CAPÍTULO 4

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"Viver intensamente não te faz irresponsável, te faz ciente de que a vida tem um prazo de validade"

(Mensagem de John para Liana)

JHONATAN TRIP

QUATRO ANOS ATRÁS:

Essa noite estava sendo uma merda de noite, tivemos uma chamada hoje, uma que envolvia um homem armado e uma criança como sua refém, eu era ruim nessas operações. Eu amava crianças, até meus ossos sentiam isso.

Estávamos todos prontos para a merda sair do controle, eu era bom no que fazia, ótima na verdade. Grandes altas e poucas baixas fizeram minha experiência ser boa. E então estávamos negociando, se eu fechar os olhos posso voltar ao fodido minuto.

Eu tinha o desgraçado na mira de Pietro, bastava que ele fosse um passo para direita, mas então ele puxa uma criança de no máximo dois anos em seus braços e eu caí.

– Senhor, nós vamos dar o que está pedindo, mas deixe a menina ir.

O fodido riu e apontou sua arma na cabeça da menina enquanto barganhava. Ele estava tão fodido.

– Eu tenho sua palavra?

Eu estava firme em minhas palavras, se ela saísse sem nenhum arranhão ele estaria indo vivo a sua cela.

– Me dê a criança e você terá um acordo em menos de um segundo, essa é minha palavra!

Ficamos quase uma hora providenciando o que ele queria porque já não tínhamos mais tempo e então o barulho alto nos fez virar a cabeça para a enorme casa em que ele estava. Um tiro seco e certeiro, meu capitão me deu um olhar, mas eu caí como um desgraçado e entrei na maldita casa, o que vi lá dentro me fez chorar com a maldade humana.

A menina tinha uma bala em seu estômago e sua mãe estava caída morta ao seu lado, o marido da mulher estava sentado no chão e a arma jogada ao lado da criança. Meu coração parou por um segundo, eu estava mudando de profissão hoje porque ele não seria preso, ele seria morto. Apenas por querer atirei em sua perna e o desgraçado ficou no chão chorando.

– Uma ambulância, criança de dois anos baleada.

Segurei aquele pequeno corpo em meus braços e implorei a um Deus por misericórdia, implorei a um Deus pela sua bondade, implorei pela vida dela como se ela fosse minha!

Minhas mãos tremiam e lágrimas queriam descer dos meus olhos.

Agora não, eu repetia pra mim mesmo, não desabei... eu não desabei quando os paramédicos chegaram e tomaram seu pequeno corpo de mim, ou quando eles gritavam estado grave era a situação... eu não desabei quando eles começaram a lutar pela vida dela, não desabei quando tudo ficou em silêncio, mas eu sabia que iria cair.

Eu segurei a onda, me mantive forte sério e me deixei ter esperança quando o primeiro grito soou....

Tenho pulso.

Apenas duas palavras, e eu me agarrei nelas.. Eu a acompanhei até o hospital, eu fiquei do seu lado por toda a maldita coisa, era tudo rápido demais, doloroso demais, uma pequena menina lutando pra manter sua vida, isso nunca deveria ter que acontecer.

Viva menina, por favor viva... uma pequena vida de dois anos em um leito fazendo uma cirurgia de emergência no estômago, e eu ainda não tinha desabado, ainda não... mas eu caí, principalmente quando no fim as palavras do médico foram.

Preto Fosco - Livro 3 - DESCENDENTS OF THE DEVILOnde histórias criam vida. Descubra agora