XI. Intimação

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Segunda-feira, 26 de Julho de 2021. Rio de Janeiro, Brasil.

Bianca POV.

O céu deve ser tão lindo com seus belos campos floridos enquanto pessoas alegres correm sem rumo, com anjos tocando harpa enquanto almas conhecidas se reencontram; sorrisos, alegria, pureza por todo lugar... não sei se é realmente assim, mas tenho certeza que conhecerei tudo isso em poucos minutos, porque estou prestes a morrer, consigo sentir minha alma se esvaindo do corpo a cada segundo em que permaneço sob o olhar de Marcela.

"Sou tão jovem para morrer, tenho tanto para viver ainda, lugares incríveis que quero conhecer, dedos maravilhosos onde quero sentar..." suspiro pesarosamente com essa lembrança e a voz da razão grita em minha mente "sua gay safada, para de pensar em sentar, tu vai morrer agora, filha da puta."

– As duas vão permanecer em silêncio mesmo? – a voz de Marcela me traz para a realidade – Bianca, fale você então.

"EU? Eu não lembro nem como se respira no momento, caralho, imagina explicar alguma coisa. Vou passar mal, ai meu coração."

– Marcela, ela está pálida – Rafaella me olha preocupada – ela vai acabar infartando desse jeito.

– Felizmente a namorada dela é cardiologista, não é mesmo? – o cinismo em sua voz era evidente – ainda estou esperando uma explicação sobre tudo isso, e não tenho a noite inteira para isso.

– Foi aquela boca de caçapa quem te falou, não é? Eu vou matar a Gizelly.

– A Gizelly já sabia disso? – a voz de Marcela sai mais alta – eu vou matar aquela traidora safada por ter me escondido isso.

– Má, não foi cul...

– Rafaella, use o seu direito de permanecer em silêncio e não piore sua situação – seu olhar se direciona para mim – agora eu quero ouvir o que a Bianca tem para falar.

"Esquece o céu, aparentemente estou em uma queda livre para o inferno, já até posso ouvir... Call me when you want, call me when you need, call me in the morning, I'll be on the way."

Meu amor? – a voz de Rafaella agora é mansa – está tudo bem, eu estou aqui com você.

Ela segura minha mão e entrelaça nossos dedos me dando uma dose de confiança. Ela estava ali segurando a minha mão, não tinha me abandonado, então eu teria que enfrentar a sua irmã agora e lutar por nós.

– E-eu... – olho para Rafaella que sorri e dá um leve aperto em minha mão – eu conheci a Rafa alguns dias antes de te conhecer, é uma longa história, mas resumindo tudo, a Mari marcou uma consulta errada e no lugar de vir para uma consulta com você, eu acabei na sala da Rafaella e contei toda a minha vida achando que ela era a psicóloga – fixo meu olhar em um ponto fixo no chão – depois desse dia eu rezei muito para não cruzar mais nossos caminhos, mas você sabe o que aconteceu, quatro dias depois eu acabei indo conhecer a namorada de uma das minhas melhores amigas, você.

– Por isso que você parecia tão nervosa naquele jantar?

– Sim, eu estava morrendo de vergonha de ter que encarar a Rafaella depois de ter pago o maior mico da minha vida justo com ela, mas eu não podia sair correndo do restaurante, mesmo que fosse a minha vontade – a risada de Rafaella me distrai por alguns segundos – então ela insistiu para me levar para casa naquela mesma noite, e eu percebi como tinha sido bom ficar na companhia dela, mesmo que nada demais tenha acontecido. Depois disso nossos encontros se resumiram aos momentos em que todas nós estávamos juntas ou aos rápidos momentos em que nos encontrávamos aqui na clínica.

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