Capítulo 1 (Retirada dia 08/12)

487 108 35
                                    

O prédio se agigantava à minha frente. Eu havia pedido uma licença na escola em que dava aulas para vir aqui. Estava curiosa sobre o que o advogado tinha dito quando veio me visitar há um mês.

Lembrando daquele momento, ainda começo a rir. Achei que era um cobrador vindo atrás de alguma dívida do meu pai e, por isso, quase expulsei o homem antes de ele começar a falar sem pausa para a respiração.

- Senhorita, meu nome é Heitor Bonsucesso. Sou advogado e vim lhe convidar para a leitura do testamento do falecido João Coimbra que acontecerá dentro de trinta dias.

- Advogado? Testamento? João Coimbra? O senhor tem certeza que veio no endereço certo?

- Juliana Lira Martins. Filha de Ana Lira Coimbra e Flávio Martins.

- Acho que temos um equívoco. Minha mãe era Ana Lira Martins.

Ele me observou com um sorrisinho no rosto.

- Esse foi o sobrenome que sua mãe adotou depois de casada. Na sua vida de solteira, ela era uma Coimbra. Um lado mais pobre da família, se posso dizer assim. Acontece que meu falecido patrão sempre foi o mais afastado e, como posso dizer, o mais endinheirado. Na verdade, ele era um velho difícil e avarento, que Deus o tenha, mas quis se redimir com um testamento generoso.

- Você falou um monte de coisas e não explicou nada. O que eu tenho a ver com isso?

- Bem, você é a única descendente viva do lado pobre da família e o senhor João quis contemplá-la no testamento como um gesto de redenção. Um pouco tarde, mas acho que vale a pena, deve salvar um pouco da alma dele. Então, tenho a honra de dizer que você foi a escolhida.

- Não sabia que os advogados eram tão engraçadinhos.

- Desculpe a minha falta de formalidades. Se desejar, começo a agir dentro de um decoro legal responsável.

Rolei os olhos para aquele idiota. Pelo menos, ele falava de um jeito que eu pudesse entender.

- Então você está dizendo que daqui a um mês, devo comparecer no endereço que me dará para escutar a leitura do testamento de um parente distante rico que desejava se redimir com o lado abandonado da família Coimbra. Prevejo que, talvez, o meu quinhão não deva valer a passagem do transporte até lá.

Ele fez uma expressão de "pode ser que sim, pode ser que não".

- Aí é uma escolha da senhorita. Mas, quer um conselho?

- Fique à vontade...

- Vá nem que seja para matar a curiosidade. Melhor ter a certeza do que permanecer na dúvida.

Naquele dia, o tal advogado maluco entregou um documento com a minha convocação para a leitura do testamento e endereço no qual deveria comparecer.

Pensando naquilo agora, em frente ao prédio chique onde estava, questionava-me se, realmente, era melhor a certeza ou a dúvida, já que tinha perdido um dia de trabalho e ainda gastara um dinheirinho considerável para pegar dois ônibus e metrô.

Sem perceber que estava parada já há algum tempo, fui surpreendida por um maníaco numa motocicleta enorme que quase me atropelou. Desequilibrei-me a ponto de cair sobre meus joelhos.

O idiota, completamente vestido com um terno preto, a mesma cor da sua moto imensa, parou mais na frente, retirou o capacete e olhou para trás... Nossa! Ele parecia um dos atores coreanos que eu assistia nos meus doramas! Será que esse dia começaria a ficar bom? Fiquei boba olhando o cara e pensei que ele viesse me ajudar, já que eu ainda estava esparramada no chão, mas o que ouvi foi:

Quatro herdeiros e a escolhidaOnde histórias criam vida. Descubra agora