CAPÍTULO 3 "Não pode ser real..."

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Saio da sala da diretora com meu corpo tremendo, eu ainda não compreendia o que estava acontecendo, como eles poderiam ter ido? Não faz sentido, não pode ser. 

Continuo chorando porém agora mais forte, em plenos pulmões, não ligo se estou no meio do corredor e caiu de joelhos no chão, não tenho forças para levantar, a minha família era a minha força e agora ela se fora tão rápido que nem pude me despedir, eu só queria minha irmã aqui comigo. 

— Kiya se acalma, vamos pro seu quarto primeiro.

Escuto Jessica falar, mas não consigo fazer o que ela me pede, então sinto Breno me levantar, ele coloca seu braço em minha cintura me guiando para o dormitório, choro o caminho todo parando algumas vezes para tentar recuperar o ar que falta em meus pulmões porém são só tentativas falhas. 

Quando finalmente chegamos no quarto eu me jogo em minha cama, não tenho mais lágrimas para chorar então fica só meus meros soluços de barulho no quarto, vejo todos os meus amigos me encarando com dó e pena, isso me mata, seus olhares torna tudo muito real, não pode ser real é um pesadelo, só pode ser isso, Marcela corta meus pensamentos me trazendo água com açúcar 

— Tome, vai te ajudar a se acalmar. 

Como se uma água fosse me ajudar em algo agora, mas mesmo assim eu pego e bebo ela quase engasgando por causa dos soluços. 

E então retomo o choro, sinto meus olhos cada vez mais cansados e pesados por chorar, ninguém diz nada eles só estão aqui um olhando para a cara do outro, eles não precisavam estar aqui, estão perdendo o jantar e Marcela  provavelmente também está perdendo a audição junto, pois quando ela me deu o copo de água ela se deitou na cama junto comigo e me abraçou forte, me senti segura no abraço dela mas não o suficiente para me acalmar.

Eu devo ter dormido enquanto chorava pois já via luz solar invadindo o nosso quarto, olho para o lado e vejo os três no mesmo lugar onde estavam da última vez que olhei para eles mas dessa vez estavam dormindo, parecia que Marcela não tinha mexido nem um músculo se quer, não acredito que eles passaram a noite toda comigo.

 Até que horas será que fiquei chorando

 Pensei ainda olhando para eles, eu realmente tenho sorte em tê-los na minha vida. 

Me mexo um pouco tentando sair dos braços de Marcela, não era brincadeira que seu abraço de ontem a noite foi forte, com um pouco de dificuldade consigo sair da cama sem acordar ninguém, pego minhas roupas e minha necessaire e vou ao banheiro, o que eu mais precisava agora era de um banho. 

Tiro minha roupa de ontem e ligo o chuveiro, deixando a água cair pelo meu corpo as minhas lágrimas voltam e escorrem junto com a água, dessa vez tento me segurar, não quero acordar meus amigos, já sofreram muito comigo ontem, me sento no chão do chuveiro colocando minha cabeça entre os joelhos. 

Nada ainda parece real 

 Eu não queria acreditar. 

Depois de um longo banho quando estou  saindo do banheiro com uma calça moletom e um blusão velho, acabo olhando meu reflexo no espelho, vejo que meu cabelo está da cor do armário embaixo da pia, ele tem uma tonalidade cinza escura quase preto, nunca vi meu cabelo tão sem cor, isso me faz arrepiar. 

Breno estava acordando quando saio do banheiro. 

— Eu te Acordei? Perdão. — não deixo ele responder minha pergunta e já li peço desculpas. 

 — Desencana com isso, sabe que eu não consigo dormir por muito tempo — responde ele se esticando na poltrona  — Mas e aí? Como que você está?

Estou quebrada, perdida, confusa, sem chão  penso logo em seguida, mas acho que responder que estou péssima já é algo. 

 — Não vou mentir não, estou péssima. 

Ele me encara por um tempo enquanto se levanta me chamando para um abraço 

 — Acredito que eu não posso fazer muito por você agora Kiya  mas saiba que estou aqui, está bem, não precisa guardar as coisas para você, pode conversar comigo, sei como se sente.— Breno tinha perdido sua mãe no ano passado em um assalto, eu sinto a dor em suas últimas palavras, nunca imaginei que compartilharemos dessa mesma dor. 

Ele me larga de seu abraço mas com as mãos  segurando  os meus braços  ainda me encarando, fala 

 — Você deve estar com fome, vou pegar algo para comermos, acredito que você não queira descer para o refeitório agora, não é?— concordo com um só movimento de cabeça. 

Não demora muito para Breno voltar com a comida de nós quatro, eu não conseguia comer, sentia que se colocasse qualquer coisa na boca eu vomitaria até o que não tem no meu estômago. 

As meninas foram acordando logo em seguida. 

 — Bom dia meninas — Breno fala levando um café para Marcela e uma maçã para Jéssica, ele sempre cuidou da gente como se fosse nosso irmão mais velho, sendo que ele é só 10 dias mais velho que eu. 

Marcela simplesmente resmungou algo que não entendi muito bem já Jessica levanta da cama, comendo a maçã e entre algumas mordidas e me pergunta 

 — Como que você está amiga? 

Sinto um receio em sua voz, só falo o mesmo que falei para Breno 

— Péssima. 

Continuo encarando meu copo com achocolatado e meu prato com duas torradas pensando na minha irmã  

Onde ela está? Será que já chegou ao Brasil? Como ela está reagindo com tudo isso? 

Meus olhos começam a encher de lágrimas de novo acredito que Marcela percebeu pois logo me pergunta

 — Você quer conversar sobre isso agora? 

Fico lhe encarando por um tempo, querer conversar eu quero porém não sei se consigo. 

— Cadê a Ísis?— é a única coisa que consigo falar e mesmo sendo apenas 3 palavras elas me doem muito. 

— Eu  não sei, mas já deve estar chegando, a diretora disse que talvez ela chegue na hora do almoço — Breno fala enquanto me passa uma caixinha de lenços, enxugo minhas lágrimas, era bom saber que a veria logo, só eram 9 horas da manhã, acho que sobrevivo até ela chegar. 

 — Gente vamos falar de outra coisa agora, por favor— suplico para eles ainda enxugando as lágrimas, todos concordam com a cabeça e assim fizeram. 

Eles falam de assuntos aleatórios, a maioria foi lembranças de coisas que fizemos nos outros anos, é claro que algumas histórias ou outras meus pais apareciam e isso me doía mas tbm me confortava lembrar de momentos tão bons que passamos juntos. 

A herdeira do sangue-verde // George WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora