Era por volta da meia-noite. Algumas pessoas ainda estavam na casa dos Garcia, mas a maioria já haviam ido para suas próprias casas.
Alejandro estava no quintal, quase não saíra de lá a noite inteira. Dentro da residência estava, demasiadamente, abafado. Sentado em um balanço, que parecia estar por cair, se balançava lentamente. O vento frio da madrugada refrescava a pele morena do rapaz e fazia a árvore em que o balanço estava preso, farfalhar, juntamente com as outras dos quintais vizinhos.
Alex estava distraído, olhando para as estrelas com a boca aberta, quando escutou a porta que dava acesso ao quintal, se abrir e fechar. Olhando para a figura que vinha de dentro da casa e se aproximava dele, tentou decifrar quem vinha em sua direção.
Por milésimos de segundos, pensou ser alguma idosa vindo se despedir do rapaz e beijar-lhe a cara com os lábios molhados, mas descartou a ideia, já que a pessoa não tinha o caminhar nem corpo de uma idosa.
- Puta, que susto! - a garota exclamou. A voz suave parecia familiar à Alejandro.
- Me desculpa...?
- Não, tudo bem. A culpa foi minha mesmo, só me assustei porque não te vi aí, mas já tô indo pra dentro. Foi mal aí, cara. - A garota se virou e começou a caminhar rápido para dentro da casa, envergonhada.
- Pode ficar aqui! - Alejandro gritou, estava empolgado em ter a companhia de uma única alma que não tivesse de dois à dez anos ou de cinquenta para cima, e não mediu direito o tom de voz.
A garota, aliviada em não ter que ficar mais tempo dentro da casa abafada com velhas fazendo perguntas desnecessárias, com exceção de Antonieta, se viu quase gritando de felicidade com a fala do rapaz.
Em poucos segundos, ela já havia corrido até o lado do rapaz e se sentado em outro balanço preso à mesma arvore.
Os dois ficaram em silêncio e, quando ele parecia à ponto de engoli-los, a garota soltou a primeira coisa que lhe veio à mente:
- Tá meio frio, né?
"Ok, mente, você se superou dessa vez. Puta que pariu, pensava em qualquer outra coisa pra falar, sua idiota!" pensou querendo se enfiar de baixo da terra.
- Ãhn...? Tá... É... Tá... - respondeu o rapaz, o que só fez a garota se sentir mais idiota.
Alejandro, por sua vez, tentava se recordar de onde conhecia a garota, que parecia tão familiar à ele.
Bem... Isso se ele realmente a conhecesse ou a tivesse visto por aí.
- É... Qual o seu nome? - ele perguntou.
O silêncio que havia recaído sobre os dois parecia ainda mais forte depois daquela imensa troca de palavras.
- Maria.
- Aaah... Nome bonito.
"De onde eu conheço uma Maria? Nah... Eu não conheço nenhuma Maria, então, porquê sinto que conheço ela de algum lugar?" pensou e olhou para a lua.
Ele nem ao menos podia ver a mulher direito, talvez por isso ela lhe parecesse familiar.
- O seu é Alejandro, não é?
- É sim... - Alejandro falou e mirou seus olhos em algumas estrelas. Elas pareciam formar um bonequinho de palitos, talvez outra hora procuraria na internet sobre a constelação, isso se não fosse coisa da cabeça dele. - Vou pegar uma lata de cerveja, quer?
- Ãhn...? Quero! Pelo amor de Deus, eu não consegui beber nada la dentro, porque a minha vó ficava só me olhando feio, acredita?! - Maria, falava indignada, o que causou um pouco de graça em Garcia. - Ri não, idiota. Vou te dar logo um cambote!
- Vai me dar o quê?! - perguntou Alex enquanto ria mais ainda da garota.
- Vai lá pegar a cerveja, caralho! - Ela se levantou e fingiu que iria bater no rapaz, que saiu correndo atrás da bebida.
Alejandro não demorou a voltar com as duas latinhas em mãos e estender uma para Maria que, logo depois de abrir e beber um gole, agradeceu.
Os dois ficaram em silêncio olhando para o céu que, naquela noite em específico, estava extremamente estrelado. Maria observava aquelas estrelas com certa nostalgia, ela e seu irmão, como qualquer outra criança, sonhavam em ser astronauta quando crescesse, mas eles, realmente, levaram o sonho sério de mais.
Bem... Se não tivesse dado tudo errado de última hora, agora, ela e o irmão poderiam estar em uma nave, rumo à marte.
"Ah, Nick... Sinto tanto sua falta"
- Humm... Então, Maria, você faz o quê? - Alejandro perguntou, interrompendo os pensamentos da garota, que se sentia grata pois já estava se emocionando.
- Por enquanto, só estudando mesmo e você?
- Dou aula pra pirralho de dez anos. - falou, com um certo pesar na voz e bebeu o resto da cerveja em um gole só.
- Caramba, que coincidência... Eu tô estudando letras justamente pra dar aula. Você da aula de quê?
- Artes e ciências, mas se pudesse teria estudado advocacia. - Eles riram eAlejandro olhou para as próprias mãos.
Apesar de que em alguns momentos do dia se arrependesse de ter começado à dar aulas, gostava daquelas pestinhas... Bem, menos de seu xará, aquele moleque era insuportável e nem mesmo Antonieta teria paciência com ele.
- Acredita que um dia um moleque passou cola branca na lousa e depois super-cola na minha cadeira?! Eu não consegui fazer nada aquele dia e depois ainda saí como errado. - contou, fazendo Maria rir mas logo em seguida dar continuação à história.
☾︎ • ☀︎︎ •☽︎
Os dois riam e conversavam, quando o celular de Maria tremeu em seu bolso, o nome de sua avó brilhou em seus olhos negros quando sacou o aparelho da roupa. Ela atendeu e a velha a mandou ir logo para casa descansar que no dia seguinte iriam limpar a casa de cima à baixo, segundo ela, para aproveitar que a garota não teria tanto trabalho da faculdade na semana.- Eu já tenho que ir, mas a gente se vê por aí. - Maria se levantou e se espreguiçou, soltando um gemido quando seus ossos estalaram. - Boa noite, Alex.
- Não quer companhia até a sua casa? - Alejandro perguntou se levantando.
Ele gostou da companhia da garota e gostaria de ficar um pouco mais com ela.
- Nada, que isso! Se eu não estivesse de saia até pulava aqui a cerca. - Ela riu e apontou para a casa de Lucia, sua avó.
- Ah... Então, te levo até a porta. - Alejandro, já um pouco alto pelo álcool que consumiu, se inclinou como se estivessem no século dezesseis, dando passagem para a garota, que entrou no personagem.
- Oh, Obrigada, meu nobre cavalheiro, pela sua grande gentileza com esta dama tão atrapalhada... - Maria falava, enquanto passava seu braço pelo de Garcia e eles adentravam a casa andando de forma suave, como se a qualquer passo mais brusco eles pudessem se quebrar.
- Ah, não há de quê, minha... Bela senhora. - O rapaz começara a falar, mas quase engasgou quando olhou para Maria dentro da casa iluminada.
Como não percebera antes?
Como Alejandro não percebera antes que Maria era a mulher de seus sonhos?
Ele havia bebido um pouco sim, não negaria, mas tanto ao ponto de imaginar que estava conversando com alguém de sonhos antigos? Não, só começara a beber mais depois que ela se sentou lá com ele.
- Bem... Ãhn... Boa noite. - Maria coçou levemente a garganta com as unhas compridas e, se virando para o rapaz praticamente paralisado à sua frente, ela piscou várias vezes.
Aqueles olhos castanhos... Eles eram tão familiares, nunca os esqueceria.
Maria nunca escutara a voz daquele homem de seus sonhos, mas ele era...
Alejandro... Ele era... Ele era o garoto de olhos brilhantes de seus sonhos.
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Mujer Luminosa
Romance[LIVRO 1 DA TRILOGIA BRILLANTES] Alejandro Garcia sempre morou na mesma pequena e pacata cidade desde que se lembrava de existir. Marcada pela arquitetura de estilo medieval, Girona, conseguia ser um lugar tediante e, apesar de bela, a cidade não c...