XI

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Scarlett on

Eu não o conhecia. Pelo menos não o suficiente e nem por um tempo que tenha significância

Mas eu conhecia -e muito bem por sinal- um rosto desesperado. E eu notei isso nele quando o vi correndo sem rumo pela floresta.

Ele não ouvia, estava alheio ao mundo, imerso em seu próprio desespero.

E isso me fez jogá-lo no chão e encará-lo até que ele voltasse a tão querida sanidade. Eu via a perturbação em seu olhar, o desespero

E quando eu estava assim, a melhor coisa que conseguia fazer era correr. E então corremos. E pela primeira vez em toda minha vida, eu descobri que havia uma pessoa capaz de correr ao meu lado, acompanhando meu ritmo.

E eu me senti... eu não me senti sozinha pela perimira vez na vida

Me peguei observando seu lobo deitado na grama, com a cabeça sob as patas e os olhos fechados. Me peguei encarando-o por mais tempo que esperava

E eu não podia fazer isso

Ele era supremo, tinha mais o que fazer. Pela Lua! O irmão dele estava no trono agora...

E eu... eu não conseguia pisar em minha própria alcateia sem pensar que havia sido traída. Simplesmente não conseguia

Recebi diversos abraços e eu não sabia qual deles havia sido falso. Qualquer um poderia estar querendo me entregar, me usar

Volto a minha forma humana e caminho lentamente até Cristopher, que faz o mesmo que eu, enquanto se sentava na grama esticando os pés e apoiava o peso nos braços atrás de si

Me coloco ao seu lado, me acomodando na grama e encarando o rio que corria tranquilo

-Não se preocupe-ele diz quebrando o silêncio

-Me preocupar com o que?

-Em descobrir quem foi o imbecil que te traiu-diz fazendo com que eu o encare e note seu olhar seguro, poderoso

-Eu...-começo formulando uma mentira, mas simplesmente desisto e suspiro. Eu odiava mentiras- está tão na cara assim?

E ele sorri de lado desviando o olhar do meu

-Eu fui traído pelo meu próprio irmão-diz e eu engulo um seco- reconheço o olhar

Era verdade

Seu irmão não havia subido ao trono de forma pacífica. Na verdade, eu não sabia da história

-Como ele...-começo com delicadeza sem saber se ele queria ou não falar sobre aquilo

-Uma mulher-responde com voz grave e carregada de um ódio mortal que eu nunca pensei que veria

Uma... mulher? Tinha uma mulher na equação?

-Você pensa em voltar? Pensa em ocupar o trono novamente?-indago e ele parecia surpreso

-Está perguntando o que eu quero?-questiona, confuso

-Óbvio!-respondo como se fosse óbvio e ele ri

Ri como se eu houvesse contado uma piada incrível e engraçada

-Desculpe-diz cessando a risada aos poucos- é que é a primeira vez que fazem isso

-Você é literalmente velho para caralho-digo indignada e ele ergue a sobrancelha, surpreso- velho tipo, conheceu meus pais antes de eu nascer. Como infernos ninguém te perguntou o que você queria da sua vida?

Eu estava indignada. E isso somada à minha falta de preocupação em medir minhas palavras era uma combinação perigosa

-Não se trata do que eu quero, e sim do que eu preciso fazer-responde e eu me levanto em um pulo sentindo meu sangue ferver como se ele tivesse insultado meus pais mortos

A loba da revolução Onde histórias criam vida. Descubra agora