cuatro

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14 de fevereiro

A respiração entrecortada, o coração acelerado de mais, tremedeira e as palmas das mãos suadas indicavam algo que Alejandro sabia muito bem: estava nervoso. Na verdade, qualquer pessoa que olhasse para ele conseguiria perceber o nervosismo que emanava do mesmo.

Ele amassou uma mão na outra e encarou a maldita folha à sua frente. Não conseguia se lembrar de nada do que estudara há horas atrás e isso só aumentava mais ainda o nervosismo dele.

Seu nome e de seu professor e a data do dia eram as únicas coisas que haviam feito ele usar sua letra cursiva quase ilegível. Alex respirou fundo, largou o lápis sobre a mesa em que sentara e ergueu seu olhar até o relógio na parede, no caminho encontrando o olhar de seu professor sobre si.

Sebastián, seu professor de história, acompanhou o olhar do único aluno naquela sala e constatou o óbvio; Alejandro reprovaria aquele ano.

- Dez minutos, Garcia. - disse com sua voz de velho fumante, apesar de não ser um.

Respirando fundo, Alex fechou os olhos e trouxe sua mão até suas bochechas frias. Tentou visualizar seu caderno e as aulas que tivera com o homem sentado à sua frente, mas de nada adiantou; a única coisa que vinha até sua mente eram trechos de sonhos com la mujer luminosa.

Mas de repente, uma lâmpada pareceu se acender em sua cabeça, e tentou escrever com a melhor letra possível as respostas. E quando Sebastián se aproximou dele, terminou de responder a décima segunda questão.

Tudo bem que foram doze questões de vinte e cinco, mas pelo menos escreveu mais do que apenas seu nome.

Saiu da sala devagar, depois de implorar para responder as outras perguntas, e andou tão devagar quanto uma tartaruga no corredor semi-iluminado da escola. Colocou um fone em cada ouvido e deixou suas músicas para tocarem no modo aleatório enquanto entrava em suas redes sociais, tendo o cuidado de não trombar com nada no meio da escola.

Ao chegar do lado de fora do instituto, subiu em sua bicicleta e pedalou devagar para o vento não bater mais forte em seu corpo e fazer ele virar um picolé humano.

- Merda. Merda. Merda. Puta que pariu, que merda! - murmurou para si mesmo quando floquinhos de neve começaram a descer na frente de seus olhos.

Fazendo o que não tivera coragem de fazer antes; pedalou o mais rápido que podia na bicicleta velha e barulhenta, sentindo a cara queimar com o frio e com o vento cortante.

Alejandro achou que seu nariz cairia quando colocou seu corpo magro dentro da pequena casa de sua avó. Ele se olhou no espelho pendurado na frente da porta de entrada e viu que, apesar de seu tom de pele não ser extremamente claro, suas bochechas e nariz estavam em um tom de vermelho muito forte.

- Já cheguei. - Sentando-se à mesa da cozinha, avisou o óbvio a sua avó.

Ela apenas o olhou com uma sobrancelha levantada, mas logo voltou a folhear uma revista que segurava e perguntou:

- Como foi na prova?

- Ãhn... Bem...

- Bem? - Largou a revista fechada na mesa e encarou seu neto por detrás dos óculos.

- É... eu... É... - Alex se levanta da cadeira e fala enquanto caminha de costas: - Vou tomar um banho, antes que eu fique gripado.

- Alejandro Herrera Garcia, eu espero que você não esteja mentindo para mim, garoto! - a senhora grita ainda na cozinha e escuta a porta do banheiro se fechar com um pouco de força, o que a faz soltar um suspiro inconformada.

☾︎ • ☀︎ • ☽︎

Olhando em volta, Alejandro, sentiu seus olhos arderem pelo branco que cobria tudo que podia ser visto desde onde estava. Girou seu corpo para os lados e, junto com o movimento, alguns floquinhos de neves começaram a cair, se juntando à neve no solo.

Seus dedos dos pés e seu tronco desnudo formigaram quando um forte vento bateu em seu corpo, o derrubando no chão. Alex se levantou rapidamente e tentou se esquentar.

Começando a caminhar sem rumo, se percebe perdido; todo lugar que sua visão alcançava parecia ter sido copiado e colado em algum programa de edição ruim, que deixava as imagens com muito ruído. Garcia jogou seu corpo no chão, decidido a não mover mais nenhum músculo, os quais estavam doloridos e enrijecidos pela caminhada no frio intenso.

Seus poros se arrepiaram quando, mais uma vez, uma rajada de vento o alcançou, mas, dessa vez, carregava, além do frio, palavras sussurradas; pedidos de socorro.

A pessoa se sufocava no frio, se sufocava na solidão, se sufocava em sua propia companhia, se sufocava com um silêncio incessante; um silêncio sem fim, um silêncio que a engolia pouco a pouco naquele lugar frio e solitário.

Me leve para casa.

Estava desesperada por voltar para sua casa; um lugar quente, onde sua carência poderia ser sanada.

Me leve para casa.

Uma e outra vez, o vento trouxera aquelas palavras desesperadas e quase inaudíveis.

Me leve para casa.

"Me leve para casa" um pedido inegável para o jovem Garcia que, em partes, conseguia se identificar e entender a dor de estar longe de casa; longe de quem você queria, e deveria, estar perto.

Alejandro se levantou e correu sem rumo, tentando achar a dona da voz desesperada, carente de calor e afeto.

Seu peito doía quando parou para respirar e, a aquelas alturas, depois de tanto tempo correndo, tinha certeza que não encontraria nem a pessoa e, muito menos, seu lar, de qual fora retirada contra a sua própria vontade, além de que a neve já começara cair sem parar, complicando mais ainda seu caminho.

Seus joelhos fraquejaram, fazendo seu corpo cair pesadamente no solo branco e gelado. Alex puxou o ar com força e se abraçou - em uma falsa esperança de ter seu corpo aquecido - puxou suas pernas apertando-as em seu peito. Ficando em posição fetal fez o que as pessoas fazem quando se deitam assim: chorou.

As lágrimas salgadas desciam como lâminas rasgando suas bochechas, o que só o fez chorar mais.

Me leve para casa.

Todo seu corpo doía intensamente, porém, quando escutou, novamente, aquela voz embalada por um recente choro, não se aguentou; não conseguiria deixar a pessoa na mão necessitando ajuda.

Ao se levantar reparou em algo que não havia percebido antes: pegadas de pés humanos descalços e que, pelo tamanho, obviamente não eram dele.

Mas nisso algo não se encaixava. Como aquelas pegadas ficaram intactas ali, sendo que a neve havia caído há pouco, e ainda caía? Alguém havia feito aquelas pegadas enquanto chorava? E se sim, porquê não falou com ele?

Me leve para casa.

Ignorou, como grande parte das coisas, as questões que sua mente criava e começou sua caminhada, dessa vez, seguindo as pequenas pegadas.

Me leve para casa.

Elas o levaram até um lago congelado.

Me leve para casa.

A voz sussurrante ficava mais alta a cada passo que dava mais para perto de uma mulher sobre a água congelada.

Me leve para casa.

Mais perto da que o chamara até lá podia sentir que a conhecia de algum lugar. Seus cabelos curtos e cacheados, a pele negra e a forma em que parava, faziam essa ideia se agarrar mais à ele.

Me leve para casa.

Alejandro a tocou no ombro e sentiu a pele da mulher se eriçar sob seus dedos. Com a aproximação de quem ela havia chamado, a mesma vira sua cabeça para o lado encarando os olhos castanhos e confusos do jovem.

- Venha para casa comigo, Alejandro.

Mujer LuminosaOnde histórias criam vida. Descubra agora