Capítulo VII

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Parte I

A placa fica perto de uma colina de onde é possível ver os pomares ao redor. Com três lados protegidos por cercas de tábuas repletas de ervas daninhas e caçambas de lixo espalhadas, o lugar tem uma letreiro pintado à mão sobre as duas estacas de madeira que diz SOBREVIVÊNCIA ACIMA DE TUDO! BEM VINDOS A CAPITAL.

Quando Luke parao carro na estrada de cimento rachado - com os faróis desligados para evitar detecção -, o dia está completamente claro, e os pneus da caminhonete tritura o vidro quebrado.

Os outros espiam pelo basculante traseiro, notando a grande placa, enquanto Luke leva a caminhonete para fora do campo de visão de qualidade passante intrometido. Ele estaciona a caminhonete, recém apelidada de brigadeiro - por causa das extensas manchas causadas pelo barro - entre a carcaça de um sedan destruído e um pilar de pneus. Logo depois, o motor é desligado, e Luke ouve o rangido da porta do carona e o pesado baque de Mat saindo e contornando a traseira da camper.

- Fiquem aí um segundo - diz ele suave e calmamente depois de abrir a porta da camper e ver Sandy e Lucia agachadas no bagageiro como um casal de corujas. Ele não repara nos respingos de sangue nas roupas delas. Ele verifica o cilindro de sua .38, o aço azulado cintila na escuridão. - Vou dar uma olhada no lugar para ver se não há nenhum errante.

- Não quero ser grosseira, mas como assim? - diz Lucia, sua onda completamente esgotada, substituída por uma espécie de áspera descarga de adrenalina. - Vocês não notaram o que houve aqui atrás? Não ouviram o que estava acontecendo?

Luke olha para ela.

-Tudo o que ouvi foram duas meninas chorandos até não poder mais...

Lucia conta a ele o que aconteceu. Mat lança um olhar a Sandy.

- Fico surpreso por você ter conseguido... com o cérebro confuso desse jeito. - A expressão de Mat se ameniza. Ele suspira e sorri para a irmã. - Parabéns, irmãzinha.

Sandy dá a ele um sorrisinho entorpecido.

- Meu primeiro abate, Mat.

- Provavelmente não vai ser o último - diz Mat, fechando o cilindro.

Mat se afasta e vai em direção a placa e Lucia o segue. No calor escaldante, ela sente o olhar de Luke sobre si. Ela se vira e olha para ele. Luke está com uma expressão estranha nos olhos. Ela sorri para ele. Mas decide olhar a placa com Mat.

- Cara, tenho que admitir, você é muito habilidoso quando se trata da sua irmã... Foi muito foda com aquele elogio.

Ele retribui o sorriso. Algo muda em seus olhos, como se a visse pela primeira vez - apesar da estranha sensação - e umedece os lábios. Ele tira uma mecha de cabelos escuros sujos dos olhos.

- Não foi nada.

- Ah, falou. - Já tem algum tempo que Lucia está fascinada pela semelhança de Mat com Steve Yeun. A semelhança parece irradiar dele com uma mágica atávica, seu rosto cintila na escuridão, seu cheiro - óleo de patchuli, fumaça, folhas e chiclete - causa um turbilhão no cérebro de Lucia.

Eles param em frente a placa e a encaram por longos minutos.

- Você acredita em centro de refugiados? - Mat se vira e encara Lucia.

- Em filmes sempre é uma péssima ideia. - diz ela desconfiada - mas eles dizem ter comida e estamos dias vivendo de latas de sardinha.

- É muito suspeito, lulu. - "lulu" pensou Lucia, ele nunca chamou ela assim - Tem uma rota aqui, olha!

Postponing deathOnde histórias criam vida. Descubra agora