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29 de outubro

Estava escurecendo e Alejandro pedalava em sua bicicleta, as ruas cheias de folhas. Era outono e o clima, apesar de um pouco frio, estava agradável. Um vento constante bagunçava o cabelo dele, que não era muito comprido, mas, também não era raspado no zero.

Ele voltava para casa depois de ir ao mercado, por essa razão, carregava duas sacolas no guidão da bicicleta. Entre as compras de sua avó, se encontravam dois mangás, que chamaram a atenção dele.

Alejandro não assistia muitos animes, além dos mais famosos, e o mesmo acontecia com os mangás. Ele achava as histórias interessantes, mas, talvez pelos fatos de terem ilustrações, não conseguia se concentrar na leitura.

Suspirou. Tentava distrair a mente com alguma coisa, já que, havia algum tempo desde que sonhara com a Mujer Luminosa, a última vez, sendo um dia depois que fora queimado vivo com ela.

E, aqueles mangás, seriam apenas mais uma coisa para consumir, até que houvesse mais uma noite que o satisfizesse com a presença de alguém que fechasse um buraco em alguma parte de seu peito e de seu ego.

Ah... a solidão.

Tão boa e satisfatória, quando uma escolha, mas, tão triste e depressiva, quando uma sentença alheia.

É... no fim, ela não passa de uma escolha.

Você pode escolher ficar só, porém, as pessoas ao seu redor, também, têm a capacidade de escolher te deixarem só.

☾︎ • ☀︎ • ☽︎

Observava os lados. Aparentemente, nada de estranho. Arfou ao olhar pela janela do prédio em que se encontrava; mal conseguia distinguir alguma coisa de lá de baixo. Os carros tão pequenos, como pontinhos; as pessoas ele nem sequer conseguia enxerga-las.

Garcia direcionou seus olhos para cima, uma nuvem, extremamente perto. Já tinha uma ideia de que estava muito alto, mas não pensava que fosse tanto. Se afastou da janela, não gostava de lugares altos, e andou pelo andar sem rumo.

Conseguia escutar uma música vindo do andar de cima, então, pensando ter alguém lá, vai até o elevador. Pensou na razão de alguém fazer um elevador com vista para a cidade - ainda mais, considerando a altura da construção - e não conseguiu achar nenhuma resposta plausível.

Tirando Garcia de suas perguntas sem respostas, o elevador para e as portas se abrem. Naquele andar, não existia separações nem parede alguma, apenas um espaço vazio no prédio, por isso, conseguiu distinguir muito bem uma pessoa e alguns discos pelo chão.

A música que escutara, vinha de uma caixa de música antiga ao lado da mulher que, agora, ia em direção à Alex. E, diferente da, grande maioria, de vezes, ela não usava um vestido. Usava uma calça que, para Alejandro, parecia barrar parte do brilho que emanava dela.

Todos os trinta e cinco passos que dera, ecoaram no local e, parando à frente do rapaz, o puxou para um abraço.

Alejandro, sem entender o porquê do abraço repentino, abraçou-a de volta. Em sua mente, surgia de algum lugar, palavras misturadas, quais ele não compreendia.

Em algum momento, o piso treme. Se afastando do rapaz, a mulher corre até seus discos, catando um por um com cuidado. Confuso, com tudo que havia ocorrido, Alejandro, ajuda a mulher a pegar os discos. O tremor aumentando mais a cada segundo que se passava.

Alex respirou fundo. O pé, inquieto, ficava batendo repetidas vezes, enquanto observava a mulher se acercar às janelas. De repente, o tremor pareceu parar e, Alex, soltou o ar, a ideia de que aconteceria um terremoto, se decipando.

Mas, dessa vez, quem respirou fundo, nervosa, fora a mulher, quem agarrou a mão do rapaz e o arrastou consigo. Passando, rapidamente, os olhos pelas janelas.

Passou por uma.

Trancada.

Por duas.

Trancada.

Três.

Trancada.

Quatro.

Trancada.

Na quinta janela que passava, o tremor volta novamente, dessa vez, ainda mais forte que antes.

Sexta.

Trancada.

Sétima.

Trancada.

Oitava.

Tran- Aberta.

Abrindo mais a janela, ainda segurando os discos, chama Alejandro com a mão livre. Lento, ele caminha até ela, tinha receio de cair no chão com aqueles discos, que pareciam muito importantes para a mulher, além de que, tudo tremia muito mais àquele ponto.

A cada passo, a estrutura tremia mais e o desespero da moça aumentava, seus olhos já começavam a ficar úmidos, e nem ela sabia a razão disso.

Menos de um metro dela, a construção começa desmoronar. Com medo, a mulher larga os discos no chão, puxa o rapaz para si e, em um último passo, os joga pela janela.

Enquanto caíam para uma morte certeira e dolorosa, Alejandro, apertou o braço em volta da cintura dela e olhou em suas íris negras. A mulher, fizera o mesmo e, como da penúltima vez, os olhos castanhos de Garcia brilhavam intensamente.

Apesar de saberem que a caída era rápida e que chegariam ao chão em um piscar de olhos, o tempo pareceu parar quando sorriram um para o outro e seus lábios se tocaram.

Apenas um selinho, um selar de bocas, e eles desejaram estar juntos para sempre ali; que o tempo, realmente, parasse.

Mas ele não parou.

O tempo, tinha seu próprio tempo e, aquele, era o momento de levá-los à morte.

Mujer LuminosaOnde histórias criam vida. Descubra agora