A chuva desce em ondas naquela tarde. Mat precisa parar a caminhonete em um túnel abandonado, ele e a equipe aguardam a tempestade. Mat permanece, fumando, observando o tempo, de olho em Sandy e Lucia que descansam na caminhonete do lado de fora do túnel.
Mortos têm sido vistos com mais frequência nas últimas semanas lá fora no matagal e nos pântanos, atrás das cercas de pinheiros brancos. Agora, as cortinas de chuva se abrem do céu, varrendo a floresta e lavando os campos. O céu lança rajadas de trovões enquanto veios de raios estalam no horizonte. É uma tempestade raivosa, bíblica em volume e fúria, e isso deixa o grupo preocupado. Mat fuma o cigarro sem filtro de forma vingativa - ele enrola o próprio cigarro - tragando-o até a guimba conforme observa a tempestade. A última coisa de que precisa no momento é drama. Mas naquele exato momento, o drama vira a esquina na forma de Lucia. Ela entra no túnel adjacente, com a jaqueta jeans erguida sobre a cabeça para afastar a chuva. Ela se aproxima com uma expressão ansiosa no rosto, protegendo-se sob o abrigo temporário, sem fôlego, sacudindo a umidade da jaqueta.
- Meu Deus do céu, isso desceu rápido - diz ela, ofegante, para Mat.
- Boa tarde, Lu - responde ele, jogando o cigarro no chão.
Ela recupera o fôlego e olha ao redor.
- Como você está? - Pergunta Lucia, se sentando ao lado dele.
- Bem...
- O quê está acontecendo com Will?
- O que têm ele? - Mat faz um gesto de desdém com os ombros, olhando, nervoso, por cima dos ombros para Will que olhava ao norte triste. - Não tenho nada a ver com isso.
- Acho que ele se sente culpado, sabe? Por conta do incidente semana passada.
- Besteira.
Sandy sai do carro com uma latinha de sardinha nas mãos. De todos do grupo, ela e Will são os únicos que sabem lidar com tudo. Estão sempre sorrindo e brincando, porém, desde que Will "mudou" ela tem sido o alívio cômico, sozinha.
- Eles formam um belo par, não é? - pergunta Sandy, com um brilho nos olhos.
- Ah, por favor - murmura Lucia, levemente enojada. A última coisa que quer é se envolver com um cara de 26 anos, ainda mais um homem que gosta de ser tão irritante.
Caso insistissem, no entanto, Lucia teria de admitir que Mat é o que sua irmã chamaria de "colírio para os olhos". Com a cabeleira escura e os longos cílios, poderia facilmente aquecer a alma solitária de Lucia. Além do mais, parece que há mais do que os olhos veem no garoto. Lucia já o tinha visto em ação. Sob a aparência de menino bonitinho e o charme rebelde, há um jovem corajoso, fortalecido pela praga, que parece mais do que disposto a se colocar na linha de frente pelos amigos sobreviventes.
- Lucia gosta de se fazer de difícil - intrometeu Luke, ainda com aquele sorriso lateral. - Mas ela vai se tocar.
- Continue sonhando - murmura Lucia, roubando uma sardinha de Sandy - Vocês deveriam parar de pensar em namoricos, temos coisas mais importantes para discutir.
A tempestade não passou, e Lucia decidiu que seria melhor partirem de manhã.
O túnel em que eles estão é úmido e com um cheiro terrível de carne podre. Ninguém cogitou a ideia de dormir naquele chão imundo.
- Que tal Lucia e Will na vigia? - Propõe Sandy.
- Não! - Diz Luke, em alto tom. - Will precisa descansar, Mat vai com ela. - Sandy abafa um riso.
Os outros dormiram rapidamente, e Lucia pouco se importando, decidiu arrumar a mochila. Mat caminha até o meio do túnel, parando numa parede e soltando a mochila do corpo. Com o queixo, ele aponta para o sul.
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Postponing death
Science Fiction"O mundo que nós conhecemos desapareceu, mas manter nossa humanidade? Isso é uma escolha." 🔹 inspirado em The Walking Dead.