A CARIDADE RESTRITA
No capítulo anterior, eu pautei uma orientação dada ao povo judeu pelos antigos, na época de Jesus. Tal orientação consistia em cuidar apenas daqueles que eram próximos, ou seja, os das mesmas comunidades.
Olhando por esse ângulo, podemos perceber que o altruísmo se valia apenas entre as pessoas que tinham algo em comum, não aceitando a importância de outras comunidades, as quais eram vistas como estrangeiras.
Tendo algo em comum, a expectativa é de que um cuide do outro; e o fato de fazerem parte da mesma irmandade traz o pressuposto de que ambos merecem o zelo mútuo, pois a convivência torna pessoas que eram distantes em irmãs mais chegadas que as de sua família sanguínea.
Para ressaltar, vamos lembrar um trecho do capítulo anterior:
"(...) ensina que devemos desejar o bem a quem "merece", como se fôssemos juízes para julgarmos alguém que está na linha inferior da moralidade".
Mas, essa mensagem não se adequa ao evangelho aqui abordado. Essa orientação foi repreendida por Jesus, pois ele acreditava que o bem não deveria se limitar apenas aos da mesma comunidade, mas aos que estivessem ao redor.
Seu olhar era imparcial e sem discriminar ninguém pela etnia, estendia a mão a quem precisasse dele.
Você pode afirmar que nos dias atuais, em pleno século XXI, ainda vivemos com esse conceito segregador em nossa sociedade. Se a sua visão contempla essa afirmação, nós estamos tendo a mesma percepção.
A discórdia está cada vez menos compreendida em nosso mundo. Já era tempo de sabermos lidar com conflitos, mas somos egoístas e lutamos pelas nossas necessidades. Olhar para o outro já não é mais o alicerce do ensino e as "paredes sagradas" de nada fazem para que o amor vença a indiferença alheia.
Somos filhos de um sistema preconceituoso que se chama Cristianismo.
Filhos no sentido de que fomos formados sob o olhar da moralidade cristã; filhos no sentido de que uns permanecem onde estão e outros escolhem sair para conhecerem um mundo que não lhes foi apresentado.
O ocidente herdou do período apostólico a caridade restrita.
Por esse motivo, para muitos evangélicos, ainda é estranha a ideia de estender a mão para um umbandista sem que haja a intenção de convertê-lo ao Cristianismo.
Nesse caso, agir em favor de quem frequenta outra comunidade requer a seguinte condição de pensamento:
"Se posso fazer por essa pessoa que não comunga comigo, por que não faço pelos irmãos da minha comunidade?".
Um padrão cognitivo que só mostra a pobreza intelectual de alguém que torna do seu ato caridoso um processo seletivo.
Por que não pensar em caridade e apenas isso? Por que condicioná-la pelo receio de estar traindo uma comunidade quando a caridade – por si só – une ao invés de segregar?
Seriam os interesses de uma irmandade acima da caridade?
Penso que não.
Contudo, a realidade escancarada tem sido outra.
O encontro entre pessoas que se dedicam à caridade precisa ser em nome de uma instituição com sua logomarca estampada nas camisas.
O sistema religioso está ultrapassado e o povo alienado, cada vez mais ignorado.
Tenho a percepção de que quanto mais lotado um templo estiver, mais ignorância é derramada do palco; e quem tem o poder da fala decide pelos que não sabem nem o porquê de suas existências. Para estes, a comunhão se resume em pedaços de pão e um copinho de suco de uva.
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A TRÍADE DE CRISTO - A verdade em apenas três olhares
SpiritualO que leva as pessoas desejarem ser perdoadas quando percebem que estão em seus últimos momentos? Será um encontro secreto com a morte e um passado de culpa que provocam a última reflexão essencial antes da despedida? Por que o olhar sobre a vida mu...