2. Demônios e Confrarias

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Ao despertar de seu desmaio, Shinosuke levou suas mão aos olhos. Esfregando para clarear sua visão percebeu que o terror de sua vida acabara de se tornar uma maldição eterna inexplicável. Ainda deitado, se espantou ao ponto de seus olhos tremerem, vendo no teto que Ajin estava contorcido e seco. Quem matou Ajin? O que aconteceu depois que Shinosuke desmaiou?
Shinosuke levantou-se do chão da cozinha e procurou correr para fora da casa, mas escorregou ao chão do corredor e percebeu que estava encharcado de sangue, provavelmente de Ajin.
Sem entender nada ele procurou o banheiro, não podia sair naquele estado. Lavou todo o sangue do seu corpo por quase uma hora, e suas vestes tomaram uma cor escura medonha que não saía com a água. Virou-se para a porta do banheiro após terminar, e deu de cara com um homem enorme parado.

- Você, baratinha, vem comigo. Não vou te forçar, venha se quiser.

E saiu o robusto homem em direção à sala.
Shinosuke não pareceu confiar no homem, mas dessa vez algo estava diferente, porquê ele teve escolha, então decidiu, seguiu o homem. Passando pela sala sentiu um grande calafrio e se arrepiou por um momento, reagindo como quem estivesse com grande frio.

- Meu nome é Edward, só Edward. Sou americano e blá blá blá! Odeio apresentações, vamos direto ao ponto criança. Você sabe o que aconteceu lá?

Shinosuke, com seus cabelos espantosos, sua veste negra, e seu inocente e vazio rosto, respondeu ao Edward com uma pergunta:

- Você é policial?

Sua voz não era mais tão fraca e falha, mas ainda soava bem baixo.

- Pode-se dizer que sim, mas quero que me conte a verdade.

Edward tinha um cabelo estilo militar loiro, com uma camisa justa que definiam seus músculos, olhos verdes claríssimos e vestia calça jeans e uma bota marrom. A camisa, por dentro da calça realçava a fivela dourada de seu cinto.

- O senhor não vai acreditar, o que eu vi... foi uma coisa como... esquece, eu estava desmaiado, quando acordei eles estavam mortos.

"Eles?" Pensava Edward.

- Você viu um demônio?

Perguntou Edward sem receio.
Shinosuke olhou-o surpreso, mas confirmou com a cabeça baixa.

- Olha garoto. Tenho que te levar à um lugar, e te apresentar para pessoas que podem te ajudar, mas só se você quiser.

Parecia impossível, e com certeza era ingênuo, mas Shinosuke deu um leve sorriso ao ouvir a palavra "Ajuda" seguido de uma liberdade de escolha.

"Talvez seja diferente agora" ele pensou.

Edward tocou o ombro de Shinosuke, e uma transportação ocorreu.

- Calma baratinha, não precisa ficar assustado, logo vai entender tudo.

- Senhor Edward... meu nome é Shinosuke Ao...

Edward ficou surpreso ao ouvir sua voz tão séria. Bagunça o cabelo de Shinosuke acariciando-o e respondeu com um sorriso:

- Shinosuke... Ao? É um grande nome, baratinha! O apelido vai pegar rápido.

Shinosuke deu um suspiro.

- EEEEDWAARRDD!
Uma voz grandiosa irrompia o salão.

- Sujou. Espere aqui baratinha.
Disse Edward ao sair apressado.

Foi para, aparentemente, um corredor da instalagem, e achou a fonte da voz estridente.

- Olá chefe, ao quê devo a honra?
Fez uma reverência real forçada.

- Me poupe dos seus joguinhos garoto, onde está a criança?!

O homem, careca, com uma cicatriz do meio da testa, que fazia uma espécie de desenho no meio da cabeça e repartia para a orelha se mostrava bem sério. Ele vestia uma yukata vermelho escuro com desenhos de dragão estampado e detalhes em dourado, calçando um chinelo de madeira tradicional.

- Está na sala de reunião, não podemos apressá-lo, não sabemos que problemas esse garotinho enfrentou até aqui. Deixe-o comigo, POR FAVOR!

Dessa vez uma reverência militar séria.
O chefe encarava com seriedade e destreza no olhar, mas decidiu acatar.

- Se vacilar, eu passo essa missão para a Milly.

Disse o chefe, causando repulsa e calafrios em Edward.

"Tsc! Aquela vadia sabotadora..."

Pensou Edward ao observar seu chefe se distanciando. Ele retornou para a sala de reunião, onde Shinosuke estava, inclusive, sem se mover um milímetro de onde estava anteriormente.

- Certo baratinha, sente-se. Tem muita coisa para absorver agora, espero que escute com atenção. Geralmente não converso isso com crianças... mas, seu caso é único por um motivo ( além do óbvio ) que logo entenderá.

O lugar onde estavam se chamava "Confraria Subterrânea", uma instituição que treina novos usuários de demônios para que ajudem na caça daqueles que usam seus poderes para o mal.
Existem 3 tipos de pessoas no mundo: Uma pessoa que cogita e pratica a maldade, outra que cogita mas não pratica, e a que nunca cogitou nem praticou a maldade. Praticantes malignos recebem a carta de pacto de seus demônios para que eles possam se manifestar livremente no mundo material em nome de seu portador, e a Confraria Subterrânea trata de exterminar esses seres e prender seus portadores, ou seja, eles caçam todos que fizeram o pacto, seja qual for o motivo.

As que cogitam mas não praticam a maldade trabalham na Confraria Subterrânea como caçadores. Os que não fizerem o pacto apenas ganham em seus corpos os poderes demoníacos de acordo com o seu pecado ou boa ação grandiosa. Edward tem o poder da transportação, podendo mandar ele próprio e o que tocar para onde ele quiser, e esse poder foi adquirido graças a sua tentativa de boa ação em levar um cachorro atropelado para o veterinário enquanto chovia e ventava fortemente. Nessa noite o cachorro morreu antes de chegar no veterinário, e Edward sentiu uma profunda frustração, e foi aí, que ele recebeu sua carta, mas recusou o pacto, obtendo seu poder e se tornando poderoso com os treinamentos da Confraria.
Já os que nunca cogitaram nem cometeram nenhuma maldade é uma grande fachada. Fazem parte dessa ala a grande igreja e seus paladinos, o alto escalão, o rei, e etc... mas isso é tudo uma fachada que controla muito bem o povo, causando a impressão de uma terra perfeita que não existe.
Edward conta ainda que, dentre os tipos de pessoas, também há Confrarias, como a Confraria Subterrânea que caça os maldosos, Confraria das Sombras que caçam a igreja e quem se opuser, a Igreja que repudia qualquer usuário de poderes demoníacos e assinantes do pacto, e por fim os civis que odeiam os 3 lados, famosos anarquistas e integrantes do exército. Mas, somente quem tem poderes demoníaco sentem a presença do demônio, e somente quem fez o pacto pode ver outros demônios.

- Tudo costumava ser assim. Até você aparecer, Shinosuke. Você não tem energia, não fez pacto, não tem poderes, e mesmo assim conseguiu ver um demônio e matá-lo junto ao portador, mesmo que não se lembre disso.

- O que quer dizer?
Perguntou Shinosuke, olhando-o um pouco curioso e receoso.

- Quero dizer, que achamos que você tem um tipo de poder diferente do que estamos acostumados, talvez só um dom. Há no mundo demônios bons, advindos das boas ações como o meu, e há demônios ruins como o do senhor Ajin, mas você, não tem nenhum dos dois, e mesmo assim garoto, como conseguiu? Quem de fato é você?

Kodokuna Tsumi - Pecado SolitárioOnde histórias criam vida. Descubra agora