A verdade

5.3K 535 1.4K
                                    


- Ué, não falei? Ela estava no vôo fretado pelo meu grupo para Milão.

- Mas com assim estava?

- Estava como copiloto, me lembrei pela tatuagem dela, era a mesma pintada no jato.

- Você não disse que era um jatinho?

- Ué e fazia diferença?

- Obrigada, Gil, depois a gente se fala...

- Espera! Vocês estão bem agora?

Não respondi, desliguei imediatamente.

Camila.

Ela não atendeu ao meu chamado, liguei para a empresa, ela estava em reunião. Então percebi que havia uma mensagem dela no celular

“precisarmos conversar com urgência!”.

De repente me dei conta de um monte de coisas. Corri e procurei uma folha de contrato assinado no primeiro arquivo que encontrei, lá estava,

Anghela Juliette Freire Di Piazzi.

Juliette.

Minha nova patroa.

A minha Juliette. Minha? Que maluquice! Nunca foi. Nunca foi de ninguém.

Não tinha cara pra voltar para a sala de vídeo conferência, por mais importante que fosse, ainda estava me refazendo do susto. Bebi uns dois copos d’água pensando no que deveria fazer e não cheguei a nenhuma conclusão a não ser desgastar meu salto no carpete, andando de um lado a outro. Mais ou menos dez minutos depois a secretária tocou no meu ramal.

- Senhora Sarah Caroline, a doutora Anghela pediu que fosse até a sala dela. - tava demorando.

- E onde fica? - minha voz soou insegura.

- Atravesse o primeiro jardim interno e siga até a sala de reunião 2, vire à esquerda e chegará na sala dela.

- Obrigada, Edna. - eu respondi ou sussurrei?

Foi o que fiz, logo depois de retocar a maquiagem, me olhar no espelho umas cem vezes pra ver se o meu cabelo estava bom e cuspir o chiclete, atual base da minha pirâmide alimentar.



{...}

Junho.

Narração Juliette Freire

Me olhei no espelho pela décima vez, odiei aquele cabelo castanho, mas enfim, precisava fazer alguma coisa, Lara estava me irritando profundamente com aquela história de fantasia sexual. Ainda não estava acreditando que ela me fez colocar uma foto parcialmente nua na internet, com uma biografia ridícula.

Balancei a cabeça mais uma vez ao perceber que estava me comportando como uma cordeirinha.

Meu relacionamento não estava mais dando certo, essa história de fantasia sexual seria minha última tentativa, já estávamos nos desgastando demais e definitivamente o que eu menos queria era que nos tornássemos inimigas.

Lara era linda, não muito inteligente, mas era educada e sofisticada, embora fosse bastante mau humorada nunca reclamava quando precisava me ausentar mas também não aceitava que eu reclamasse das viagens dela.

Era assistente de uma produtora de vídeo e viajava tanto quanto eu para matérias que estavam constantemente no National Geo. Era previsível que depois de um ano em meio estivéssemos caindo numa relação morna e sem graça. Talvez ela tivesse razão, afinal.

Assim que os empresários responsáveis pela fabricação dos containers saíram da sala, Vitória escondeu a risada mas meu primo Pietro não.

- Dio Santo Anghela Freire, que porra de cabelo escroto é esse?

A acompanhante - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora