Capítulo VI

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Enquanto Eduardo buscava outra garrafa, Iza se ajeitou melhor no sofá.

- Um Tannat 2005, excelente safra. – disse buscando a aprovação dela.

- Não sei se devo beber mais. Está ficando tarde. As crianças já estão cansadas.

Eduardo riu cúmplice.

- Fica, vamos conversar mais. É melhor terminar esse dia terrível em boa companhia, não acha? – disse erguendo a garrafa e dando um sorriso de quase molhar a calcinha.

- E os meninos?

- Shhhhh... vem cá.

Caminhou para uma sala ao lado, puxando Iza pela mão. Da porta contemplaram a cena: Nina dormia no colo de Léo que estava todo desajeitado no sofá. Havia presentes espalhados por toda sala e embrulhos jogados. A medida que caminhavam em direção as crianças, tinham a sensação de estarem andando dentro de uma piscina de bolinhas.

Os dois riram baixo. Rapidamente, Eduardo retirou os brinquedos do sofá e ajeitou Léo entre as almofadas. Ela, encantada com o gesto, começou a recolher os embrulhos e os presentes, separando em duas sacolas. Pegando uma manta ele cobriu as crianças. Quando acabaram de organizar tudo, ele pegou em suas mão e a conduziu para a porta que dava acesso ao jardim.

- Vou buscar nossas taças.

Andando pelo jardim Iza sentiu a brisa fria em seu corpo. Ficou arrepiada. Era um caminho de tulipas coloridas que dava acesso a uma piscina iluminada. À frente, um gazebo com almofadas colorida e do outro lado, um lindo gramado com uma tenda com vestígios da festa.

Sentiu duas mãos sobre um tecido macio descerem do alto dos seus ombros, deslizando preguiçosamente pelos seus braços. Eduardo havia lhe vestido com uma manta com cheiro inebriante. Antes que pudesse se recuperar do vulcão de sensações que estava sentindo com aquele toque, percebeu que ele estendia a ela uma taça de vinho. - "Esse homem é um polvo?", pensou.

- Venha? – convidou ele, estendendo a mão.

Caminharam entre as tulipas até chegarem ao gazebo. Iza olhou intrigada. Havia uma mesa baixa com vários tipos de frutas, frios, antepasto e flores. Em cima da mesa tinha um cartão. Eduardo sorriu se sentando e puxou Iza para o seu lado.

- Cortesia da minha amiga Cecília. Desde que me mudei para essa casa, vir para cá depois que a Nina dorme é o meu ritual nesta data. Ela diz que é para deixar a solidão mais agradável.

- Pelo visto estou atrapalhando seu momento de solidão. – se desculpou com um olhar meigo.

- Eu convidei você para ficar. Você é uma ótima companhia. Vem, vamos comer.

Nem se deu conta do quanto estava faminta. A conversa com Max havia lhe tirado o apetite. As várias taças de vinho que tomara já começavam a fazer efeito, já se sentia relaxada. Comeram, conversaram e riram das histórias de Eduardo na época da faculdade. Iza contou a ele suas aventuras como fã número um da banda Jingles.

Ele a ouviu contar sobre o trabalho e viu a paixão que ela tinha pelos seus "velhinhos". A ONG era um projeto bem estruturado, que fornecia várias opções de lazer, passeios, viagens, cursos, inclusão digital e contava com a integração de quase cem inscritos de todas as classes sociais.

- Você deve ter muitos colaboradores; é um projeto bem completo. – observou ele enquanto comia cerejas.

- Eu tinha um grande colaborador. Quando a mãe de Noah foi diagnosticada com Alzheimer, minha avó entrou em depressão logo depois de ficar viúva. – contou ela medindo as palavras. - Eu idealizei tudo naquele lugar, reformei uma casa que meu pai tinha deixado em meu nome e eu e minha avó fundamos a ONG. No início, não estava muito empolgada, mas ela me mostrou que era possível transformar aquele lugar e as pessoas que passavam por lá. Foi assim que me apaixonei.

- Posso ver a paixão nos seus olhos. - falou sem duplo sentido, realmente interessado.

- A mãe do Noah era a única interna que tínhamos. Ela precisava de cuidados especiais e definitivamente ele e sua vida louca não eram o mais apropriado para ela. Ele começou a custear as despesas da mãe, reverter seus impostos em colaboração e, por fim, destinava 20% de tudo que ganhava ao projeto.

- Quer dizer que você que você perdeu o financiador do seu projeto?

- Sim. Estava esperando algumas respostas para começar a buscar novos colaboradores.

- Pois você acabou de ganhar um e grande. – disse, pegando o celular.

- Como assim? O que está dizendo? – questionou incrédula.

- Hoje tivemos uma longa reunião. Minha mãe agora é a Presidente da Comissão de Responsabilidade Social da empresa. Precisamos de um projeto inovador e com grande potencial para apoiar. Garanto que ela vai ficar eufórica com essa ideia.

- É a melhor notícia que poderia receber. Podemos marcar para que ela nos faça uma visita?

Eduardo discou imediatamente para mãe.

- Você está louco! São quase duas da manhã.

- Confia em mim, ela está esperando a minha ligação.

Eduardo contou à mãe de maneira profissional, mas bastante entusiasmado. Pelos gritinhos que ouviu do outro lado, teve a certeza que a ideia realmente era bem-vinda. Iza sorriu tentando entender como um homem podia lhe fazer sentir tão bem num dia como aquele. Ele a fizera esquecer completamente da hora, sem a menor vontade de ir embora, e ainda por cima resolvera quase a metade de seus problemas com um único telefonema.

Estava tão concentrada em seus pensamentos que nem percebeu que Eduardo já havia desligado o telefone e olhava fixamente para todos os contornos do seu rosto como se quisesse decorar cada parte.

- Por que você disse que ela esperava por sua ligação? Está tarde.

- No dia em que Nina nasceu, ela precisou ficar no hospital. E fui para casa, peguei uma garrafa de uísque do meu pai e sentei na beira da piscina. Fiquei lá até o dia amanhecer. Minha mãe me fez companhia por um longo tempo naquela noite. Tenho repetido esse ritual há oito anos. Quando me mudei para cá, nossa conversa da noite se limitou ao telefone.

- Ela deve ter estranhado a conversa deste ano. Aposto que nunca falaram sobre trabalho.

- Com certeza, mas isso nós dois vamos explicar para ela amanhã. Ela está nos esperando para almoçar. Quer saber todos os detalhes do projeto. Por pouco não vinha aqui agora mesmo.

Iza não conseguia imaginar as consequências daquele convite, mas seu coração se encheu de esperança e uma alegria invadiu sua alma. Num rompante, pulou para perto de Eduardo e deu-lhe um abraço de gratidão.

- Muito obrigada.

Antes que tomasse consciência que agora estava completamente envolvida em seus braços, ele segurou seu queixo com delicadeza. Fitou seus olhos e em seguida sua boca aproximou-se dos seus lábios. Antes de beijá-la, tomou fôlego como se fosse mergulhar na imensidão do desconhecido. Começou a beijá-la com ternura, ela o abraçou ainda mais forte, correndo suas mãos pelos seus cabelos desalinhados, afagando-os.

Eles se beijaram por um longo tempo até que perdessem o fôlego. Afastou-se um pouco, completamente envolvida e entregue. Pelo resto da madrugada, até que o sol nascesse, ficaram ali abraçados, se beijando e conversando até adormecerem.


Não Pare de Sonhar + Acordei! E Agora?! (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora