UM HOMEM QUE EU CONHECI
Conheci um homem que construiu uma vida baseado em seus princípios e valores. Ele amava tão facilmente as pessoas que se doava como se fosse as suas últimas horas de vida, pois acreditava na compaixão e a sua disposição em servir era contagiante. Suas finanças eram equilibradas e, por isso, tinha condição de estar sempre ajudando os que lhe cercavam, a partir de sua família. Como provedor, tinha o respeito dos seus filhos e da sua esposa dedicada e sempre com o sorriso no rosto – o que fazia com que o clima familiar fosse, na maior parte do tempo, agradável.
Intolerante com aqueles que se omitiam de suas atribuições e impaciente com atrasos, esse homem apresentava um temperamento colérico diante das dificuldades. Uma de suas maiores qualidades era a capacidade para liderar pessoas e delegar funções. Por isso, as situações pareciam estar sempre em seu controle.
Sempre otimista e confiante diante dos desafios, ele fazia o que fosse preciso para conquistar seus objetivos e, assim, cumprir o propósito pelo qual acreditava ter nascido. Porém, seu otimismo por muitas vezes ofuscava a necessidade de autoavaliação quanto – principalmente – à sua saúde física. Suas visitas a médicos eram cada vez mais raras em sua fase pós-quarenta.
Era servidor público na cidade de Belém do estado do Pará – Brasil, onde conquistou admiradores pelo seu exemplo de altruísmo e responsabilidade com seus compromissos. Aos 49 anos de idade (ano em que sua filha caçula nasceu – 1988), se dispôs a abrir uma instituição religiosa juntamente com alguns amigos e, a partir daí, cuidar de pessoas com base nos princípios que aprendeu desde a sua juventude. Era capaz de deixar suas próprias necessidades em segundo plano pelas carências alheias (assim fez muitas vezes) e tais escolhas impactaram muitas pessoas que o viam como louco ou "besta" demais na vida. Esse homem, ciente de suas atitudes, jamais demonstrou arrependimento de tentar proporcionar o melhor para quem precisava de alento.
Era fácil vermos o amor entranhado nos olhos desse servo da sociedade – o que me deu certa inspiração para escrever esses textos que você está lendo.
Contudo, nem tudo foi felicidade na vida desse embaixador do amor. Em 1996, prestes a viajar de carro para visitar uma das suas filiais religiosas, no interior do estado, sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e esse foi o momento de uma nova fase em sua vida.
Após retornar de um coma de nove dias, a sua mobilidade foi afetada e a sua comunicação, por alguns meses, foi por meio de sinais e sons não entendíveis (no início da dor). Ao perceber a sua própria situação, ele chorou por se ver dependente dos outros e fragilizado diante da vida. Um homem que foi provedor de tantas pessoas, agora estava acamado e sem forças para se colocar de pé. Imagino esse momento como um autoconfrontamento, pois os seus sinais demonstravam gratidão, o que me faz concluir que passou a entender, de fato, o significado da palavra "comunhão".
Eu visitava seu quarto todos os dias e passei a estar presente em sua lenta e conturbada recuperação. Com o acompanhamento personalizado de profissionais de saúde e sessões de fisioterapia, ele foi recuperando a fala e os movimentos dos membros, o que possibilitou poder andar. Então, foi perceptível que a sua mente não funcionava mais como antes. As escolhas dentro de casa eram muitas vezes como de uma criança com um sistema emocional facilmente abalável.
Claro que, diante dessa situação, não havia condições dele continuar a frente da instituição que ele fundou, passando a liderança adiante e emancipando as filiais, tornando-as independentes. Eu pude ver que ele fez isso sendo obrigado e com muita dor dentro de si por uma condição de não poder fazer aquilo que mais amava.
A sua cognição passou a trabalhar de maneira diferente, com outras prioridades. Já não era mais aquele homem de antes. O estresse era mais frequente, o medo presente pela vulnerabilidade e – embora essa situação tenha colocado o tempero de união que faltava na família – a sua comunicação com seus filhos estava menos afetiva.
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A TRÍADE DE CRISTO - A verdade em apenas três olhares
SpiritualO que leva as pessoas desejarem ser perdoadas quando percebem que estão em seus últimos momentos? Será um encontro secreto com a morte e um passado de culpa que provocam a última reflexão essencial antes da despedida? Por que o olhar sobre a vida mu...