Coleção de Estrelas

Epílogo

Atlanta, 5 de março de 2018

Querido Edward,

     Sei que você será o futuro herdeiro deste caderno e espero que goste do presente. Ganhei um parecido aos meus 10 anos de idade e gostaria de dá-lo à você o quanto antes, porém você já tem 10 anos e eu ainda não escrevi tudo o que gostaria nesse caderno, então esperarei você aprender sobre embriologia na escola. Talvez aí sim eu vou te dar esse caderno, onde eu vou te contar a minha trajetória até você. Espero que goste de ler, porque vou escrever bastante por aqui pelos próximos anos.

     Ah, acho que nunca contei isso para ninguém, a senha do Caderno Amarelo era - e eu não estou nem brincando - apenas a sequência: 123. John e Helen sempre tentaram combinações difíceis, mas esqueceram-se que mamãe era humana e também esquecia senhas. Por isso acertei de primeira. Mas não vou colocar senhas nesse caderno, minha mãe era bem mais criativa que eu. Acho que até poderia repetir a mesma senha que ela, mas acabei de te contar, logo, não adianta mais nada.

     "Não conte sobre o que tem nesse caderno para ninguém. Esse é o seu caderno, agora. Trate-o com cuidado, pois faz muito tempo que comecei a escrevê-lo. Você pode seguir os passos que ele te orienta, ou pode ignorar e ver os relatos de uma sonhadora paranoica"

     Foi com essa frase que a minha mãe iniciou a sua autobiografia e o seu museu de histórias num caderno de capa amarelo vivo. Não sei se isso realmente será interessante, mas quero te dizer que eu amo ser sua... seja lá o que você me considere. Feliz aniversário. Mesmo que você não pertença à mim, lembre-se sempre de que eu te amo daqui até a lua.

Isis

(...)

Grovetown, Estados Unidos - 13 de fevereiro de 2019

     A bagunça da nova residência Duncan-Martin (ultimamente Isaac tem preferido ser chamado apenas pelo seu sobrenome materno, fazendo com que o novo sobrenome de sua esposa fosse Isis Duncan Martin) era tão grande que só de olhar para a quantidade de caixas de papelão repletas de tralhas e coisas desnecessárias, ela se arrepende de não ter acatado a sugestão de Isaac sobre doar o que não precisavam antes de se mudarem, assim teriam bem menos coisas para guardar. E, para piorar, ela esqueceu de colocar nomes ou etiquetas nas caixas, então terá de abrir tudo para procurar um objeto simples. Ela dizia para si mesma que a justificativa para tamanha desordem era porque mudaram-se de última hora. Isaac não reclamava do apartamento que ela havia alugado no ano anterior, mas ela sabia que ele odiava lugares apertados e foi aí que começaram a procurar por casas maiores em localidades mais tranquilas. 

     Tem apenas três dias desde que se mudaram para Grovetown, o local parecia perfeito para o que ambos queriam e era melhor por não ser uma capital como Atlanta. Cidades pequenas tinham as suas vantagens. Ela olhava em volta com certa alegria. Aquilo era exatamente o que procuravam e o vendedor parecia muito simpático, mostrava a casa com um sorriso triste. Disse que era porque morou lá com sua esposa e filha durante quase toda a sua vida. Isis não disse muita coisa, por mais que aquilo a comovesse. Quando o homem disse seu nome, ela ficou surpresa e olhou de soslaio para Isaac. Spencer Park, pai de Evangeline Park Duncan. Ela não teve coragem de dizer nada a respeito de sua identidade, mas ainda quer conhecê-lo. Morando mais perto ele, oportunidades não faltarão.

     Enquanto abre caixa por caixa à procura do Caderno Amarelo (outro arrependimento, não o ter deixado em sua mala de mão fora uma das piores decisões que já tomou), escuta a porta da frente abrir. Ela não se importa muito com isso, Isaac tinha saído para comprar alguma coisa para o jantar e já deveria estar de volta. Outra caixa errada, para variar. Ela abre outra, esta está mais pesada... pesinhos de academia, que ela ainda não fazia ideia do porquê de terem isso. Preciso parar de gastar com compras na internet, ainda mais quando não vou usar. Mesmo que pensasse assim, ela não deixava de entrar em sites duvidosos com promoções absurdas, as vezes uma espátula com formato de borboleta podia ser útil, pensava o mesmo do aspirador de pó com formato do Ursinho Pooh. A cada caixa aberta, outro suspiro arrependido. Nomear as caixas não seria tão difícil.