Capítulo I

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Quando já estavam longe o suficiente, encostaram-se no tronco de uma árvore e respiraram fundo. Não falaram, suas discussões estavam acontecendo internamente.

O que aconteceu?
O que foi aquilo?

Eles não sabiam, mas estavam de certa maneira, preocupados com o ocorrido no centro .

Um pensamento passa pela cabeça de Luke enquanto ele se encolhe na floresta, o terror sufocando o peito e a dor latejante nos joelhos: se ele tivesse um segundo par de mãos, poderia pelo menos cobrir os próprios ouvidos e talvez bloquear o som das cabeças humanas sendo partidas. Infelizmente, as únicas mãos que Luke possui estão ocupadas no momento, abraçando Lucia.

- Me solte - disse ela calma - tenho que sair daqui.

- Aquelas coisas... Eles são...?

- Mortos - ela sorriu como se isso normal - mortos-vivos.

- Surreal - ele concordou - Vamos voltar pra vila.

- Você está cego? Estão todos mortos - ela apontou em direção a vila e só assim Luke percebeu que lugar estava em chamas - Estão todos mortos - repetiu - Nós estamos mortos.

- Como você pode ser tão cruel? Minha família está lá! - Luke explodiu de raiva

- Quer ir lá? Vá sozinho! Eu não pedi que você me acompanhasse.

Lucia odiava discussões, mas não podia evitar essa. Era óbvio que eles estavam mortos. Mas Luke não entendia. Ele não queria entender.

- Eu também tinha família lá! - ela continou - Nós não podemos ajudar, Luke. - Lucia colocou a mão sobre o ombro dele tentando transmitir solidariedade - agora temos que seguir nossos caminhos.

- O que você quer dizer com isso?

- Eu estou dizendo que vamos nos separar - colocou a mão no bolso e tirou um canivete - fique com isso, vai te ajudar a viver.

- Você não pode sair assim!

- Sim, eu posso.

E saiu.

Lucia não gostava de Luke, muito menos o considerava um amigo. Mas ela se conhecia e sabia que se passasse tempo demais com ele tentaria o proteger e ela não queria isso.

Então andou, não sem direção. Lucia queria encontrar seus pais, algo dizia que eles estavam vivos e esperando por ela.
"Eu vou encontrar vocês" ela disse pra si mesma.
E assim ela enfrentou pela primeira vez um morto.
Os olhos da coisa eram estranhos, a pele era flácida e ele mancava em direção dela. Lucia poderia fugir, mas não. Ela iria até o morto e levaria ele de volta ao inferno.
Ela segurou a lança, mirou, cerrou o olhos, mordeu os lábios e sentiu os passos arrastados do cadáver em movimento, o silvo agudo de uma lança, o som grave do metal penetrando a carne...
...e, por fim, o grand finale, o splash de um peso molhado desfalecendo na grama.

- Estranho...

E continou andando.

Luke permaneceu ali, olhando o seu lar ser destruído. Ele queria parar Lucia quando ela partiu, mas não teve coragem. Luke não conhecia ela por completo mas sabia que sua história de certa maneira prejudicava as interações da garota.

Se ele soubesse de tudo, talvez não iria querer ser tão próximo dela. Mas algo em Lucia o deixava intrigado, ele queria conhecer ela, ser parte da família dela. No fundo ele sabia que sentia inveja, ela era forte, determinada e inteligente exatamente tudo o que ele queria ser.

Então, Luke seguiu andando. Tentando fazer o máximo de silêncio possível.

- Oi - disse uma voz desconhecida.

Postponing deathOnde histórias criam vida. Descubra agora