Inefável

X. A casa caiu?

Sexta-feira, 23 de Julho de 2021. Rio de Janeiro, Brasil.

Bianca POV.

Eu estou surtando. Desde o domingo, quando percebi que estava apaixonada por Rafaella, eu não consigo parar de surtar. Tentei ao máximo transparecer normalidade quando ainda estava com ela, responder suas mensagens de forma natural, mas a verdade é que eu estou surtando! E para piorar tudo, não consigo conversar com Mariana, com minha mãe, com absolutamente ninguém sobre isso.

Meu coração dispara sempre que uma nova mensagem chega, e logo depois eu fico sorrindo igual uma idiota. Não consigo parar de lembrar na nossa noite, das sensações que os seus toques me proporcionaram, da calma que eu senti dormindo em seus braços, do quanto me senti cuidada e adorada em todos os momentos da manhã seguinte.

Mas agora estou parada em frente a porta do seu consultório tentando arrumar coragem para lhe ver novamente e fingir que está tudo bem quando na verdade não está. Como minha consulta seria a última da tarde, ela pediu para me ver, já que sua agenda agora estaria livre.

"Entre logo nessa sala, Bianca! Você só tem alguns minutos antes de ir para a sua consulta, vá encontrar a Rafaella, afinal, você é uma mulher ou um rato?" a voz racional grita em minha mente, mas a resposta emocional não é nada agradável "aparentemente um rato! Eu sou uma vergonha, vergonha para mim, para a minha família, até para a minha vaca que eu nem tenho."

Com a mão tremula, dou duas batidinhas na porta e ouço a voz de Rafaella do outro lado me pedindo para entrar.

– Bia – ela sorri no instante em que me vê passar pela porta e vem em minha direção – pensei que tinha desistido de vir me ver.

"Olha esse sorriso... eu estou completamente fodida com essa mulher."

– Nunca – digo simplesmente a braço o seu corpo.

Tão apertado quanto o nosso abraço, está o meu coração nesse momento. Em seus braços o medo que sinto parece duplicar.

"E se eu perder essa sensação gostosa de estar em seus braços, me sentindo protegida de tudo?"

– Está tudo bem, linda? – ela pergunta ainda me apertando contra sim.

– Tudo bem – acabo mentindo.

"Não, não está tudo bem. Eu estou apaixonada por você e estou com medo, muito medo. Não está nada bem."

Rafaella se afasta e sinto meu estômago revirar. Seus lábios são gentis, não sinto a mesma malícia que senti há algumas noites, apenas carinho, respeito e... paixão?

"Não, definitivamente não, ela não está apaixonada por mim. Ela não se apaixonaria por alguém como eu."

– Você não parece tão bem, Bi – ela parece realmente preocupada e me sinto culpada por ser tão transparente.

– Estou bem, só senti sua falta – enterro o meu corpo em seu pescoço e inspiro profundamente – você está muito cheirosa, mas esse não é o perfume de sempre, não é?

– Não, decidi mudar, você gostou desse?

– Eu já estava acostumada com o outro, mas esse é realmente muito bom – passo o nariz por seu pescoço e deixo um beijinho em sua pele – combina muito com você.

– Ainda bem que você gostou, caso contrário eu desistiria dele – ela diz e eu me afasto para encará-la – uai, eu não iria continuar usando se você não gostasse, afinal, quem vai ficar sentindo ele é você, ou não é?