Desabafo silencioso

199 29 40
                                    

lembrando que é a visão da adora.

***************

— Você sabe que eu posso ficar aqui pra sempre né? — Catra repetiu com um sorriso idiota enquanto você tremia de raiva com vontade de quebrar tudo.

— Vá pro inferno felina! Já disse pra ir embora! — Você soltou um gritinho enfurecida apertando ainda mais o passo. Catra revirou os olhos para o céu, pedindo deus mais paciência para não enlouquecer. Estacionou no acostamento e desceu do carro, A estrada estava completamente deserta, nenhuma alma viva passava por ali, ouvisse apenas o baralho do mato dos gritinhos pirracentos que você insistia em dar.

— Adora... — Caminhou até você, segurando seu braço e soltando um suspiro longo e exausto de seus lábios. Você percebeu o olhar preocupado e o ar destruído que ela exalava, você queria se soltar e andar ainda mais rápido, mas por algum motivo você não o fez...

De novo caiu na armadilha Adora?

— Adora eu... Eu de verdade, não sei quantas vezes vou ter que repitir. Ta de madrugada, estamos numa cidade completamente diferente, Por favor, entra no carro, eu te levo. — Ela suplicou com os olhos e a raiva surgiu ainda mais forte por não conseguir fazer nada, afinal, parecia que os deuses e demônios a odiavam.

Recolheu o braço com um puxão forte contra o próprio peito, respirou fundo encarando Catra nos olhos e saiu caminhando ate o carro. Ao perceber que você finalmente havia cedido Felina cantarolou em vitoria dando um soco no ar. Mas que ódio! Por que ela era assim tão... Tão idiota?

O coração acelerou só pela sensação de estar dentro daquele carro novamente, as memórias tropeçaram ao olhar o banco de trás e lembrar das cenas quentes que agora não tinham mais significado lhe trouxe dor. Era a mesma sensação de estar se afogando no fundo do lago sem ter forças para voltar para a superfície; todavia você forçada a arranjar um jeito de se recompor quando Catra sentou no banco do motorista.

— Ta começando a chuviscar, acredita? — Disse ela tentando puxar assunto olhando para um avisinho vermelho que apareceu no painel do carro que ela não fazia ideia do que significava, mas você não a respondeu, estava brava, magoada e sonolenta, definitivamente deveria ter cedido à chantagem de Entrapta, deveria ter ficado em casa, com a sua (agora ex) namorada sentada no sofá e ignorando o mundo e os problemas até que eles sumissem.

Felina percebeu que estava incomodando e se calou, ligando o carro e voltando a dirigir,

Adora, meu bem, não é assim que se resolvem as coisas, no fundo eu sei que você não quer resolver as coisas porque está com medo de se machucar, mas acredita em mim, você já está totalmente arrebentada. Não adianta colocar remendos aleatórios nos lugares errados, ta pior do que antes e você sabe disso, ou melhor, sempre soube.

"Ela nem tentou nada. Eu queria que ela pelo menos tentasse. Ou que sei lá... Me desse uma flor estúpida no dia estúpido que a gente se conheceu.".

"Eu sei que você esta puta, qualquer coisa que eu disser agora vai te ajudar a ficar ainda mais furiosa mas... Nem todo mundo é bom com datas, Adora.".

"Eu entendo, mas... Argh! Pelo menos ela podia não ter vergonha de me assumir. Eu não queria só uma foda, Mara, eu queria ela, queria os resmungos, as noites não dormidas, queria ver ela babando e roncando de noite... Eu queria ela... Mas a Felina sempre quis só uma foda e eu tô cansada disso.".

Uma armadilha Adora. Você sempre cai nas armadilhas da própria cabeça. Por que você saiu de cada mesmo? Foi mesmo pela chantagem da Entrapta ou você estava esperançosa em vê-la? Não tente mentir pra mim, é tão obvio.

A chuva começou a engrossar e a embaçar o para-brisa a qual era constantemente limpado com um paninho aleatório que Felina achou guardado no bolso. Estava começando a ficar preocupando quando percebeu o olhar nervoso de Catra ao olhar a estrada. O limpador do vidro fazia se trabalho, indo e vindo para tentar ajudar a morena que sorriu puramente nervosa quando o carro morreu no meio da estrada com uma chuva extremamente forte.

A morena tentou ligar o carro mais algumas vezes, mas ele se engasgava em si mesmo e morria novamente sem sucesso.

As duas se encararam quando o breu veio automaticamente e você começou a rir alto e de maneira nervosa enquanto felina colocou a mão na cabeça afastando os cabelos dos olhos. A risada foi ficando mais alta e você se encolhia no banco do carro, foi então que a risada se transformou em um choro que estava preso ali a muito tempo.

— Por que quando estamos juntas tudo dá errado? — A pergunta frustrada saiu sem esforços e Catra tentou tocar seu ombro sem saber como lidar com isso, mas você a afastou. Massageou as temporãs enquanto chorava.

Era um desabafo silencioso.

— Preferia ir andando sozinha e pegar uma tempestade sem nenhum abrigo? — Você balançou a cabeça afirmando encarando a outra nos olhos enquanto tricava de raiva. — Me odeia tanto assim? — Ela murmurou sentindo as lagrimas se juntarem no cantos dos olhos.

Você permaneceu em silencio. Tinha resposta, Adora? Sim, você a odiava, a odiava por ser uma arrombada que só pensa em si mesma, a odiava por sempre deixar você confusa e pior ainda, a odiava por não conseguir odiar a Felina.

— Seu celular descarregou? — Você fez outra pergunta tentando fugir da resposta da outra. Catra abaixou o olhar tristonhos e afundou no banco magoada. — O meu morreu.

— Aqui não tem área, mesmo se tivéssemos carga. — Ela respondeu seca olhando pro volante.

— perfeito! — Gritou frustrada jogando a cabeça pra trás limpando as lagrimas com as costas da mão.

Sim, Adora, tudo estava perfeito. Duas pessoas magoadas demais trancadas num carro quebrado no meio da estrada com uma chuva forte de vento atrapalhando tudo. Quer algo melhor que isso?

— Eu vou tentar jogar o carro no acostamento. — Catra disse vazia se ajeitando para abrir o carro.

— Tá doida? Ta relampeando lá fora.

— Tem outra opção? — Ela murmurou seria esperando uma resposta a qual não veio. — Foi o que eu pensei. 

AnagapesiOnde histórias criam vida. Descubra agora