Capítulo 4

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Atlanta, Estados Unidos - 23 de maio de 2007

     Naquela semana já era perceptível o desespero dos alunos à medida que as provas se aproximavam. Aqueles que não davam a mínima agora estão preocupados em relação à faculdade e vida adulta. Alguns chegaram a me procurar para estudarmos juntos - sério, me ofereceram dinheiro, essa geração está perdida-, mas é claro que recusei. O motivo? Bom, principalmente pela falta de tempo, mas também pela concorrência. Sim, eu sei que é egoísta da minha parte, porém eu me dediquei muitos nos últimos três anos. Fora que não é humanamente possível aprender todo o conteúdo do ensino médio em uma ou, no máximo, duas semanas de aulas particulares.

     Isaac Daugherty era um caso à parte. Eu não dava aulas particulares para ele (já sou péssima em me organizar quem dirá para ensiná-lo alguma coisa), nós estudávamos juntos de vez em quando. E ele é um cara bem inteligente, suas médias são perfeitas sem que precise fazer o menor esforço, portanto, não precisa da minha ajuda. Se não é para estudar, por que quer me encontrar toda segunda-feira depois da escola? foi o que perguntei e ele me respondeu: Gosto de ficar perto de você. Se quiser pode estudar, ficar te olhando já é suficiente pra mim.

     Eu e Isaac estamos "juntos" há quase um ano. Entre aspas, sempre entre aspas. Nós nos falávamos na escola e acabamos ficando mais próximos do que planejávamos, mas ninguém sabe - e nem precisa saber. Vivemos tipo um daqueles romances proibidos, mas não é tão proibido assim, então parece exagero. É quase que... trágico, eu gosto disso. Eu diria que é como Romeu e Julieta - só espero que ninguém acabe morrendo no final. Eu quero permanecer focada nos estudos, pois passar numa universidade com uma taxa de 20% de aceitação não é nada fácil e ele respeita a minha decisão. Então a gente tem alguma coisa e ao mesmo tempo não temos nada. É confuso, espero que tenham entendido porque eu não estou afim de explicar de novo. Essa situação me deixa inquieta. O que temos é errado? Não. Na verdade...

     "...você topa?" 

     E quando finalmente acabei de ponderar me recordo de que estou almoçando com Michelle e Takashi. Isso acontece com mais frequência do que eu pensava, agora eu não sei se apenas sorrio e digo que sim ou se peço para Michelle repetir a pergunta. Ela estava olhando para mim com um sorriso enorme estampado no rosto então a possibilidade de estar esperando por uma resposta positiva é enorme, mas não posso descartar o fato de que é possível que seja mais uma de suas ideias mirabolantes que vão me colocar numa situação sem saída.

     "Claro que sim, por que não?" respondi com um sorriso torto e sobrancelhas arqueadas.
     Michelle parecia satisfeita, assim, voltou a dar atenção ao seu celular. Começou a tagarelar sobre os novos posts de um site de fofoca enquanto eu tentava me lembrar o que iria fazer (isso também acontece com frequência), então me lembro de que estava almoçando, logo, preciso... comer? É, acho que era isso. Meu foco sai do prato, ainda repleto de comida, que estava diante de mim quando percebo que Takashi está me encarando com uma expressão confusa. 

     "O que foi?" indaguei, será que havia algo de errado comigo? Takashi não fazia contato visual com ninguém. Ele era, em parte, um pouco misterioso. Nunca sabia o que se passava em sua mente e isso era algo muito ruim porque gosto muito de ler as pessoas, então eu não tinha outra opção senão perguntar à ele o que estava escondendo, e, se ele quisesse mentir, eu provavelmente acreditaria, Takashi é bem manipulador quando quer.

     "É sério que você aceitou de primeira?" ele pergunta aparentemente surpreso.

     "Aceitei o quê?" perguntei e logo me arrependi, pois agora eles sabiam que eu não estava prestando atenção. Michelle tirou os olhos do celular e me olhou com o rosto transparecendo o seu desapontamento.

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