meu constrangimento. Rejeito o máximo de ligações que posso. Mas suas visitas noturnas ainda são um fardo com o qual preciso lidar, não faço ideia de como as recusaria. Ele é o único com quem converso, literalmente.

     "Devia ter um pouco de empatia" ele diz passando a mão no rosto cansado "Eu só queria saber se você estava bem"

     "Tá" digo cruzando os braços e me recostando na bancada da cozinha. Começo a comer uma barrinha de cereais, estava faminta. Minha última refeição havia sido o café da manhã do dia anterior "Estou bem"

Coleção de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora