tw: este capítulo contém menções a auto mutilações leves (roer unhas e dedos)
Realmente era uma coisa estúpida.
O círculo de pessoas no qual se encontrava era estúpido, Joe Bundão falando sobre seu divórcio era estúpido. Marie Katie falando sobre suas compulsões era estúpida, aquela sala mofada era estúpida. E a garota nova, ainda tao jovem também se tornaria estupida. Tyler se encontrava jogado na cadeira dobrável de metal, exaurido demais para balançar as pernas e demonstrar impaciência.Mas ansioso o suficiente para roer todas as unhas dos dedos, e depois o que quer que restasse da pele embaixo. Mas nada muito grave. Não é como se tivesse energia pra muita coisa mesmo.
Além do mais parte dele ficou levemente interessada nos cabelos tingidos de vermelho que viu de relance ao entrar no prédio. Perdeu o garoto de vista poucos segundos depois quando uma manada de crentes vieram em sua direção. O antigo prédio era usado para reuniões públicas de grupos como ONGs, reuniões de Alcoólatras e Narcóticos Anônimos e outros tipos de terapia. Aparentemente o povo de deus gostava especialmente de espalhar a palavra naquele prédio. Tyler achava que provavelmente devia ter algo haver com o motivo de ser mais fácil colocar uma ideia em uma cabeça vazia. Ou colocar uma besteira numa cabeça que já estava cheia delas. De qualquer forma, perdeu os cabelos vermelhos e encaracolados de vista indo para o outro lado do prédio
"- Tyler? Está conosco? Tyler...?"
O garoto afastou os pensamentos revoltosos da cabeça quando ouviu seu nome ser chamado ao longe. Angie, a terapeuta das sessões chamava de forma suave e insistente seu nome, enquanto todos na roda o fitavam. Ele odiou aquilo. Apesar de tudo, preferia as sessões individuais. Eram mais vantajosas (e só tinha uma pessoa lhe encarando nelas). Mas sua antiga terapeuta teve de mudar se país e sua mãe insistiu para que comparecesse a essas reuniões. Kelly achava que elas ajudavam de algo, então Tyler ia para os encontros odiosos.
"- Estou, sim."
"- Você não compartilhou nada conosco na última semana, talvez tenha algo para desabafar, tem sido tempos difíceis para todos e-"
"- Não, eu estou bem. Obrigada."
Bem. A palavra soou amarga na língua do moreno, que observou o peso de suas mentiras flutuar no ar por alguns instantes. Ele pensou em dizer como se sentia, nas olheiras e nas bolsas sob seus olhos, nas noites mal dormidas, nas crises de choro e ansiedade, nas dores no peito e...
Cale a boca seu imbecil. Ninguém quer ouvi-lo choramingar sobre as mesmas coisas. Tão idiota... Você é igual a eles, tão patético quanto eles reclamando de suas compulsões e fraquezas mas aqui está você. Um fraco!
"- Tem certeza?"
"- Tenho certeza, Angie. Obrigada."
Falou balançando a cabeça e engolindo em seco, cuidou de acrescentar um leve sorriso a última palavra, tentando desesperadamente soar mais convincente. Angie assentiu, mas não pareceu ter acreditado muito. Ele não tinha energia para fazer uma atuação melhor, então Angie teria que se contentar com aquilo.
Já estava fazendo o que podia para não faltar aquelas sessões intermináveis. Um leve tremor percorreu seu corpo e ele fechou o punho, respirando fundo, mas alguns minutos depois e ele não precisava mais estar ali.Então ele levantou-se assim que o relógio bateu 16:30 e seguiu para fora da salinha abafada antes mesmo de todos, saindo do prédio para encontrar uma brisa morna de fim de tarde da tediosa Columbus. Tyler seguiu para o pequeno estacionamento das bicicletas, que consistia em ferros retorcidos e enferrujados onde o garoto havia trancado a sua. Depois da escola havia passado em casa para pegar a bicicleta, mesmo estando particularmente deprimido, ainda gostava de escutar música enquanto pedalava na volta pra casa, faria esse esforço. Mas de novo foi arrancado de seus pensamentos quando a mesma onda de caracóis vermelhos apareceu em sua visão periférica, andando desajeitadamente em sua direção.
"- Ei, com licença, você viu minha irmã? Desculpe... Eu devia encontrá-la aqui. Ela foi para uma reunião nesse prédio e eu vi você saindo... mas ela não saiu ainda, sabe dizer se a reunião já acabou?"
Tyler não soube responder por uns segundos. A primeira coisa que pôde confirmar era que de fato os cabelos eram tingidos e a segunda era que o garoto tinha habilidades sociais tão precárias quanto ele, pois se apoiava nervosamente de um pé para o outro enquanto esperava uma resposta.
"- Bem...não sei se você sabe mas existem várias reuniões lá dentro. Para qual exatamente acha que sua irmã foi?"
"- Era uma terapia em grupo."
Ele disse decidido. Mas olhou ao redor de forma desconfiada e algo naquele ato disse a Tyler que o garoto não estava muito confortável com a situação.
"- E-ela estava usando uma blusa azul..."
"- Ah. Eu a vi, ela deve sair em alguns minutos. A reunião acabou agora, ela deve estar saindo."
O garoto murmurou um "obrigada" balançando a cabeleira vermelha enquanto colocava as mãos nos bolsos e olhava um pouco sem jeito para o chão, se encostando na parede de tijolos do local. Tyler terminou de destravar as correntes de sua bicicleta com um suspiro.
"- A propósito, boa escolha. É uma cor legal."
Falou. Não sabia bem o porquê. Mas falou e não podia voltar atrás, não se importava o bastante para querer fazê-lo também. Só queria comentar e comentou.
"- O que?"
Perguntou Josh.
"- Seu cabelo, a cor. Tenho um gorro da mesma cor. É uma boa cor."
Droga, por que falou cor tantas vezes? que idiota.
"- Oh. Meu pai não gosta muito mas acho legal mudar a cor às vezes. Bem, de qualquer forma obrigada...Qual seu nome?"
"- Tyler."
Respondeu, não sabendo se achou a leve vermelhidão que apareceu nas bochechas do rapaz agradável ou um pouco patéticas. Talvez Tyler que fosse um grande chato. Já não começava conversas há muito tempo, estava enferrujado naquilo, precisaria de tempo.
"- Ah, minha irmã chegou! Bem, obrigada de novo, Tyler! Foi um prazer."
Ele disse indo em direção a garota que Tyler havia visto no começo de sua sessão, no grupo, em quanto acenava de leve para o moreno com um sorriso simpático. Antes que se afastasse demais Tyler se viu dizendo:
"- Ei, não perguntei seu nome!"
Para qual o garoto gritou
"- É Josh! Josh Dun!"
E desaparecer junto da irmã em meio a multidão de pessoas que agora inundavam Mulberry Street, no horário de pico da pacata Columbus.
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mood disorder × joshler
Fanficonde Tyler tem um distúrbio de humor desgastante e conhece Josh, um garoto quieto, doce e meio ansioso que o faz repensar sobre sua realidade e seus episódios. juntos, eles vão descobrir muito sobre a vida e sobre os sentimentos um pelo outro.