Atlanta, Estados Unidos - 9 de dezembro de 2017
Tudo estava indo bem, como da última vez. Eram 12h quando partiram de Atlanta para Grovetown naquele domingo. Isis estava ansiosa e ao mesmo tempo nervosa enquanto repassava algumas coisas em sua mente. Se perguntava se Isaac se importava com o que ela havia dito dias antes. Afinal, ela quase se declarou para ele, o que era totalmente absurdo. Eu não gosto dele. Isaac Martin Daugherty é passado, tenho certeza absoluta disso. Ela pensava coisas assim quando o nome dele aparecia em seus pensamentos nos momentos mais comprometedores, como quando ela estava tendo uma conversa cotidiana com Nicole no dia anterior.
Será que estou fazendo a coisa certa vindo aqui de novo? Ela se pergunta assim que chegam ao portão do orfanato. Mas seu corpo está em desacordo com seus pensamentos, está vacilante por dentro, mas seus pés movem-se automaticamente, sem hesitar ao menos um passo à medida que caminha em direção ao portão do orfanato.
Diferentemente da última vez que passou por aquele arco de ferro, naquele dia ela suava frio e, para tentar acalmar-se, expirava lentamente o ar que exalava. Não se tratava mais de ver algumas crianças carentes como num orfanato "qualquer". Neste dia ela veria diversas crianças e, dentre elas, uma que lhe era mais familiar que qualquer outra. Isaac nota a sua aflição e toca seu ombro de leve, ela sorri, envergonhada, mas logo se recompõe e se endireita. Precisava manter o foco no que era importante. Manter o controle e agir normalmente, como da última vez - mesmo que da última vez ela não soubesse o real motivo para ele tê-la levado ali.
Ambos caminham vagarosamente olhando para o chão. A grama recém-cortada está coberta de alguns poucos flocos brancos. Junto ao feriado próximo, que era o natal, vinham as frias tempestades de neve que deixavam todos da família Duncan encantados. Se havia algo que gostavam mais do que a data em si, com certeza era a neve que cobria os degraus de madeira da varanda. Dava-se início ao inebriante inverno americano que há tanto não sentia, ela inspira o ar gelado e olha de soslaio para sua companhia. Isaac anda de olhos fechados, as mãos nos bolsos do longo casaco preto que lhe dá um ar de seriedade e importância.
Ou o caminho é mais longo do que recordava ou eles estavam mais lentos que da última vez. Na semana anterior o frio não estava tão acentuado, talvez esse fosse um dos motivos para todos estarem mais agitados. Porém, naquele dia, uma depressão profunda parecia ter sido instalada no Orfanato de Grovetown. Nenhuma criança foi recepcioná-los quando abriram devagar as grandes portas de madeira, mesmo que todas estivessem reunidas tentando se aquecerem frente à uma lareira pequena no canto da sala.
Isaac e Isis se entreolham, confusos e desconfiados, mas isso não os impede de entrar. Silêncio. Achava que essa palavra não existia no vocabulário dessas crianças. A cada passo que dava a madeira rangia um pouco mais, provavelmente por conta da idade avançada das estruturas que constituíam o local, o medo de que tudo caísse sem qualquer motivo aparente tomava conta de sua mente, assim como da última vez que pisara no interior da construção. É claro que evitar falar isso não exigia muito esforço, apesar de seus temores, sabia que não era simples fazer uma reforma numa infraestrutura tão antiga em tão pouco tempo - ainda mais sabendo que 15 crianças dependeriam de outra moradia até o findar do processo.
Vozes ecoam pelo orfanato, uma delas é bem familiar. Eles automaticamente reconhecem quem está falando: Danessa Davies, a responsável pelos órfãos. Ela parece estar tão desanimada quanto o restante da casa, todos eles estão com as pequenas mãozinhas estendidas para captarem um pouco da energia térmica do fogo que emana da lareira. Ela escuta dois ou três deles fungarem algumas vezes, mas seus olhos permanecem focados na pessoa que atraiu sua atenção assim que entrou.
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Coleção de Estrelas
Romance"Nunca fui do tipo de pessoa que insiste em erros, Isis Duncan. Eu reconheço quando estou errado e tento mudar. Mas se o erro é você, eu admito que não pensaria duas vezes antes de cometer esse pecado, garota. Se o inferno é o meu destino por roubar...