20 de agosto
Alejandro voltava para Girona depois de seis anos longe da cidade natal. A nostalgia o preenchia mais à cada mínimo detalhe que sua visão alcançava da cidade. Na rádio, tocava uma música calma de um tal de Luke Campbell, artista que Garcia desconhecia até aquele momento.
Alex, virou na esquina da casa de sua avó. Nada havia mudado naquele bairro. Crianças correndo e brincando perto de mais das ruas, velhas fofoqueiras sentadas fofocando, adolescentes rindo e conversando nas calçadas e poucos carros transitando pelas ruas.
Desde que saíra da casa, há seis anos atrás, nunca mais voltara. A razão? Nem ele mesmo sabia. Talvez... Apenas tivesse medo das memórias que voltariam quando entrasse na residência. Desde que fora estudar em outra cidade, não pensara mais sobre a mulher de seus sonhos, a qual nunca tornou a aparecer.
Trancou o carro e suspirou, sua mala e mochila descansavam ao seu lado. "Afinal, porquê mesmo que estou tão nervoso? Parece até que nunca morei aqui..." pensou, enquanto ajeitava a mochila nos ombros e começava a puxar a mala para a entrada da casa.
Ele bateu na porta três vezes e esperou. Poucos instantes depois, a velha e confortante cara de Antonieta apareceu.
- Boa tarde, vó.
- Boa tarde?! Vá a merda, garoto! Fiquei te esperando seis anos e nada de você vim! - A senhora puxa o rapaz pela orelha e desfere um tapa sobre a mesma, depois o puxa para um abraço forte. - Ai que bonitinho! Meu netinho tá tão bonito! - ela fala assim que se separa do rapaz e o segura pelos ombros.
- Não é pra tanto, vó... E a senhora já me viu um monte de vez por foto...
- Lucia! Lucia! Vem ver o Alex! - Antonieta, ignorando a fala do mais novo, grita para a velha, que corre até a cerca que separava as casas vizinhas.
Alejandro olhou para o céu, antes de se virar para as senhoras e lhes dar atenção.
A tarde seria longa.
☾︎ • ☀︎ • ☽︎
D
e volta à seu antigo quarto, observava cada detalhe minuciosamente. Seus lápis e canetas em um pote de vidro, alguns cadernos e livros sobre a mesma mesa, a cadeira de escritório desgastada e a persiana encardida, com a falta da limpeza de sua parte, deixava claro que tudo estava como deixara em sua ultima noite ali.
Sentado naquela cadeira velha e olhando pela janela, Alejandro, quase conseguia se sentir como em uma das noites que despertara de um pesadelo e ficara ali, sem fazer absolutamente nada, apenas esperando o tempo passar.
Ele abriu a gaveta daquela mesa e puxou de lá um caderno, abrindo na primeira folha reconheceu ele como sendo o caderno em que fazia anotações sobre os sonhos que tinha com a Mujer Luminosa. De começo, riu lendo aquelas palavras, mas, conforme as memórias daqueles sonhos voltavam à sua mente, como se estivessem trancafiadas em sua cabeça, a nostalgia, mais uma vez, toma conta dele e seus olhos se enchem de lágrimas.
Ele passou a mão nos olhos, limpando a água deles.
Se sentia besta por ter se emocionado tanto com as memórias antigas, mas não tivera tanto para pensar à respeito, já que sua avó o chamou.
Alex respirou fundo e passou as mãos na camisa que usava. Antonieta havia feito uma festa para comemorar o retorno, temporário, do neto e convidara pessoas que nem mesmo conheciam Alejandro pessoalmente.
Chegando ao final do corredor, Garcia, desejou ter levado a avó mais uma vez até a cidade em que morava agora.
A pequena sala da residência estava abarrotada de velhas conversando e crianças gritando. No quintal, alguns velhos fumantes assavam carne e bebiam cerveja, e mais algumas crianças se espalhavam pelo local.
"Eu, realmente, deveria ter levado a vó lá pra casa." pensou, vendo três pestinhas endemoniadas passarem gritando e correndo em sua frente.
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Mujer Luminosa
Romance[LIVRO 1 DA TRILOGIA BRILLANTES] Alejandro Garcia sempre morou na mesma pequena e pacata cidade desde que se lembrava de existir. Marcada pela arquitetura de estilo medieval, Girona, conseguia ser um lugar tediante e, apesar de bela, a cidade não c...