cinco

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15 de fevereiro

Todo o dia, Alejandro, se manteve em um estado quase que de transe. A velha Antonieta se cansou de tanto ralhar com o neto que parecia estar em um estado vegetativo e nem ao menos escutava o que ela falava.



A senhora passou o dia murmurando pela pequena residência o quanto os telefones e a tecnologia matava os jovens - em sua cabeça, seu neto era uma prova viva disso - e que, dia após dia, os aparelhos consumiam a memória e a capacidade mental e física das crianças.



Em partes, ela não estava, totalmente, errada. Mas, estava em relação à seu neto, quem estava naquele estado apenas por ter sonhado.



Aquela moça de pele brilhante não saía de sua cabeça por nada e, como ele imaginou, a voz dela era hipnotizante, e linda de mais, para qualquer ser humano suportar.



As poucas palavras sussurradas da mulher reverberavam em sua mente quase como quando são colocados espelhos um na frente do outro e alguma luz os alcançam e ficam rebatendo infinitas vezes a mesma.



"Me leve para casa" ela repetiu diversas vezes a mesma frase e isso não fazia sentido para Alejandro que, mesmo que tentasse se impedir, não conseguia parar de buscar sentido em seus sonhos.



Garcia era tão obcecado em encontrar sentido neles que tinha um caderno com todos os sonhos que já tivera algum dia com aquela mulher, e em todos estavam destacados com marca-texto as partes que ele mais achava marcante dos mesmo, além de escrever as teorias malucas que ele criava sobre o significados dos sonhos, algo que ele fazia neste exato momento.



Sentado em uma cadeira velha, tentava criar alguma conexão entre eles, mesmo que isso não o levasse a lugar algum, já que eram apenas sonhos; pedaços desconexos de sua memória e seus pensamentos que a mente dele seguia criando a cada noite quando ele se deitava para dormir.



Cansado de passar horas na mesma posição, Alejandro, joga seu corpo para trás e estica seus braços, fazendo seus ombros e cotovelos estalarem. Ele se manteve com as costas grudadas no encosto do assento e observou a luz fraca que passava pelas persianas grossas chegando até seu caderno surrado sobre a mesa.



Ele pegou o lápis que usava para escrever possíveis pontes entre seus sonhos, e virou todas as folhas do caderno, parando na última cheia de rabiscos de desenhos estranhos. Uma vontade vindo até ele o fez começar a esboçar da melhor forma o rosto da mulher de seus sonhos.



Ele rabiscava e apagava de forma repetitiva todos os traços que fazia na folha, sempre achando eles feios ou desproporcionais de mais para representar a beleza dela.



Alex não era o melhor desenhista ou ilustrador que podia existir, mas se sentiu orgulhoso de si mesmo quando fez o último risco na folha. O desenho não havia ficado exatamente realista mas também não era em um estilo Cartoon, era um estilo único, que ficava estranhamente bonito.



Os olhos pareciam os de personagens de anime, apenas mais pequenos e com um pouco mais de realismo; o contorno do rosto e os fios cacheados pareciam tão suaves, apesar de serem desenhados, e os lábios grossos da mulher e o nariz foram desenhados no melhor realismo que Alejandro podia fazer.



Parando de encarar o desenho que acabara de terminar, Alex, se levanta e estala mais uma vez seus ossos, assustando até mesmo ele quando seu pescoço fez um barulho extremamente alto, mas logo relaxou quando o mesmo parou de doer. Caminhou até a cozinha e encontrou sua avó bordando alguns panos.



- Finalmente o coelho saiu da toca. - fala com a voz divertida, apesar de no fundo se sentir um pouco sozinha com o afastamento do neto.



- Nem fiquei tanto assim no quarto, vó! - responde se sentando com um copo de leite ao lado da senhora. - Tá ficando bonito.



- Claro que tá! Eu que fiz. - A senhora ajeita o óculos no rosto e passa uma linha na agulha. - E você ficou bastante tempo no quarto sim. Quase não te vi hoje.



- Também não precisa exagerar.



- Você já viu que hora que é?!



- Três e meia? - Alex escora o queixo na mão e observa uma lagartixa passar correndo na parede atrás de sua avó.



- Não. Já é quase dez horas.


☾︎ • ☀︎ • ☽︎


Alejandro acordou frustrado na manhã seguinte; esperava encontrar a sua companheira de todos os sonhos - ele nem ao menos se lembrava quando havia sido a última noite em que não sonhara com ela.



Há mais de quatro anos - por volta de seus treze anos de idade - ela o visitara todas as noites quando o sono chegava até ele, o levando para um lugar com alguém que o queria por perto, e que não fosse sua avó.



Imaginava que ela havia aparecido por um pedaço de sua mente que sentia falta de uma amizade, ou por um pedaço de sua mente que ele não gostava, que ficou à tona quando a adolescência começou; seu lado sexual.



Alguns de seus pensamentos, quando mais novo, com aquela mulher faziam até mesmo Alejandro se sentir mal.



Mas, ele imaginou que ela continuaria com ele por mais tempo, mas não. Aquela quinta, quatorze de fevereiro, fora a última vez que sonhara com a moça de pele brilhante, voz hipnotizante e olhos negros.



Aquela fora a última vez que viu o rosto delicado de la Mujer Luminosa.


Mujer LuminosaOnde histórias criam vida. Descubra agora