IV. Sonsa

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Sexta-feira, 4 de junho de 2021. Rio de Janeiro, Brasil.

Rafaella POV.

R: O que você acha desse? Está melhor que o outro?

Envio a mensagem para Daniel junto a uma nova foto, é a quarta vez que troco de roupa essa noite.

Olho mais uma vez para o espelho e analiso o vestido preto. Parece bom para a ocasião, mas ao mesmo tempo parece um pouco... não sei, exagerado?

Uma nova notificação chega em meu celular e leio a resposta de Caon.

D: Esse está mais provocante que o outro, porém mais composto que a primeira opção. Me parece perfeito, acho que a Bianca pode sobreviver à ele.

Acabo rindo da implicância de Daniel com a Bianca. Só consigo ficar ainda mais encantada quando à vejo envergonhada ou tendo seus pequenos surtos que muitas vezes são quase imperceptíveis para quem não repara muito.

Lembro bem da primeira impressão que tive dela, há exatamente um mês. Não foi amor à primeira vista, foi algo mais voltado para a curiosidade. Claro que a beleza dela é inegável, e admito isso desde o primeiro momento, só que algo em seu olhar me chamou atenção, parecia assustado, ansioso, mas ao mesmo tempo era cheio de vida e apaixonado.

Até hoje não consigo explicar aquele episódio em meu consultório. Eu me surpreendi quando ela começou a falar tudo aquilo, não entendi o que estava acontecendo, mas em algum ponto sua história me tocou, a forma como ela colocava tudo para fora como se estivesse carregando um grande peso, a dor em seus olhos enquanto ela falava sobre as pessoas que saíram de sua vida.

"Ela é especial". Foi o que pensei naquele momento.

O que ela não sabe é que eu também sei como é ser abandonada por um "pai", mas diferentemente dela, eu fui criada pelo meu, eu soube o que era receber amor paterno, eu soube o que era ter a quem recorrer além da minha mãe, mas isso mudou aos dezesseis anos, quando assumi minha sexualidade. Faz doze anos que não tenho mais pai.

Inicialmente eu não olhei para Bianca de outra forma, bom, pelo menos não na forma de cogitar chamar ela para sair, mas encontrar ela naquele jantar com Gizelly fez tudo mudar por completo. Sua beleza parecia me atrair mais que o normal, meu interesse para saber o que ela falava parecia maior, minha vontade de passar mais tempo com ela foi forte o suficiente para me fazer oferecer uma carona para ela, e quando percebi eu já estava querendo convidá-la para sair comigo, já estava querendo conhecer aquela mulher mais do que eu poderia julgar querer inicialmente.

O toque do meu celular me faz despertar, e claro, é Gizelly ligando.

– Vai casar é Rafaella? Que demora é essa, minha filha?

– Já estou quase pronta, Gi – falo rindo – só estou finalizando a maquiagem.

– Tudo bem então, quando acabar vem aqui me buscar.

– Como você é folgada, Bicalho – implico.

– A culpa não é minha que a minha uber, vulgo sua irmã, está viajando e eu não tenho habilitação porque fui reprovada cinco vezes no psicotécnico.

– Tudo bem, chego aí em quinze minutos – falo e desligo antes que ela solte mais algum comentário inconveniente.

Retoco o batom e passo perfume mais uma vez.

"Espero que ela não seja alérgica a perfume, pois essa foi a terceira vez que apliquei ele."

Vou o mais rápido possível em direção a casa de Gizelly, que já mandou cerca de dez mensagens perguntando se eu iria demorar.

InefávelOnde histórias criam vida. Descubra agora